terça-feira, 9 de junho de 2009

o cinema etílico de Petter Baiestorf - por cleiner micceno



petter baiestorf - cineasta underground

Petter Baiestorf é um ícone do underground brasileiro, é diretor , produtor, roteirista e ator. É a prova viva que é possível fazer cinema com pouco dinheiro, manter uma produção continua e fazer sua própria distribuição. Nesse sistema DO IT YOURSELF, Petter Baiestorf , que mora em uma cidade minúscula ( e improvável ) de Santa Catarina, chamada PALMITOS, tem uma produção invejável com mais 30 filmes, entre curtas, medias e longas. Desde que começou a fazer seus primeiros projetos, com câmeras simples de VHS no começo dos anos 90, foi desenvolvendo uma obra considerável e diversificada que transita por vários gêneros. Baiestorf tem um estilo agressivo e irônico, com influência de filmes de terror extremos, cinema experimental e surrealista, seus filmes são reflexos de seus gostos musicais e filosófico.
Anarquista, ateu, vegetariano e dono de um humor acido e etílico, incomoda os moralistas e é festejado por pessoas que entendem o que ele quer dizer com seus filmes baratos e divertidos.
O trabalho de Petter, ganha cada vez mais notoriedade e é citado por diversos autores nacionais. Hoje já é possível ver seus filmes em diversos festivais e mostras importantes por todo País.
Baiestorf vem Arrebanhando cada vez mais fãs, e o diretor esta longe de se acomodar e ainda continua em ritmo acelerado com suas novas produções, a cada filme ele testa ao extremo suas possibilidades.




equipe canibal - cesar souza, gurcius e petter

CM- Fale um pouco de sua trajetória Petter, o que levou você a fazer filmes em um local improvável como palmitos em s c?
PB- Não acho que seja improvável fazer filmes em Palmitos. Talvez tão improvável quanto fazer filmes fora do eixo Rio-São Paulo. Nos dias de hoje é bobeira você ficar restrito às grandes cidades. Um filme produzido em São Paulo muita vezes faz um público de 5000 pessoas que é mais ou menos o número de público que assiste minhas produções sem qualquer tipo de marketing que não seja o boca a boca. A maneira de se chegar ao público mudou e tento me manter atualizado, sempre buscando novas maneiras de fazer meus filmes serem vistos. Comecei a fazer filmes aqui em Palmitos em 1992 e, falando em filmes independentes radicais brasileiros, são produções que sempre encontraram seu público. Inclusive neste ano rolou uma retrospectiva de seis dias com uma seleção de meus filmes mais significativos na Mostra do Filme Livre do Rio de Janeiro com lotação de público todos os dias. O primeiro filme que fiz que rodou todo o Brasil foi o longa “O Monstro Legume do Espaço” (1995), foi exibido em várias mostras de cultura underground, vendeu mais de mil fitas VHS e deu o suporte que eu precisava para fazer filmes cada vez mais radicais. “Eles Comem Sua Carne” (1996), “Blerghhh!!!” (1996), “Zombio” (1999), “Raiva” (2001), “Cerveja Atômica” (2003), “A Curtição do Avacalho” (2006), “Arrombada” (2007) e o último, “Vadias do Sexo Sangrento” (2008), foram todas produções lucrativas e que tiveram uma distribuição independente direcionada ao mundo do underground musical onde minhas produções recebem uma acolhida digna de obras cults. Acho que por serem obras vindas de uma cidadezinha do interior de Santa Catarina, que é um estado sem tradição cinematográfica nenhuma, já os torna obras meio curiosas.

CM - Seus filmes sempre versam sobre sexo, escatologia, terror , de onde vem sua inspiração? em que estilo se encaixariam seus filmes?
PB- Acho que sou um dos únicos produtores de exploitation movies que restou no Brasil. Meus filmes exploram temas muitas vezes ligados a violência, só que como não gosto de violência pura e crua, encho meus roteiros de humor, demências e absurdos. Talvez desta mistura, pouco usada nos filmes brasileiros que venha o interesse do público pelas minhas produções. Acho que meus filmes se encaixam no, como definiu o cineasta Christian Caselli, estilo Baiestorfiano. Não fico preso à regras de gêneros, nem narrativos, nem estéticos. Acho que os filmes precisam ser repensados e é isso que tento fazer. Não tenho o menor interesse em fazer filmes bonitinhos, comportadinhos. Minha inspiração vem da vida, do dia a dia, dos noticiários da TV, das coisas que vejo. Pego este material e exagero ele. Só isso,algo tão simples que todos poderiam estar fazendo o mesmo em seus quintais.

CM - Você tem parcerias ai pra ajudar seus filmes , como vcs criaram essas parcerias?
PB- Cada produção é uma nova história. Estou sempre começando do Zero. Aliás, adoro começar sempre do zero, não gosto de ter a falsa impressão de ter aprendido algo com a idade. Desde 2005 fechei parceria de co-produção com a Bulhorgia Produções do Gurcius Gewdner. Agora, para os relançamentos de meus filmes antigos em DVD estou mantendo parceria com a Cauterized Productions que é um selo de música extrema do Rio Grande do Sul. Quando se é um nanico tu precisa de parceiros financeiros prá sua produção continuar.

CM- o que é KANIBARU SINEMA?
PB- Vou resumir de uma forma direta que nunca resumi antes: O Kanibaru Sinema é você parar de reclamar e fazer sua própria produção, independente de ser um filme, música ou qualquer outra expressão artística. É você arregaçar as mangas e criar qualquer coisa com o que você dispõe de mais barato: sua criatividade.

CM-Como você vê o cinema nacional hoje e quem são seus diretores nacionais q você respeita?
PB- Tenho achado que tem surgido muitos cineastas novos, independentes, bons. Tenho visto muito curtas-metragens excelentes e que não custaram quase nada para serem feitos. Diretores nacionais? Sou mais pelo pessoal estilo Tony Vieira, que fazia seus filmes com grana própria e distribuía esses mesmos filmes pelo interior do Brasil. Quero ser o novo Tony Vieira do Brasil.

CM-Qual seu filme de maior sucesso?
PB- Minha produção que mais deu grana foi “Zombio” (1999) seguido de perto de produções como “O Monstro Legume do Espaço” (1995) e“Arrombada – Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!” (2007). O filme novo, “Vadias do Sexo Sangrento” (2008) já está dando lucro e vai render bem. “Zombio” é meu filme mais comercial,o fiz pra pegar um público mais adolescente que não pode assistir às sessões de meus filmes mais pesados. “Raiva” (2001) também é mais comercial e rendeu uma grana esperta, mas gastei mais na produção. Depois de 2001 fiquei produzindo quase que só filmes experimentais carregados de muito sexo. Estou pensando que talvez seja a hora de voltar a produzir alguns filmes com apelo mais popular porque me divirto bastante produzindo eles. De 2001 até 2006 fiz produções que não estavam preocupadas com o retorno comercial, queria experimentar novas formas narrativas. De 2007 em diante voltei a pensar em como produzir filmes de baixíssimo orçamento que poderiam ser lucrativos e estou ainda testando isso. Não fiquem surpresos se de uma hora pra outra eu surgir com algum filme de teor bem popular no estilo dos filmes de Mazzaropi ou Teixeirinha.

CM - E musica? sei que você tem uma relação estreita com as musicas que você usa nos seus filmes, quais seus gêneros musicais preferidos e em q eles influenciam em seus filmes?
PB- Eu sou um fanático pelo gore-grind, é o estilo musical que escuto em casa e sou amigo de quase todas as bandas brasileiras do gênero. Sou influenciado por este subgênero musical e as bandas do estilo são influenciadas pelos meus filmes. O grindcore político também me interessa muito. Crust é outro estilo que tenho prazer ouvindo. Mas nos meus filmes costumo colocar todo tipo de som, principalmente de bandas independentes, underground, pouco conhecidas.

CM - Fale sobre suas influências e quais seus filmes e diretores preferidos?
PB- Sou influenciado por caras como Koji Wakamatsu, Ted V. Mikels, Jesus Franco e outros produtores underground. Nem vou ficar listando aqui os nomes de vários diretores que admiro porque, a maioria do pessoal acaba não conhecendo a obra de caras como Dusan Makavejev, Jan Svankmajer, Vera Chytilóva, Fernando Arrabal, Goerge Kuchar e outros que são minha influência. Acho que dos mais conhecidos que me influenciam são Russ Meyer e John Waters (filmes antigos dele).



com cesar souza amizade e parceria de longa data

CM- Como é sobreviver fazendo filmes no Brasil, quais são suas maiores dificuldades? Você tem problemas com censura,como é a aceitação de seus filmes?
PB- A maior dificuldade no Brasil ainda é a distribuição. Censura não tem tanto, não me acho prejudicado por censura. Agora, distribuição é algo que precisa ser repensado, principalmente entre os independentes. Tenho tentado várias parcerias em todas as regiões do Brasil e geralmente esbarra na falta de visão dos envolvidos. Faço a distribuição de meus filmes pela minha produtora mesmo mas ainda não tenho suporte financeiro pra fazer tudo como deveria ser. Meus filmes são lucrativos, mas como uma distribuição feita direito, seriam muito lucrativos. O problema maior no Brasil é que cinema virou diversão de uma elite, os filmes são feitos pensando na classe-média alta brasileira, a distribuição também é feita direcionada à classe-média brasileira. Temos que voltar a ter cinema popular, ingressos à 3 reais, cinco reais e fazer os filmes lotarem cinemas de bairro ou interior novamente. Não vou entrar em detalhes sobre isso, mesmo porque quando eu re-editar meu livro “Manifesto Canibal” (Ed Achiamé, 2004, esgotado) vou dedicar todo um novo capítulo às questões da distribuição de filmes no Brasil.

CM - Quais são seus últimos trabalhos e quais projetos que esta trabalhando atualmente?
PB- Meus últimos trabalhos que tiveram uma distribuição boa foram “Arrombada” (2007) e o “Vadias do Sexo Sangrento” (2008). Mas tenho uma produção muito grande, simultâneo a esses dois filmes, fiz vários curtas experimentais como “Que Buceta do Caralho, Pobre Só se Fode!!!” (2007) “O Nobre Deputado Sanguessuga” (2007), “Manifesto Canibal – O Filme” (2007) e “Encarnación Del Tinhoso” (2009). Agora estou trabalhando na pré-produção do meu novo filme que se chamará “Ninguém Deve Morrer”, um Faroeste Musical Gore.

CM- o que vc diria pra quem quer enveredar pelo caminho do cinema ?
PB- Não roube dinheiro público na sua produção e não fique só reclamando. Se possível faça somente filmes independentes com sua própria grana.

perguntas rápidas

uma mulher: Anna Falchi.
um filme: “Yuke, Yuke, Nidome no Shojo”.
um diretor: George Kuchar.
qual filme vc gostaria de ter feito: “Fuk Fuk à Brasileira”.
fala uma coisa qualquer ai : Seja autêntico.


Entrevista feita com Petter Baiestorf 06 de junho de 2009 por cleiner micceno


encarnácion del tinhoso por petter baiestorf

Nenhum comentário:

Postar um comentário

allefuckinglluiah