sábado, 6 de junho de 2009
david gilmour - autor de o clube do filme
texto roubado da net
Autor de 'O Clube do Filme' explica seu processo de criação
David Gilmour assume que teve momentos de dúvida. Houve noites em que, deitado na cama, não conseguia conciliar o sono, pensando se estaria fazendo a coisa certa ou se, ao contrário, não estaria sendo irresponsável, a estragar a própria vida e a do filho? O que Gilmour não sabia é que, ao criar o clube do filme, estava lançando os fundamentos do que seria seu maior êxito editorial e, mais importante, ajudando a traçar um futuro para Jesse. É bom esclarecer quem são essas pessoas.
David Gilmour, crítico e escritor canadense, é autor de "O Clube do Filme", e Jesse é seu filho. O garoto, aos 15 anos, era rebelde, como costumam ser os adolescentes. David, que atravessava mau período, sem trabalho fixo, sentia que estava a ponto de perdê-lo. Jesse não queria saber de escola e, como filho único, preferia se isolar. Foi quando David lhe fez a proposta que outros pais, mais convencionais, poderão até achar indecente.
David disse ao garoto que, se não gostava da escola, ele poderia abandoná-la. Mas teria de aceitar uma educação alternativa. Já que o pai era crítico de cinema, ex-crítico, eles iam fundar o Clube do Filme, assistir a três filmes por semana (clássicos, modernos, de diferentes procedências) e iriam conversar, obrigatoriamente, durante algumas horas, após cada projeção. O garoto topou. Começou o que talvez seja sonho de todo pai. A possibilidade de ter uma conversa franca, aberta, com o filho, neste caso midiatizada pelo cinema. Em geral, por mais calorosa que seja a relação familiar, há coisas que os filhos, principalmente na adolescência, preferem debater com os amigos.
Anos mais tarde, partiu de Jesse Gilmour a sugestão para que David escrevesse um livro relatando a experiência de ambos. David Gilmour escreveu "O Clube do Filme", que sai agora no Brasil (pela Intrínseca, 239 páginas, R$ 24,90). O sucesso foi tão grande que o pai resolveu destinar ao filho o valor de 25% das vendas - afinal, a ideia foi do garoto. Mas o que o enche de alegria é o que revela ao repórter, na conversa por telefone. O clube do filme deu um rumo à vida de Jesse e ele agora dá seus primeiros passos no cinema, como ator e roteirista Um final feliz, como Hollywood gosta de mostrar.
P - Como o cinema surgiu em sua vida?
David Gilmour - Eu via filmes como todo mundo, mas tive a revelação em 1972, quando assisti a "Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci. O filme me marcou tanto que resolvi, instantaneamente, que queria ser ator. Sou canadense, mas fui para Nova York, em busca de uma carreira. Não deu certo, porque era muito ruim como ator, mas a paixão pelo cinema continuou e consegui um trabalho como crítico no Canadá.
P - E o filme de Bertolucci, continua uma paixão?
David Gilmour - "Último Tango" foi importante para mim, num determinado momento, como obra de descoberta. Aliás, dupla descoberta. Me descobri e descobri o cinema, mas a obra, embora lindamente filmada, possui seus limites. Há um lado infantil muito forte em "Último Tango" e toda a parte com Jean-Pierre Léaud e aquela câmera me parece hoje constrangedora. Em compensação, os solilóquios de Marlon Brando continuam sendo, talvez, os mergulhos mais profundos de um ator na complexidade da natureza humana. Quando Brando está ali no chão e fala sobre a vida, a morte para Marie Schneider, como se estivesse sozinho, não creio que alguma vez o cinema tenha atingido, antes ou depois, aquela intensidade.
P - O propósito do clube não era didático, era?
David Gilmour - Não, porque o didatismo seria um retorno à escola, que Jesse não queria encarar. Os filmes podiam ser bons ou ruins, não importa, o importante era a qualidade da nossa conversa. Mas acredito que consegui lhe inculcar alguma coisa. Quando lhe mostrei "Ran", de Akira Kurosawa, deixei claro que ele poderia gostar, ou não, mas aquele é um filme que faz a diferença. A arte, e o cinema, fazem bem para a alma. Em compensação, errei ao lhe mostrar "Os Incompreendidos". Ele não estava preparado para o cinema europeu e só conseguiu gostar do filme de (François) Truffaut mais tarde.
P - Você tem um filme, ou filmes, favoritos?
David Gilmour - Os dois primeiros "Chefões". Com eles, Francis Ford Coppola atingiu a perfeição da arte de narrar no cinema. Depois, tenho a impressão que a tragédia de sua vida, a morte do filho, se refletiu na obra e ele nunca mais fez nada tão marcante.
P - Se você tivesse me dito isso há um mês eu concordaria, mas assisti no festival de Cannes ao novo Coppola, "Tetro", e é o melhor filme dele em anos. "Tetro" foi feito na Argentina e trata da relação entre pai e filho, trata de luto, um filho que enterra o pai e outro que assume a sua paternidade. É maravilhoso...
David Gilmour - Fico muito contente de ouvir isso e já acredito, antecipadamente, que possa ser verdade, porque os temas do luto, da relação entre pai e filho, podem ter permitido a Coppola exorcizar a dor de sua perda. Como pai, sempre fui muito sensível à sua amargura, mesmo que não me satisfizesse como artista. Será gratificante vê-lo ressurgir.(
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esse não é o David Gilmour do Pink floyd é?
ResponderExcluirnão esse é o escritor e critico de cinema apesar do nome nada ver com o pink floyd hehehee
ResponderExcluirhhahhahahahaha nda a ver com o PF não, muito bom o livro.
ResponderExcluirGostei da matéria. O livro é sensacional. De uma sensibilidade marcante. Realmente uma lição de como é importante estar atento às necessidades das pessoas e de como o cinema pode ser definitivo na educação. Amei!
ResponderExcluirO livro se destaca pelas citações diversas de filmes que marcaram décadas, desde Cidadão Kane (1941) a Sexy Beast (2002), com filmes bombas até aos magníficos. Servindo então como um pano de fundo para a relação entre os dois.
ResponderExcluirUm livro que deve ser lido e assistido mútuamente.
Galera, vou bancar o chato aqui e remar contra a maré. Pois achei este livro bem fraquinho. Tem algumas curiosidades do mundo do cinema e talvez possibilite descobrir um filme ou outro. Mas quando descamba para a relação do pai fracassado e do filho mimado...pqp! E a prosa do cara também não é grandes coisas... e não acho que seja a tradução.
ResponderExcluirAbraço a todos.
Estou delirando com o livro...Queria eu ter um amigo, pai, o que fosse pra me possibilitar dias assim, onde se ver um bom filme e sabe-se tirar, mostrar o melhor dele...
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