Tendo sido por muito tempo relegado a um papel secundário, em favor do cinema autoral, o roteirista passou a receber maior atenção no Brasil após a chamada “retomada”, em meados dos anos 90. Hoje, a classe já se encontra mais bem organizada e consequentemente a luta pela valorização do roteiro também é maior. “O básico que se tem que ter para fazer um filme é um bom roteiro. Tendo isso, no mínimo um filme médio você consegue”, afirmou Newton Cannito, roteirista e membro da Associação de Roteiristas de Cinema, TV e Outras Mídias (AR). No entanto, o apoio governamental e de fontes privados a esse setor ainda é extremamente escasso, consistindo em um único concurso de apoio ao desenvolvimento de roteiros, oferecido pelo MinC. Em todos os outros editais e fontes de investimento, a verba depende da existência de um texto já concluído. “No Brasil ainda não temos essa cultura de desenvolvimento de roteiro”, completa Cannito.
Outro problema, identificado pelo roteirista Aleksei Abib, é o fato de que após a retomada, o cinema nacional passou a conviver com duas tradições distintas, a do cinema autoral, herança do Cinema Novo, e a do cinema “de indústria”, onde predomina o trabalho e a criação em equipe. Aleksei afirma que nenhum desses modelos é melhor do que o outro, mas ressalta que eles não podem ser confundidos e misturados. “Seria muito favorável ao nosso cinema se entendêssemos as regras de cada uma dessas tradições. O problema é que muitas vezes queremos trabalhar em uma delas usando as regras da outra”.
Já o presidente da AC, David França Mendes, adotou um discurso antagônico, defendendo que a culpa pela situação do roteiro no país não pode mais ser jogada nas costas do cinema autoral. “Já migramos há muito tempo de um modelo para outro. Hoje todo mundo entende que o roteiro é importante e que é preciso contratar roteiristas”. Segundo David, o grande entrave está no fato de que o modelo atual não funciona da forma como deveria, devido à falta de preparo dos diretores e produtores para lidar com os roteiros que recebem. Isso acaba, então, levando à danificação do trabalho dos autores ao longo da cadeia produtiva dos filmes. “Migramos do cinema autoral para o ignorante”, alfineta David. “Não dá nem para avaliar a qualidade dos roteiros, porque o vemos na tela passou antes por um liquidificador e um pente fino de mediocridade chocantes”.
Aos poucos, no entanto, a classe dos roteiristas, apoiada por suas associações, começa a se organizar na defesa de seus direitos e interesses. A criação de modelos de contrato pela AC, por exemplo, é um instrumento importante para garantir que o trabalho dos autores será respeitado na relação profissional com diretores e produtores. Os contratos servem inclusive para estabelecer acordos que assegurem ao roteirista os devidos créditos no produto final. “Estamos aos poucos tentando organizar um mundo que era caótico, onde não havia regras”, explica o roteirista Di Moretti, membro da AC. “Eventos como o Fórum de Produção e outros promovidos pela AC e pela AR acabam também fazendo parte desse processo”.
O Fórum de Produção de Cinema é organizado pela Revista de CINEMA, em parceria com o Senac. O evento contará com quatro mesas de debate, onde serão abordados temas relacionados ao roteiro de cinema, televisão e novas mídias. As inscrições podem ser feitas através do site http://www1.sp.senac.br/
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