quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Pale blue eyes

Pale blue eyes


No apartamento ao lado ele ouviu um barulho semelhante a uma furadeira, um som abafado e algumas marteladas, o vizinho tinha mudado a pouco e aparecia as vezes, era soturno e calado, um senhor idoso gordo e alto de olhos vividos e azuis muito frios, com poucos fios de cabelo branco que rodeavam sua cabeça calva. O barulho começara naquela manhã, muito cedo, péssima hora pra ele começar uma reforma ou seja la o que ele estivesse aprontando, depois de quatro horas insistentes de barulho ininterrupto tudo cessa, mas ainda era possível ouvir alguns murmúrios na parede contígua, como se duas pessoas conversassem, uma voz era muito baixa e contida, a outra não passava de um sussurrar abafado.

Walter só tentava cochilar um pouco, seu trabalho de vigia noturno em uma repartição pública havia terminado às seis horas da manhã e o barulho não o deixava dormir. Deu graças no momento que havia terminado.

Depois de conseguir dormir por uma hora, acordou sobressaltado com mais uma saraivada de barulhos, agora sons ocos, como pancadas em algo mole, e mais barulhos de furadeira - Maldito velho desgraçado!- Falou em voz baixa, cobriu a cabeça com um travesseiro. O martírio durou a tarde toda, perto das cinco horas cessou de vez, ouvia-se apenas umas poucas movimentações, o barulho de ferramentas e um farfalhar de algo sendo embrulhado. Após isso silêncio total.

Já era tarde, Walter teria que sair logo, para mais uma noite, que, sem ter dormido, seria muito longa.

Olhou-se no espelho do banheiro, suas olheiras estavam imensas, sentia seu corpo todo doendo, assim como sua cabeça. Comeu algo apressadamente e saiu para pegar seu ônibus.

No outro dia , às pressas, assim que deu seu horário, bateu seu ponto e correu porta a fora. Como havia previsto, foi uma noite terrível, cochilou varias vezes, tomou quase dois litros de café e tinha fumado dois maços de cigarro para manter-se acordado.

Depois de um longo percurso, chegou finalmente em casa, deitou-se na cama com roupa e tudo, apenas teve tempo de retirar os sapatos. Dormiu durante o dia todo, quase não acordou a tempo de sair outra vez para trabalhar. - Isso não é vida! – Disse em voz alta para si mesmo, sua situação era bastante frustrante, sua rotina era algo que se poderia chamar de monótona, muito monótona. Walter arrumou-se , pegou suas chaves e saiu, cruzou com o vizinho que o fez ficar o dia todo acordado no dia anterior na porta ao lado da sua, o velho estava carregando uma mala enorme que parecia ser feita de couro muito grosso. Ele olhou para o velho, pensou em dizer alguma coisa sobre os barulhos que o fizeram ficar desperto o dia todo, mas ao cruzar o olhar frio e pouco amistoso do velhote, se limitou a dar um aceno de cabeça, ao qual o velho apesar de seu olhar, respondeu com uma voz suave. – Boa noite. - com um carregado sotaque estrangeiro. Walter entrou no elevador e fez menção de segurar a porta até o homem se deslocar com sua mala, o velho fez um sinal para ele descer, assim que a porta do elevador foi se fechando, ele viu o sujeito começar a puxar sua mala em direção a escada, uma atitude estranha, já que ali era o nono andar e a mala parecia pesada. Saiu pensando sobre isso, mas durante a noite esqueceu completamente o assunto.

Duas semanas se passaram sem ouvir nenhum barulho do lado, nem reformas ou qualquer outra coisa, o velho nunca mais cruzou com ele em nenhum dia, melhor assim aqueles olhos azuis o deixaram amedrontado.

La pelas quatro da tarde, ouviu movimentação do outro lado da parede, de novo a furadeira, marteladas, e alguns gritos sufocados, que logo cessaram, isso chamou a atenção de Walter, que como seu trabalho era sempre estar alerta, achou aquilo estranho, os barulhos continuaram, mas agora eram apenas sons de serras e barulho de coisas caindo. Walter estava intrigado, alguma coisa não estava certa, foi assistir tv e tentou esquecer do caso. - Deve ter martelado os próprios dedos ou se ferido com uma serra, velho imbecil! – pensou isso enquanto comia um saco de salgadinhos sabor bacon e um copo de whisky sem gelo, deixou pra lá, afinal estava na véspera de seu dia de folga ele queria apenas descansar.

Os barulhos cessaram completamente por volta das nove horas da noite, e dessa vez eram baixos e já não incomodavam tanto quanto a primeira vez. Depois de assistir um filme ruim sobre um garoto em uma bolha, foi dormir, pensando no outro dia, que se tivesse sorte conseguiria sexo fácil com aquela amiga que vivia o convidando pra sair. Deitou-se por volta de uma da manhã. Algo caindo no chão, emitindo um som abafado , atravessou a parede, que o fez acordar de sobressalto. Ficou quieto, pra ver se era real ou algum sonho estranho, ouviu de novo, no apartamento ao lado, um som surdo de algo grande despencando, levantou-se e foi até a parede pra ouvir melhor, ouviu um sussurro provavelmente um xingamento, em uma língua que ele achou ser alemão. Pouco depois ouviu a porta da frente de seu vizinho se abrindo, foi até a entrada, tentou olhar pelo visor da porta, só conseguia ver um pedaço do terno escuro do velho que aparecia de relance, até que ele apareceu inteiro na porta e era possível ver a grande mala que ele tinha saído naquele dia fatídico, há duas semanas. Viu o velho olhar para os lados, puxar a grande mala em direção as escadas. Isso fez Walter correr até o quarto colocar uma calça e sair pela porta a fora, decidiu que iria saber o que estava acontecendo. Afastou-se do apartamento e desceu devagar pelas escadarias, não queria ser notado, viu o velho dois andares a baixo, puxando a grande mala com muito esforço, e parando para limpar o suor do rosto com um lenço.

Ele seguiu com a carga até o subsolo, onde ficava a garagem do edifício, o observou seguindo por uma parede, sempre atento se havia alguém, parou em frente de uma van preta, sem janelas na parte de trás, abriu a porta lateral e lançou sem nenhum cuidado, a mala no seu interior. Embarcou , acendeu um cigarro, saiu devagar pelo portão afora, Walter não dormiu aquela noite.

Agiu como se estivesse trabalhando, ficou a noite inteira próximo à porta esperando o regresso do velho. Caiu no sono la pelas sete da manha e nada, foi para a cama, cochilou mais umas duas horas, acordou e saiu, para encontrar a sua amiga.

Voltou para a casa não eram nem três da tarde, seu encontro tinha sido um desastre total, ficou pensando no velho e na mala durante todo encontro, e nem a transa ele tinha conseguido, não conseguia se concentrar e achou melhor voltar pra casa, mesmo com os protestos dela, mais duas semanas, no mínimo sem sexo, esse pensamento o deixou ainda mais irritado pela sua própria estupidez. Fez um lanche rápido comeu sem vontade, tomou café acendeu um cigarro e decidiu dar uma checada no apartamento do lado. Primeiro colou o ouvido na parede, nenhum barulho aparente – Filho da puta! – sussurrou , saiu e olhou para os lados ninguém no corredor, foi até a porta do velho, tentou olhar pelo visor e ver se conseguia divisar algo dentro do apartamento, ficou olhando, e só conseguia ver uma parede branca, ouviu a porta do elevador abrindo atrás de si, saiu rápido e fez que abria seu próprio apartamento, eram apenas os vizinhos da frente. Será que eles não ouviram nada?Entrou outra vez, tomou mais um copo de café, estava decidido a saber o que estava acontecendo. Passaram-se mais uns dias, nada do velho, sua rotina tinha voltado ao normal, mas o pensamento que estava acontecendo algo estranho ainda o assaltava durante a noite, enquanto estava entediado em suas rondas noturnas. - E se ele fosse algum psicopata?, um assassino? ou qualquer outra coisa? - Igual ao que ele havia visto num filme do Hitchcock, ele precisava saber e informar a polícia, mas tinha que ter alguma prova, algo palpável para denunciá-lo sem parecer um idiota caso não houvesse nada demais e o velho só fosse um cara esquisito.

Já fazia duas semanas depois do ocorrido, nenhum barulho e nem sinal do velho, Walter assistia todos noticiários e lia todos jornais para ver se havia alguma nota sobre desaparecimentos ou qualquer coisa que pudesse indicar o que estava acontecendo, e nada, literalmente nada fora do normal, nas noticias que viu.

Estava sentado na cozinha perdido em seus pensamentos, vendo um programa de esportes, quando ouve a porta se abrir no apartamento do velho, seu coração disparou, ele colou os ouvidos na parede e ouviu conversa do lado, como sempre ele só ouvia murmúrios, resolveu ir até a porta e pedir algo, e tentaria ver no interior dos aposentos. Saiu com passos largos , abriu a porta respirou fundo, tentou olhar pelo visor e não conseguia ver nada alem da parede, resolveu tocar a campainha. Passaram-se uns segundos, passos se aproximaram e abriram apenas uma fresta da porta, os olhos azuis apareceram e olharam Walter de cima a baixo, e sua voz suave perguntou – O que deseja ? – Com o forte sotaque aparente. – Ola sou seu vizinho, já nos cruzamos algumas vezes aqui...- sua fala foi cortada pelo velho – Ya , sei quem o senhor ser, meu nome é Udo, em que posso ajudar , senhor...- Walter – disse emendando rapidamente o vigia, - Só queria ver se o senhor tem pregos para emprestar, estou querendo colocar um quadro... Acabaram os pregos e como ouvi barulhos de reforma, imaginei que o senhor pudesse me emprestar alguns ... – O velho nem ouviu toda explicação e disse – Desculpe senhor Walter mas non tenho pregos, infelizmente... Passar bem que tenho muitas coisas para fazer, boa tarde. - E a porta se fechou sem maiores cerimônias.

Walter voltou ao seu apartamento – Pregos,onde eu estava com a cabeça, Pregos, que merda de idéia seu estúpido- Entrou falando para si mesmo em voz baixa.

Naquele dia os barulhos foram abafados e insistentes até muito tarde, cessaram de vez no meio da madrugada. O velho saiu com a mala, sozinho de novo, fez o mesmo percurso pelas escadas e tomava sua van preta, deixando um Walter escondido na penumbra do estacionamento cada vez mais curioso.

Ele acordou no outro dia e pensou sobre a freqüência das idas do velho ao apartamento que estavam se tornando cada vez mais esporádicas, o velhote não parecia que morava ali do lado, mas aparecia de vez em quando pra fazer alguma coisa, isso o deixou ainda mais intrigado e mais uma vez havia sido no dia de sua folga, sua amiga teria de esperar um pouco mais e ele um pouco mais por sexo, desistiu de ir vê-la naquela tarde, alegou que estava com febre e resolveu que iria entrar na casa do velho. - Ele não vai voltar tão cedo, então, irei acabar de vez com essa merda toda – Merda essa que estava fazendo ele virar um zumbi. Ele foi até a porta do lado, analisou a fechadura, era igual a sua, voltou até sua casa, pegou algumas ferramentas, tinha aprendido a abrir portas por causa da profissão. Repassou sua idéia varias vezes, iria entrar, e revistar a casa sem levantar suspeitas, e sairia de la tão depressa quanto fosse possível.

La pelas onze da noite, aproveitando a calmaria, resolveu por seu plano a prova, saiu sorrateiramente de seu apartamento, sem fazer barulho, colocou a ferramenta dentro da fechadura, abriu e entrou. Ainda na escuridão trancou a porta por precaução, caminhou pelo corredor, acendeu a luz da sala, entre os poucos moveis viu a janela coberta por cortinas grandes e grossas de plástico preto, na sala toda existia apenas uma cadeira de dentista, e plástico cobrindo todo o chão, uma imagem assustadora para uma sala, uma pequena mesa e uma pilha de jornais velhos.

Walter foi até o quarto que estava fechado ao abrir a porta, acendeu as luzes e viu dentro do aposento, uma prateleira com várias ferramentas, todas provavelmente usadas por dentistas e médicos, martelos cirúrgicos, serras e uma furadeira, uma cena horripilante para ele que sempre teve medo de dentistas. Procurou por sinais de sangue, não encontrou nada, simplesmente não havia nenhuma marca, nenhuma mancha, nada, só um lugar excessivamente limpo e organizado. Foi até o banheiro, tudo branco, extremamente limpo, sem sinal de algo estranho.

Fechou a porta e foi até a cozinha, onde havia apenas uma geladeira e um fogão, procurou por tudo, nada como no resto da casa, ao abrir a geladeira se depara com um pacote, um embrulho em plástico preto, como um saco de lixo, pegou e abriu com cuidado, assim que o desfez, Walter quase vomitou, na sacola estavam vários dentes, com pedaços de carne ainda grudados em suas raízes, devia ter pelo menos uma centena deles ali, horrorizado quase vomitando, fechou o pacote e colocou no mesmo lugar. Ele precisava sair dali e conversar com alguém sobre aquilo, saiu da cozinha atordoado, quando ouviu um virar de chaves na porta de entrada, seu coração quase parou de bater, desligou a luz e entrou no banheiro, ficou la encolhido, com respiração muito leve, tentando observar pela porta, estava petrificado de medo sem saber o que faria se fosse descoberto.

O velho entrou e com ele tinha alguém, parecia um bêbado de rua, já bastante alcoolizado, os olhos azuis tinham um brilho glacial. Udo ou seja la qual fosse seu nome, conversava com sua voz suave com o bêbado, falando que logo ele teria sua bebida, - Sente-se no cadeira ali – Disse apontando para a cadeira de dentista, o bêbado murmurou qualquer coisa e sentou-se – Isso é de dentista doutor – disse o bêbado – É que eu não ter muitos móveis aqui ainda, pode sentar-se ai, que já levo seu bebida- o bêbado não só sentou-se como se deitou de forma displicente.

Udo saiu da cozinha com um pano em uma mão e uma garrafa na outra, chegou por trás e colocou com força o pano no nariz do homem que se debateu por alguns segundos e logo ficou inconsciente, o velho colocou a garrafa do lado, de clorofórmio provavelmente, abriu a mala grande e de la tirou uma máscara, um par de luvas cirúrgicas, uma capa de chuva transparente foi até a cozinha, e voltou vestido com a capa e as luvas, passou pela porta do banheiro, Walter tentou se esconder, mas não foi preciso, ele passou sem olhar para o banheiro, foi direto até o quarto da prateleira de ferramentas, trouxe consigo algumas coisas metálicas, umas serras e umas faixas, que foram usadas pra prender os braços e pernas do homem na cadeira. Colocou uma trava que mantinha a boca do infeliz aberta, um fórceps ou algo assim que mantinha o maxilar horrivelmente escancarado. Udo com seu olhar quase entediado, começou a bater no rosto do bêbado agora todo imobilizado, fazendo-o acordar, os olhos do homem abriram e depois de uns instantes, foram tomados por terror, quando o velho começou a falar de forma bem pausada e sussurrante, - Agora você ter que ficar quietinho, que doutor ter que fazer uma pequena extraccion de algumas dentes ruins - O homem tentava gritar mas só saiam sons guturais, que foram abafados por um chumaço de algodão, fazendo o sujeito se debater e tentar se soltar. Walter queria salvar o homem, pensou no que poderia fazer, sair devagar do banheiro e golpeá-lo com alguma coisa, enquanto criava coragem o suposto Dr Udo, estava começando a arrancar um dente com uma espécie de alicate, o desespero e os gritos de dor excruciante entravam nos ouvidos de Walter como se perfurassem os tímpanos, estava enojado e horrorizado com aquela tortura que estava presenciando, imaginando como um ser humano poderia fazer uma coisa assim, viu o primeiro dente sair e ser colocado em uma vasilha de metal com um suspiro de satisfação do velho, que começava a arrancar outros dentes. Walter procurou algo no banheiro e viu apenas um rodo, lembrou-se de suas ferramentas para abrir a porta, serviriam se ele fosse pego de surpresa, poderia tentar feri-lo ou derrubá-lo, afinal ele era apenas um velho, devia ter trazido sua arma, mas agora era tarde, tinha que agir com o que tinha em mãos. Saiu do banheiro, com o objeto que parecia uma chave de fenda delgada nas mãos, ao sair fez barulho demais e o velho olhou em sua direção, o homem amarrado na cadeira tinha a boca toda ensangüentada, em seus olhos o desespero estampado, clamava ajuda.

Walter correu em direção do velho que sem perder o brilho frio de seus olhos apenas falou, - Eu já esperar você – E puxou uma arma que estava perto de suas mãos, ao lado da cadeira, com um silenciador o barulho não foi maior que um espirro, acertando o joelho de Walter que caiu gritando de dor, que foi logo cessada por um pano cheio de clorofórmio em seu rosto.

Alguns minutos depois Walter acorda, amarrado no chão, com seu joelho inutilizado, vê Udo terminando de arrancar os últimos dentes do homem já totalmente inerte de dor, só sabia que ele estava vivo por causa dos olhos que ainda estavam abrindo e fechando, é impossível saber, quanto de dor um homem pode agüentar antes de desmaiar ou morrer. Depois de terminada a tortura dos dentes, o velho de olhos azuis congelantes levanta e com voz macia diz, -Você se perguntar como eu desconfiar de seu visita, sr Walter, eu colocar tudo no devida ordem, ser meticuloso com detalhes, pena a senhor não ser tanto, enton foi fácil... - E enquanto falava ele pegava, uma serra afiada usada em ortopedia, e começou a cortar a perna do homem que estava na cadeira, enquanto o sangue escorria pelas bordas brancas da cadeira, o homem tentava gritar, e Udo apenas apertava mais o chumaço de algodão na boca impedindo os gritos, Walter horrorizado tentava se soltar tentava gritar mas estava amordaçado e também com algodão na boca, o velho apenas continuava sua ladainha - Agora sr Walter eu ter que fazer cortes precisos, meu mala ser grande, mas ter tamanho certo para caber tudo, eu ser um homem que gostar de tudo limpa e organizada... – A serra continuava seu trabalho os pedaços de carne e o sangue ia caindo no chão coberto com plásticos, o homem já tinha apagado, a dor fora demais para ele, e uma náusea enorme atingiu . – Eu non gostar de bisbilhoteiras, já estar aqui nessa prédio imunda exatamente por achar que non ter problemas, mas o senhor ser muito curiosa, já ouviu falar que curiosidadi matar o gato sr Walter?- Enquanto falava Udo serrava os ligamentos, ossos e nervos com uma precisão cirúrgica, com um prazer estampado em seu rosto doentio e na calma com que falava, com suas sobrancelhas crispadas enquanto virava-se para o vigia que estava fora de combate na parede do apartamento – O Senhor achar mesmo que eu non notar nada de diferenti em meu próprio casa? O senhor ser muito inocenti, e mais idiota ainda de ficar aqui, notei seu vulto na banheiro e me preparei para recebê-lo no hora apropriada, infelizmente non esperava o senhor e terei de fazer como vocês dizem... seron... mas non me importar, sempre bom ter mais clientes. Espero que gostar da tratamento e do hospitalidade senhor Walter. - o vigia já imaginava sua vida chegando ao fim naquela noite horrível, nas mãos de um psicopata de olhos frios e fala mansa, sua cabeça começo a rodar e ele desmaiou a vertigem foi levando as palavras pra longe até que veio a escuridão total.

Acordou sem saber que horas eram, ele estava agora no lugar onde o bêbado estivera momentos antes, sua boca estava travada com o fórceps e ele estava impossibilitado de se mexer e falar, Udo estava a seu lado, com a luz da cadeira direcionada para seus olhos ele só conseguia ver o rosto fantasmagórico do velho quando entrava na frente da luz, que o cegava. – Ainda bem que acordar, senhor Walter, você querer pregos, ter alguns aqui, poder emprestar para o senhor, non se preocupar em devolver, como disse eu ser metódica, hoje ser seu dia de sorte, abri um horário só para senhor e te dar uma tratamento especial. - E uma dor lancinante percorreu o corpo de Walter, o alicate forçava seus dentes, e em uma tração rápida um deles saltou, e tudo estava apenas começando a luz incidia em seus olhos marejados pela dor e pela claridade, ouviu o som de furadeira que o havia acordado tantas vezes, imaginou as pessoas antes dele, o sofrimento enquanto aquele lunático brincava com brocas e alicates. A furadeira perfurava seus dentes molares, com brocas finas, destruindo as gengivas, o sangue respingava em sua capa transparente, agora já cheia de manchas de sangue , seu sangue e da outra vítima, com uma coloração mais castanha, seu grito ficava sufocado na garganta, não podia respirar direito, a dor e a sufocação o estavam fazendo perder os sentidos, o barulho da furadeira era ensurdecedor, enquanto penetrava de forma violenta em seu palato, os olhos azuis foram se tornando cada vez mais embaçados, tudo foi ficando turvo e a voz do velho se tornava distante de novo, ele agora sabia o quanto de dor uma pessoa poderia agüentar, e tudo ficou escuro, a voz se perdeu na escuridão e seus olhos só abriram já inertes, com a vida se esvaindo quando uma serra cortava sua carne dilacerando seus braços, depois disso a escuridão se tornou eterna...

Já estava quase amanhecendo o velho fazia seu percurso pela escada, chegou ao subterrâneo, abriu a porta lateral da van, jogou a mala enorme la dentro, acendeu um cigarro, entrou na van, fechou a porta e disse - Maldito escadaria, devia ter comprado apartamenta mais embaixo, descer duas vezes na mesma dia está acabando com meus costas! - Colocou a chave na ignição e saiu calmamente pelo portão do prédio.

Pensou em passar no quiroprático mais tarde, depois de tomar um café na sua padaria preferida...


por Cleiner Micceno

Um comentário:

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