Quando os donos saem as baratas fazem festa com os venenos na estante.
Stalker Shots entrevista com Igor Rockford d' Os Baratas Tontas
Aqui vai uma entrevista feita com Igor Rockford da banda Os Baratas Tontas, que foi uma das principais bandas da cena Psychobilly brasileira nos anos 90.
depois da dissolução a banda fez alguns shows esporádicos e fez uma ultima apresentação no Psycho Carnival de 2007, mas mesmo depois de dez anos fora da atividade, ouvia-se em uníssono o publico cantando todas as músicas da banda no festival, como se eles tivessem lançado o disco a pouco.
A importância na cena psychobilly brasileira d' Os Baratas Tontas é incontestável, a influência que a banda teve na geração atual do estilo é incontestável, e depois de muitos anos, passamos a limpo aqui no Stalker Shots a carreira de uma das mais importantes bandas brasileiras de todos os tempos.
com vocês Igor Rockford a Barata cada vez mais resistentes aos inseticidas.
Cleiner Micceno: Conte um pouco da trajetória de vocês antes d’ Os Baratas Tontas. Houveram outras bandas?
Igor Rockford: Sim, antes de tocar nos Baratas, eu havia tocado em uma banda punk chamada Nervo Exposto e em uma banda underground sem muito estilo definido chamada Skylab. O Luiz Fireball havia tocado em algumas bandas punks e junto com o Beto Rossi em uma clássica banda punk de BH chamada Insolentes, banda em que tocaram também o Fred Blaster e eu. O Beto Rossi e o Vander Big Tongue também haviam tocado comigo no Nervo Exposto. Ou seja, todo mundo tocou com todo mundo, e nossas raízes principais, ou raízes iniciais, vieram do punk...
C M : Como era o cenário do rock
I R : Bem, na verdade BH era a capital do Metal. Além do Sepultura, havia um caminhão de bandas de Metal por metro quadrado. Paralelamente, existiam as bandas punks, bandas undergrounds e de skate rock. Nos anos 80 aconteceu um movimento de bandas alternativas que tiveram um certo reconhecimento na mídia (Sexo Explícito, Ùltimo Número, Divergência Socialista) mas que no final da década já não existiam mais, ou estavam paradas.
Os Baratas começaram no meio dessa salada, em que não existia uma cena Psycho em BH, o público era composto pela cena alternativa
O Luiz já andava há um tempo com a idéia de montar uma banda Psycho e já tinha algumas músicas prontas. Em 92 nós nos encontramos em um show do De Falla e ele me fez o convite pra montar a banda. Eu já conhecia uma coisa ou outra de Psycho, e não pensava em montar uma banda nesse estilo, mas acabei topando. Á medida que o Luiz foi me apresentando algumas bandas, a identificação foi total, e logo nós chamamos um amigo meu de infância, Vander Big Tongue, para tocar bateria conosco. Nossa estrutura no início era péssima: um livro de capa dura servia como bateria, e baixo e guitarra eram ligados em um horrível amplificador Mikassim. Microfone, nem pensar.
Aos poucos as coisas foram melhorando, Vander Big Tongue saiu (ele também tocava em outra banda de BH, de Skate Rock, chamada Square Balls), entrou Fred Blaster (que também tocou posteriormente com o Luiz no Hot Rod Combo), Fred Blaster saiu, Vander Big Tongue voltou e nós gravamos a primeira Demo-tape (Nervos à flor da pele!). Vander Big Tongue saiu novamente depois de um tempo, dando lugar a Beto Rossi, com quem gravamos a segunda demo-tape (Engula sua motosserra!), o CD (também chamado de Nervos à flor da pele!) e entramos na coletânea Urbanoise, da Rotten Records, gravadora do baterista Português, dos Garotos Podres, e Glauco Mattoso. Foi o baterista que ficou mais tempo conosco. Em 2007 Fred Blaster retornaria à banda para tocar no Psycho Carnival 2007.
Mas em BH, quando começamos, as únicas pessoas que conheciam e gostavam de psychobilly na época eram Luiz Fireball, eu, Big Paul the Monster e Chanceler (que fez um teste pra ser vocalista dos Baratas, tomou pau e que mais tarde também tocaria com o Luiz no Hot Rod Combo). O resto foi gostando e se identificando aos poucos, com o surgimento de outras bandas que transitavam entre o Psycho / Rockabilly e Surf music, como Estrumen´tal, Surf Motherfuckers, Hot Rod Combo, Scary Scums, The Catchup Boys, entre outros. No final dos anos 90, começaram a predominar festivais e bandas de Surf Music e variações.
C M :Quais eram e são as influencias dos baratas? E os filmes de terror qual o top 10 da galera?
I R : No início escutávamos muito Rockabilly clássico, como Jerry Lee Lewis, Elvis, Eddie Cochran, Gene Vincent, Buddy Holly, Carl Perkins, entre outros, além das bandas Psycho nacionais de São Paulo e Rio, como Kães Vadius, S.A.R., K´Billies, Big Trep, depois conhecemos e passamos a escutar também as de Curitiba, como Os Cervejas, Krapulas, Missionários, Ovos Presley, mais tarde Os Catalepticos, e da Bahia, como The Dead Billies. De fora, na época, escutávamos muito Meteors, Cramps, Guana Batz, Reverend Horton Heat, Restless, Stray Cats, Sonics...
Hoje, particularmente, escuto muito Sick Sick Sinners e Brian Setzer Orchestra (Brian Setzer é o cara!).
Os filmes são vários, como “O Ataque dos Tomates Assassinos (John De Bello), Plan Nine from other space (Ed Wood), Noite dos mortos vivos (George Romero), A Volta dor Mortos-Vivos (Dan O´Bannon), The Evil Dead (Sam Raimi), Carnossauro (Roger Corman), clássicos como Drácula (Tod Browning, com Bela Lugosi), A Múmia (Karl W. Freund, com Boris Karloff), Frankenstein (James Whale, com Boris Karloff), filmes do Zé do Caixão (Esta noite encarnarei no teu cadáver, À meia noite levarei sua alma), filmes da Troma e da Canibal Filmes (Petter Baiestorf), entre outros...
Outros dois gêneros que sempre gostamos muito são Westerns e filmes de putaria, claro!
C M :E o contrato com a cogumelo, como rolou isso na época, já que era uma gravadora quase exclusivamente de metal?
I R : Nos anos 80 sim, era exclusivamente de metal, mas nos anos
C M : E por falar nisso, como era o relacionamento da banda com os outros estilos que rolavam
I R : Na verdade não, aqui em BH nunca teve muito esse esquema fechado, era tudo muito misturado. Em um mesmo show você poderia ter bandas de punk rock, hardcore, metal, skate rock, ska, psychobilly, surf music... entrava tudo no mesmo liquidificador. E o público era o mesmo jeito, todos os estilos se encontravam. Mas todo mundo gostava dos Baratas, independente do estilo de cada um, isso era uma coisa curiosa.
Nós fazíamos shows e tínhamos amizades com bandas de outros estilos, pois aqui em BH a única banda psycho era Os Baratas. Entre as bandas mais próximas estavam Insolentes (Punk rock), Square Balls (punk, hardcore, funk, rock), Os Contras (hardcore), Dreadful Puppets (hardcore melódico), VE (hardcore melódico), Ragnarok (rock, metal) No Hands (rock) e Donkey (Ska).
Particularmente um cara que nos deu muita força foi o Maggo, guitarrista e vocalista do Chemako. Ele produziu nossas duas demo-tapes e o cd, mas infelizmente morreu de overdose, no mesmo ano em que o cd foi lançado, em 97. Foi triste isso, foi um baque pra nós na época...
C M : Como foi pra vocês o contato com as outras bandas do resto do país, principalmente
I R : Bem, nosso contato inicial com bandas do resto do país inicialmente foi através dos vinis, com as poucas coisas que se vendiam de psycho ou rockabilly por aqui, como clássicos do rockabilly, e bandas de São Paulo, como Kães Vadius e S.A.R. Mas nosso primeiro contato com uma banda de fora, trocando idéias e fitas, foi com Os Cervejas. Me lembro que o vocalista dos Missionários veio aqui em BH, apareceu em uma casa noturna em que tocávamos, o Squat, e levou o fanzine da casa, que tinha uma entrevista nossa, para Curitiba. Daí o Marcio Tadeu entrou em contato com a gente, por carta. A partir daí começamos a nos corresponder com frequência, fomos tocar em Curitiba, os Cervejas vieram tocar aqui, e começamos também a nos corresponder com outras bandas Brasil afora. Uma outra banda importante, que também se correspondeu muito conosco e fizemos um intercâmbio de shows, foi a Dead Billies, de Salvador.
Mas a cena na época era menor do que hoje, hoje cresceu bastante, e onde era forte mesmo era
C M : Conte alguma curiosidade da época que vocês tocavam ?
I R : Me lembro de um show estranho que a gente deu, em um lugar aqui de BH chamado Mister Beef, e foi logo no início dos Baratas. Foi uma história engraçada. Éramos eu, o Luiz e o Vander, e quem arrumou pra nós foi o Robson, baterista de uma banda underground daqui chamada Eletrica Uzifur. Além de tocar nessa banda, ele também produzia alguns shows. O lugar era totalmente atípico, nada a ver com a banda, nada underground, com um público totalmente diferente do que frequentava nossos shows. Mas acontece que o cachê era bom, teria divulgação na rádio, em jornais, e por aí vai. Aliás, só de ter cachê já era uma felicidade, pois era algo praticamente impossível, nós sempre ganhávamos uns trocados em shows organizados por nós e outras bandas, e como era sempre um monte de gente, nunca sobrava nada. Estávamos querendo mesmo gravar uma demo-tape, nossa primeira, então topamos, achando que nosso público iria lá nos prestigiar. Mas não foi. Era uma terça-feira, o ingresso era caro e o lugar arrumadinho demais, e no final das contas de nosso público apareceu apenas uma meia dúzia de três pessoas.
Quando subimos ao palco, nos deu aquela sensação de tocar em uma banda cover, uma banda de baile, o público era composto de senhores executivos, e os caras estavam ali, jantando e tomando whisky, e nem olhando pro palco. Era como se fôssemos apenas um som ambiente para embalar as conversas de negócios daqueles sujeitos. Foi triste. Deu vontade de desistir, mas pensamos que valia a pena o sacrifício pela gravação de nossa primeira demo-tape.
Mas além disso, parece que o dono da casa estava achando que éramos uma banda de rockabilly clássico, aliá, o nome do show era “Uma festa Rockabilly”. Quando o sujeito começou a escutar aquelas músicas falando sobre putaria, vampiros, psicopatas e monstros em geral, piraram e foram atrás do Robson, dizendo “Que rockabilly mais doidão é esse? Que coisa estranha, isso não é rockabilly!!!”, pedindo pra tocarmos músicas conhecidas, dizendo que aqueles palavrões não cabiam ali, entre outras coisas.
Bem, no final das contas resolvemos tirar uma onda dessa situação. Começamos a tocar “Vem cá chupar meu pau”, e o Luiz na hora mudou o refrão, de “Baby, vem cá chupar meu pau”, para “Baby, olha o Estanislau”. Olha o Estanislau, cara!!! De onde saiu, isso? Ninguém entendeu nada, o povo ficou olhando pra gente com aquela cara da tacho. Daí conversamos e resolvemos encher o saco daqueles caras, e fizemos uma versão de Johnny B. Good de mais ou menos uns 50 minutos, tipo aquelas improvisações que não acabam nunca. Nem os três gatos pingados que foram lá pra nos ver aguentaram. No final de Johnny B. Good já não tinha uma alma viva na casa, mas pelo menos nos ofereceram um jantar, que era de praxe na casa, nos pagaram o cachê e no outro final de semana começamos a gravar a demo-tape. Dos males o menor...
Sei que na época a gente ficou puto, mas hoje em dia a gente dá risada pra caramba disso...
C M : Vocês ficaram muitos anos sem tocar, fale sobre os motivos da banda ter parado, e se nesses anos pensaram em voltar, e a volta do baratas no Psycho Carnival?
I R : Bem, na verdade, a banda durou efetivamente mesmo de
Nós voltamos a tocar novamente apenas em 99, em um show chamado “A volta dos mortos vivos”, apenas com bandas que já tinham acabado, e a idéia era tocar apenas nesse show. Mas nós gostamos muito de tocar novamente com os Baratas, ao mesmo tempo em que as divergências e discussões continuavam, então resolvemos tocar uma vez por ano, sem músicas novas, pelo menos até que as coisas se acertassem, mas em 2002 tivemos uma briga feia e a banda acabou de vez.
Nesse período vários convites para shows, tanto em BH quanto em outros estados mas o Luiz se mudou pra Curitiba, e o que já estava difícil de acontecer ficou ainda mais complicado. Apenas em 2007, 5 anos depois do último show, com o convite do Vlad para tocar no Psycho Carnival, a coisa se concretizou. E foi sensacional! Público foda, aparelhagem de primeira, estrutura excelente, além do Carnival ser o principal e mais legal festival psycho do país. Apesar do pouco tempo que tivemos para ensaiar e alguns erros básicos no show por conta disso, no geral foi muito bom! Na verdade me lembro que, depois do show, o Vlad foi ao camarim e nos perguntou: “E agora, e o formigamento pra tocar de novo”? Lembro que olhamos uns para os outros com aquela cara de “É, vai ser foda...”.
Mas nós até já pensamos em voltar, o problema é que com a ida do Luiz pra Curitiba a coisa se complicou. A distância é grande, e fica praticamente impossível conciliar uma volta da banda com ensaios e shows frequentes.
C M: Quais as diferenças na cena? Quais são os aspectos que mais te chamaram a atenção na nova geração?
I R : Muito mais gente, mais organização, muito mais bandas, mais profissionalismo. De modo geral, a coisa só melhorou. E a nova geração de bandas sofreu influência da nossa, da década de 90, assim como sofremos influência da geração dos 80. Isso é muito legal, e daqui a alguns anos essa geração de agora vai influenciar a que está por vir...
Uma coisa bacana de hoje em dia também é a internet, que ajuda muito na divulgação. Antes a divulgação rolava apenas na base do boca a boca e troca de fitas e fanzines pelo correio, hoje é tudo imediato, a divulgação é feitas na hora, através dos blogs, foruns, do Myspace, Orkut, Twitter... Isso é sensacional, e auxilia bastante no crescimento da cena.
C M : Quais as novidades, o que vocês estão fazendo atualmente? Existe possibilidade de sair alguma coisa nova, novos shows ou alguma nova banda?
I R : Bem, hoje em dia eu trabalho com design gráfico, o Luiz é cirurgião em Curitiba, o Beto tem uma serralheria, o Vander trabalha com informática e o Fred é engenheiro metalúrgico na Bahia. Caminhos totalmente opostos...
Depois do fim d’ Os Baratas todos nós tocamos em outras bandas, mas hoje em dia o único de nós que toca frequentemente é o Luiz, no Flatheads. Mas existem sempre projetos, conversas com outros músicos, planos de outras bandas, mesmo que essas conversas não passe muitas vezes de papo de boteco e não saiam do papel.
É aquela coisa da correria, casamento, filhos, contas pra pagar, o tempo vai ficando curto pra se dedicar à música. Não que falte vontade, pois ela nunca morre. Música é um vício.
Existem também sempre planos para um novo show d‘Os Baratas, estamos com muita vontade de tocar, principalmente aqui em BH, onde não tocamos desde 2002, e a galera sempre pergunta quando vai rolar. Tentamos o ano passado e não deu, tentamos nesse também, mas parece que também não vai dar, está difícil das agendas baterem. Quem sabe mais pra frente...
C M : E pra finalizar deixe um recado ai pra galera.
I R : Gostaria de agradecer a todos que nos deram força, que gostam ou que gostaram da gente, que foram nos nossos shows, que tocaram em shows com a gente, que compraram nosso cd, que baixaram nossas músicas, que disponibilizaram nossas músicas para download, que escreveram sobre nós em fanzines ou em blogs, que nos divulgaram, que são nossos fãs, e que participaram de qualquer forma de nossa história. Parece chavão, mas sem vocês nossa história não teria acontecido. Ou, se tivesse, não teria graça nenhuma...
Um abraço pra todo mundo!
Seguem os endereços dos Baratas na web:
Site:
http://www.baratastontas.rg3.net
Myspace:
http://www.myspace.com/osbaratastontas
Download de músicas:
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=62958
Orkut:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=610946
Vídeos no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=a-1gz_qsfsM
http://www.youtube.com/watch?v=H654djTL_-U
* Nota do Stalker Shots
existe um registro de uma musica , da volta dos baratas tontas no Psycho Carnival de 2007 no documentário Psycho Carnival Insane History de minha autoria
Animal!!!! Animal!!!! Baratas 4ever!!!!
ResponderExcluirAbraço,
Guikalil
realmente massa demais gui abrsss
ResponderExcluirParabéns!Apesar de não curtir as letras das músicas,curto de montão a melodia,e curto mais ainda o meu genro Igor,gente boa e toca guitarra demais.Bjs
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