segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tom Waits – Howlin´ Rain Dog - Discografia comentada de Tom Waits por Cleiner Micceno

Tom Waits – Howlin´ Rain Dog - Discografia comentada de Tom Waits por Cleiner Micceno

É muito difícil falar de Tom Waits, um cão abandonado que uiva a dor do mundo, dos amores perdidos e corações partidos, das bebedeiras, da boêmia, da vida e da morte,com uma forma magistral e única em sua voz soturna e sua poesia subversiva, que remete os melhores momentos da Beat Generation de Jack Kerouac ou os escritos bêbados de Charles Bukowski .
Suas musicas / poemas, ganham cores e texturas, não encontradas em nenhum outro cantor ou artista, ele sim pode se dizer um artista único que viaja por musicas extremamente complexas e experimentais assim como por blues rasgados, jazz, rock´n´roll e até pela musica urbana dos bares enfumaçados e das putas nas esquinas, ninguém consegue destilar esse submundo de forma tão tenaz e crua com Mr Waits. Hoje já com 60 anos ainda esbanja vitalidade, no seu ultimo disco Glitter and Doom ao vivo esbanja energia, revisitando várias fases do artista, mas muito além disso, ele já havia lançado um disco triplo em 2006 Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, onde já havia esse resgate, uma carreira passada a limpo, com algumas composições novas, declamações de várias poesias e muitas músicas antigas com novas roupagens, porém extremamente atuais, como só uma alma versátil como Tom é capaz de fazê-lo.
Voltando no tempo nos idos de 1973 quando ele lança seu primeiro disco Closing Time, um disco essencialmente Jazz/Blues e por que não Country/Folk , noturno, com sua voz ainda atingindo o timbre que o tornaria famoso, ali já estava germinando uma semente musical. Tom era um boêmio, e em cada musica isso se faz presente, é dessa época uma de suas musicas mais geniais, I Hope That I Don't Fall In Love With You, e que se tornaria sua marca em toda sua carreira, o pé na lama dos bluesers, com o amor sendo tratado de forma adulta e realista, com a dualidade humana estando sempre colocada em xeque, junto com musicas como a própria faixa titulo, Closing Time e as lindas Midnight Lullaby e Old Shoes (& Picture Postcards), e até uma musica que poderia ser um Rockabilly feito pelos Stray Cats, Ice Cream Man ou o jazz sofisticado de, Little Trip To Heaven (On The Wings Of Your Love).

Em 1974 ele lança The Heart Of Saturday Night, um disco mais refinado, com a veia do jazz ainda mais intensa que no Closing Time, com musicas como, New Coat Of Paint, Semi Suít, Drunk On The Moon e Diamonds On My Windshield (Looking For), e nas lindas canções folk, The Heart Of Saturday Night e San Diego Serenade e o blues, Fumblin' With The Blues. Nessa fase Tom já estava refinando seu estilo construindo os alicerces do que ele lançaria nos anos subseqüentes.
Na sua gravadora dessa fase Asylum Records , é considerada a fase mais boêmia do cantor, que suas musicas bem que poderiam fazer parte das histórias de Raymond Chandler.
Em 1975 ele lança Nighthawks At The Diner, um disco ao vivo, gravado em duas apresentações em bares pequenos, com material inédito, acho que um dos discos mais Jazz de toda sua carreira, com influência clara de Stephen Foster, mas é um disco vivo, visceral, perfeito com uma classe que permeia o disco, e até nos comentários divertidos e as piadas no meios de musicas como em, Better Off Without a Wife, ou nas sacadas espertas de Warm Beer And Cold Women, que é um vaudeville de cabaré.
Nos discos que seguem o Nighthawks, estão Small Changes (1976), Foreign Affairs (1977) e Blue Valantine(1978), eu divido esses discos como uma seqüência de discos que bem que poderiam ser um único álbum triplo, as musicas se complementam, é uma fase onde os jazz e o blues e o folk se entremeiam, fundem-se, se tornam agora aquilo que seria a persona de waits pelo resto de sua carreira.
Acho que essa trilogia, marca a maturidade e o processo que só veio a ser lapidado durante os anos, musicas como, A Sight For Sore Eyes, do Foreign Affairs, são tão atuais que parecem ter sido gravadas no ultimo disco, fora as participações como Bette Midler, em I Never Talk To Strangers, e dessa fase desses discos músicas como Cinny's Waltz, Barber Shop, Burma-Shave, Somewhere (from "West Side Story"), Romeo Is Bleeding, A Sweet Little Bullet From A Pretty Blue Gun, "The Piano Has Been Drinking (Not Me) (an Evening with Pete King) e aquela que é uma de minhas musicas preferidas, Waltzing Matilda – Tom Traubert's Blues (Four Sheets to the Wind in Copenhagen).No disco Heart attack and Vines, o ultimo disco de Waits na Asylum Recs, é um disco ja mais folk, com baladas e vários rythm and blues , é desse disco, Jersey Girl , que viria a ficar famosa com a regravação de Bruce Springsteen alguns anos depois, e as lindas, Saving all My Love for You e Downtown.
Em 80 ele assina com a Island Records e em agosto de 1980 ele casa com a escritora Kathleen Brennan,que trabalhava com Francis Ford Coppola que havia encomendado as músicas para o filme One from the Heart, Kathleen o conhece durante os trabalhos no filme, onde começam um namoro e logo depois se casam.


Nessa fase Tom grava a trilha sonora com um duo vocal com Chrystal Gale, Bette Midler havia sido cogitada, mas como ela estava em outro trabalho, Gale, foi chamada, confesso que considero esse o pior disco do Tom, a voz de Gale não convence, mass mesmo assim o pior disco do Waits é melhor que o melhor disco da vários artistas por ai.

Em 1983 ele lança Swordfishtrombones, aqui começa a carreira mais sólida de Waits no experimentalismo inclusive é uma marca que ele burilou durante os trabalhos que vieram depois, mas nunca na intensidade desse disco, onde ele flerta com o Industrial, com a complexidade do jazz menos tradicional e com musicas de tempos quebrados com ecos de Frank Zappa, é um disco mais difícil para quem não está acostumado com as peripécias do Waits, esse não é o disco para se conhecer ou se recomendar como primeiro contato com o cantor, o disco em si é um dos trabalhos mais instigantes do músico, com músicas como, Frank´s Wild Years, Town With No Cheer, Underground, e as belíssimas, Johnsburg, Illinois , In The Neighbourhood e Soldier's Things as musicas mais formais, Rythm and blues de primeiríssima qualidade Down, Down, Down, e Gin Soaked Boy (que remete até Iggy Pop)

Em 1985 ele lança aquele que é um dos principais discos de sua carreira Rain Dogs, nesse disco ele conta com uma parceria que renderia mais musicas no futuro com Keith Richards dos Rolling Stones, esse disco é de mais uma trilogia por assim dizer, Tom Waits gosta de ciclos, e Rain Dogs faz parte desses ciclos que começa com Swordfishtrombones e termina em Frank’s Wild Years, que veio após Rain Dogs, nesse disco é um amontoado de músicas perfeitas, que vão desde Polkas, como Cemetery Polka, musicas experimentais como Singapore e Diamonds & Gold, Rain Dogs e musicas folk com pitadas de baladas como Downtown Train, e blues pé na lama como, Anywhere I Lay My Head e Blind Love, e até rumba em Jockey Full Of Bourbon é uma salada que se completa, Rain Dogs são mais um pouco dos encontros poéticos com o cotidiano que ele faz tão bem, o termo designa aqueles cães que perdem seus donos, e ficam na rua, perdidos tomando chuva, mais uma pequena fagulha de Mr Waits.
Ele fecha essa fase, com Frank´s Wild Years, um disco enigmático e cheio de nuances, com musicas belíssimas como Innocent When You Dream (Barroom) (que tem duas versões no disco, uma mais recente e uma gravada em 1978 que parece um coral de piratas bêbados, não consigo achar melhor definição) musica que veio a ser parte da trilha sonora do filme Cortina de Fumaça de Wayne Wang, mais musicas que merecem ser ouvidas muitas vezes no repeat como Blow Wind Blow, Temptation, I’ll Be Gone e Telephone Call from Istanbul (musica essa que vi uma versão ótima com os caras do Canastra e o B Negão nos vocais) fora isso o disco em si é uma pequena obra prima, que tem que ser apreciada com calma, é o disco que você tem que sentar e fazer o ritual para apreciar uma boa obra é quase como degustar um bom vinho por assim dizer.
Big Time é gravado em 1988, o primeiro ao vivo feita na Island Recs, um disco bastante introspectivo, com musicas de diversas épocas e destaque para a gravação de Time, uma música que eu colocaria com uma das dez mais bonitas já feitas, com sentimento em cada frase, quer uma noite perfeita com alguém? Coloca Time pra tocar e o serviço já ta pelo menos com 50% pronto, e tem a belíssima Cold, Cold Ground, um Soul bastante envolvente e falando em soul, Way Down In The Hole, entre musicas experimentais,baladas você tem o blues/jazz, Yesterday Is Here, perfeito pra fechar uma noite.



Em 1992 ele lança dois discos a trilha sonora do filme Night On Earth de Jim Jarmusch (que é amigo pessoal do cantor e que já fez mais de um filme com ele, a titulo de explicação Down By Law e mais recentemente Coffee and Cigarettes, que ele divide a cena com Iggy Pop) e um dos melhores discos de Waits, Bone Machine, esse disco transcende os parâmetros da musica, ele é táctil, as musicas tem cores, texturas, difícil de descrever, musicas como Earth Died Screaming, Such a Scream, All Stripped Down, In the Collosseum são experimentais, mas são belíssimas, como um quebra cabeças que se monta e forma um mosaico de diversas cores e tons, Jesus Gonna Be Here é um gospel secular e profano, e na seqüência, música que você deveria ouvir antes de morrer, Who Are You, Little Rain (For Clyde), e That Feel ( que ele fez com Keith Richards) e dos clássicos nesse disco aparece I Don't Wanna Grow Up ( que ficou famosa quando regravada pelos Ramones) aqui abro um parêntese para postar uns trechos das musicas desse disco em especial um trecho de That Feel e de Little Rain:

De That Feel

Well there's one thing you can't lose
It's that feel
Your pants, your shirt, your shoes
But not that feel
You can throw it out in the rain
You can whip it like a dog
You can chop it down like an old dead tree
You can always see it
When you're coming into town
Once you hang it on the wall
You can never take it down

De Little Rain

The Ice Man's mule is parked
Outside the bar
Where a man with missing fingers
Plays a strange guitar
And the German dwarf
Dances with the buthcer's son
And a little rain never hurt no one
And a little rain never hurt no one

She was 15 years old
And never seen the ocean
She climbed into a van
With a vagabond
And the last theing she said
Was, "I love you mom."

And a little rain
Never hurt no one

A poesia de Waits, consegue ser surreal e vívida com um filme de Buñuel ou um quadro de Dali, e mesmo assim tocante.

Em 1993 ele faz mais uma trilha sonora para Black Rider, um filme de Robert Wilson e com Roteiro em parceria com William S. Burroughs, mas uma vez o espírito Beat de Tom é revisitado, com canções que vão do Cabaré e o experimental.
Em 1999 Tom faz um de meus discos preferidos, posso dizer sem duvida que Mule Variations, foi um dos discos que mais ouvi em minha vida, é um disco perfeito que casa o sombrio, experimental, soul, folk, jazz e blues em uma fusão única e perfeita, você vai ouvir pitadas de tudo isso em cada música desse disco, que já abre com um musica demolidora, Big In Japan, e emenda Lowside of the Road, uma musica que poderia ser facilmente enquadrada como doom country ao estilo do Those Poor Bastards, uma banda que faz esse estilo, Hold On é a musica pé na lama que serve para qualquer momento, os blues House Where Nobody Lives, Cold Water, Chocolate Jesus e Come on up to the House são matadores, e nesse disco tem as musicas deprê até o osso, como: Pony e Georgia Lee, onde ele questiona onde estava Deus quando uma menina, Geórgia Lee, foi morta:

Cold was the night, hard was the ground
They found her in a small grove of trees
Lonesome was the place where Georgia was found
She's too young to be out
On the street.

Why wasn't God watching?
Why wasn't God listening?
Why wasn't God there for
Georgia Lee?


No disco Blood Money de 2002 se trata de mais uma trilha para uma peça teatral Woyzeck de Georg Büchner dirigido por Robert Wilson que já havia trabalhado com ele em Black Rider e na trilha de Alice outro filme que ele também fez a parte musical.
Em 2004 Tom lança um disco de protesto contra a guerra do Iraque, Real Gone, pelo selo Epitaph – Anti – que é um selo basicamente punk, que já havia lançado seus discos anteriores, ele teve liberdade de fazer mais um disco totalmente experimental, mais industrial e mais rock, acho que o único trabalho dele que não tem piano, é um disco visceral, que você nunca esperaria de um senhor já com quase sessenta anos na época, mas ele esbanja um vigor que daria vergonha em bandas de rock tristonho, tanto em ousadia como em coragem. Destaque para, Metropolitan Glide, e um mood Dead And Lovely, e as totalmente industriais, Top Of The Hill, Hoist That Rag e Sins Of My Father.


Ai chegamos ao triplo que já citei no começo da matéria, o Orphans: Bawlers, Brawlers & Bastards, um disco que passa em revista toda a carreira do Rain Dog, um disco que pode ser dividido em disco 1- mais folk, mais intimista, o segundo, um mais variado com varias fases, e um terceiro experimental com musicas e declamação de poesias e textos beat, é um isco imperdível para qualquer fã, ou para ter uma introdução a Tom Waits junto com o mais novo lançamento ao vivo que complementa essa passagem por toda carreira.

Nesse texto procurei apenas passar minhas impressões sobre cada época e fase de Tom Waits, disco à disco, não quero ter pretensões de ter feito nenhum grande texto é apenas um apanhado de comentários de um fã incondicional, que quer compartilhar com os amigos e com pessoas que porventura passem pelo blog, e quem sabe conseguir que alguns se interessem em conhecer um pouco mais desse universo obscuro de Vaudeville que permeia o cabaré da obra de Tom Waits
Por Cleiner Micceno ao som de Bone Machine e Rain Dogs

conheça mais da trajetória de Tom Waits no blog do MAX










5 comentários:

  1. opa valeu tom waits é uma coisa que não da esforço pra escrever nem para ouvir a discografia apenas por diversão ahah abrss

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  2. nunca vi um cachorro mijar na roda de um carro em movimento...

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  3. Olá, tudo bem? Eu adorei o seu blog e gostaria de saber se eu poderia fazer copia de suas críticas musicais, que são muito boas. Postarei em meu Blog www.somdarte.com, e lógicamente com créditos em seu nome ou no nome do seu blog.
    E ai? espero resposta.

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allefuckinglluiah