quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Anno Zero - Stalker Files # 8 - Quando morri

Quando morri

Quando morri era dezembro
De solidão me lembro
De frio e espasmos morri de saudade
Na mais tenra idade

Quando morri era maio
De tristeza após um desmaio
Náuseas profundas tomaram meu corpo
Nesse dia tomei consciência que estava morto

Quando morri era terça
Assassinado com covardia
No final do dia
Com um golpe em minha cabeça

Quando morri era tarde
Em um dia comum de tédio
Tomando um gole a mais de um remédio
Vida se esvaiu sem alarde

Quando morri estava frio
Como em um desvario
Na tarde perene
Meu corpo imolado com querosene

Quando morri era inverno
Maldito insepulto
Que como insulto
Não cabia no inferno

Quando morri era outono
Com o coração frio que não pulsava
Que em uma lua bela e alva
A morte com seu cetro descia do trono

Quando morri era outubro
Numa escuridão de um céu negro
Guardando em eterno segredo
A nódoa no peito de meu sangue rubro

Ah quando morri
Quando morri não parti
Estava vivo e angustiado
Como anjo imolado
De asas arrancadas com bisturi
Ah quando morri
Quando morri aqui fiquei
Molambo corpóreo, deitei na terra meu corpo malsão.
Em uma tumba aberta cheguei
E la depositei meu coração

Ah quando morri
Quando morri era assim
Dia que era noite e a noite era negra
Infecta como verme amiúde
Que invadia a carcaça carmim

Quando morri ainda me lembro
Era quase novembro
O sol a pino seguia seu rumo
E eu morto não sorria, nem sofria.
Só a carcaça magra emitia um lume soturno

Quando morri era noite
A madrugada já ia chegando
Com sussurros o vento soprava
E em minha pele alva
Minha alma ele ia levando

Quando morri as janelas bateram
Os sinos calaram
As portas fecharam
E la passou o enterro

Quando morri, em desterro meu corpo fica.
Como um cenobita em eterna procissão
Sem completar sua ultima oração
Sepultando seu corpo na cripta

Ah quando morri era assim
Não tendo começo nem fim
A vida não valia nada
E por isso foi tirada

E quando morri era assim
Nem noite nem dia
Nem quente nem fria
Sem nenhuma anestesia
Nada que acalmasse a dor
Nada que perpetuasse o descanso
Apenas o ranço
De ser um sofredor

por Cleiner Micceno

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