Começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a mostra "Cinema da Geórgia - Um Século de Filmes", que traz 12 longas da república do Cáucaso, que integrava a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A curadoria do evento é de Nágila Guimarães, uma brasileira que há muito tempo mora no exterior e descobriu a Geórgia acompanhando o marido arquiteto, que foi lá desenvolver um projeto.
Ela descobriu um cinema sobre o qual pouco se falava no Brasil, embora seus grandes autores não sejam estranhos ao cinéfilo brasileiro - Mikhail Kalatozov, Otar Iosseliani. Nágila já participou de um debate no Rio, onde a mostra desembarcou na semana passada.Nágila é acompanhada pelo ator Irakli Gioshvilli, de 24 anos, que reside recentemente em Nova York e integra um grupo de teatro. Gioshvilli sabe muito sobre o Brasil e sobre novela brasileira. Ele aprendeu a falar português por amor às novelas do País - as da Globo -, das quais se tornou o tradutor oficial na Geórgia. Gioshvilli serve de tradutor para o cineasta que o acompanha, o veterano Merab Kokochasvilli, que assina o filme que abre hoje a programação - "O Grande Vale Verde". Longa trata do conflito entre a tradição da vida do campo e a modernidade que a exploração do petróleo trouxe para a Geórgia.
Selecionar 12 filmes para traçar o retrato de uma cinematografia inteira não é coisa fácil, diz Nágila. E nem foi uma escolha ideal. Quando havia a URSS, Moscou centralizava tudo. Hoje, as matrizes de importantes filmes georgianos ainda estão em Moscou. A escolha se fez com base em filmes possíveis.
Mikhail Kalatozov é autor de títulos como "Quando Voam as Cegonhas", que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, e "Sou Cuba", que ele realizou na ilha de Fidel. Mas o filme de Kalatozov que integra a mostra do cinema georgiano é o pouco conhecido "Sal para Svanetia". De Otar Iosseliani, Nágila programou "Novembro", também conhecido como "A Queda das Folhas", e "Era Uma Vez Um Pássaro Negro", ou "Era Uma Vez Um Melro", que conta a história de um caçador preguiçoso.
Um terceiro autor conhecido dos brasileiros integra a seleção e é Sergei Paradjanov, revelado no País pela Mostra de São Paulo. Paradjanov, que chegou a ser chamado de ‘Pasolini soviético’, fazia filmes de grande beleza visual, como "A Lenda da Fortaleza Suram". Todos são filmes importantes, mas a raridade do programa é "Minha Avó", de Kote Miqaberidze. O filme mudo de 1929 tem apenas 67 minutos e ficou proibido durante 40 anos, por sua sátira ao dirigismo estatal. A mostra georgiana de Rio e São Paulo vai oferecer a contrapartida de um evento de filmes brasileiros em Tbilisi, a capital da Geórgia, no ano que vem.
Cinema da Geórgia: Um Século de Filmes. Hoje, 17 h, "Pirosmani", de Giorgi Shengelaya; 19 h, "O Grande Vale Verde", de Merab Kokochashvili. Amanhã, 17 h, "Minha Avó", de Kote Miqaberidze; 19 h, "Uma Exposição Extraordinária", de Eldar Shengelaya. CCBB (69 lug.). R. Álvares Penteado, 112, centro. Tel. (011) 3113-3651/ 3113-3652. 4.ª a dom. R$ 4. Até 27/12.
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