sexta-feira, 13 de agosto de 2010

um coveiro, dois corpos e whiskey barato - um conto singelo



Eu estava correndo feito louco, descia as avenidas naquela madrugada fria como um maldito corredor de alguma competição de velocidade, estava torcendo pra não ser pego por nenhum guarda fdp que quisesse mostrar serviço àquela hora.

Peguei a rua principal indo direto pra zona do largo da matriz, precisava ir rápido e de forma eficaz até o parque nacional do outro lado da cidade sem levantar suspeitas. Acendi um cigarro com uma mão enquanto a outra ficava no volante, sei que isso não é muito inteligente para se fazer durante uma corrida como aquela, mas naquele momento eu precisava de um maço inteiro. A cinza caia no banco fazendo sujeira, mas esse era o menor de meus problemas naquela hora da madrugada. Atrás no meu banco eu tinha uma pá daquelas usadas em construção, de forma retangular sem uma ponta, não sei se foi uma boa escolha, junto ainda tinha uma enxada que acho que não era muito confiável.

O carro descia as ruas com pressa demais, raspava no asfalto nas lombadas e curvas menos suaves, eu não me importava muito, afinal, eu não estava me preocupando muito com isso, para mim estava tudo bem, a fumaça saia dos escapamentos duplos deixava uma trilha atrás de mim, parecia uma cena de um filme B, daqueles que passavam de madrugada , eu me sentia em um deles.
A noite estava cintilante enquanto subia a décima terceira com a quinta, mas já começava a ficar mais escura quando o subúrbio ia chegando, as luzes dos postes rareavam mais e mais e eu já via de longe os topos das primeiras árvores do parque, que de longe tinha uma aparência pesada e assustadora, mais parecia um monstro saído das profundezas de um conto de Edgar Alan Poe.

O velho carro estava aguentando bem, logo tudo estaria terminado, eu poderia voltar pra casa e tomar um copo daquele whisky vagabundo que ganhei no natal de tia Cecilia, velha caquética, que ainda me chamava de Bunny, velha ridícula, acho que deveria ter uma dúzia de caixas daquele veneno que ela chamava de scotch, afinal presenteou a família inteira com eles, até quem não bebia recebeu uma garrafa; bem... Pelo menos ia servir para algo além de limpar móveis.

Estacionei perto do lago, olhei para os lados ninguém estava por perto, fui até o banco de trás, puxei o saco preto de lixo que continha as ferramentas e trouxe pra fora, depositei do lado da roda traseira e fui em direção ao porta-malas, que abri com um clique na chave, lá estavam os dois idiotas que tinham ido atrás de mim, bem acho que isso tem que ser contado né. Afinal não é uma coisa muito natural você andar com dois patifes no porta-malas em alta velocidade. Eu disse que não me importava com os solavancos, mas esses dois acho que não estavam muito felizes, amarrados e amordaçados bem juntinhos como se dormissem de conchinha. Espere não estou sendo sincero, um deles não se importava muito, afinal estava morto, já o outro não poderia dizer que estava feliz como um atendente do Mac Donalds, mas pelo menos estava vivo, não sei o quanto isso era animador para ele, já que estava com olhos vermelhos injetados de sangue, com um misto de medo e ódio enquanto era encoxado pelo defunto.

- Ei Bill, acho que você terá um trabalhinho extra hein, espero que não fique chateado se não tiver um adicional noturno – eu disse com um tom que eu chamaria de irônico, na falta de algo melhor.

Retirei os dois do porta-malas sob os protestos abafados de Bill, que eu não conseguia entender, mas acho que não eram coisas muito amigáveis.



Voltando ao assunto do porque desses dois aí embalados para presente, só tenho que dizer uma coisa, as vezes você tem sorte no jogo e as vezes não, eu não tive por um bom tempo, diga-se de passagem, o que me levou a dever muita grana para um figurão da cidade, e aprenda uma coisa, isso nunca é uma boa ideia. Bem, só tinha duas formas de pagar o que devia sem ter que dispor de minhas lindas pernas e braços para serem quebrados pelos leões de chácara:

A primeira delas era conseguir a grana e pagar tudo, coisa que eu, pelo que você esta imaginando, não poderia fazer.

A segunda seria enganar e tentar uma jogada arriscada que poderia significar minha própria vida.

É lógico que eu optei pela segunda, era para me foder? Então iria me foder com classe, mesmo que isso custasse meus culhões , seria minha jogada final.

Peguei uma mala velha, enchi com recortes de jornal, em formato de dinheiro, tinha visto em uma dezena de filmes, coloquei algumas notas por cima para dar aparência de muita grana e pronto, cliché eu sei, mas se eu soubesse como manipular as coisas, seria minha salvação, eu estava com um palpite que aquela noite ia ser minha. Só quem joga sabe o que é acordar com aquela voz tocando como uma sirene em sua cabeça te falando que é seu dia de sorte, só um idiota não daria ouvidos a essa dica.

Vesti meu melhor terno, tinha que aparentar classe, ou pelo menos um mínimo de dignidade, nesse meio quando se deve, se você assumir uma postura submissa será comido vivo, você pode estar cagando nas calças, mas mostre sempre um sorriso confiante, se preciso for treine no espelho, até conseguir a cara que seja convincente. Peguei a mala com uma pilha considerável de grana, se fosse grana, desci pelas escadas o elevador estava quebrado, isso poderia ser um mau agouro, mas eu estava confiante demais para dar atenção a isso, devia ter ouvido o elevador...

Fui ao encontro do figurão, que já tinha me mandado um recado polido através de Bill dois dias antes, um murro no estômago e um chute no saco, acompanhado de um bilhete carinhoso, que me convidava de forma jovial para comparecer em seu escritório em um endereço da sétima com a terceira, ao lado de um cassino clandestino que era muito bem frequentado.

royal

Cheguei lá procurando conter meu nervosismo e o suor de minhas mãos, para um jogador, um aperto de mão pode por tudo a perder, mãos sudorentas e frias podem dizer muito sobre você. Assim que cheguei Bill me recebeu, eu já era esperado, mas tive o cuidado de ir ao banheiro secar as mãos e checar meu olhar e sorriso confiante uma vez mais. Subi até o escritório, ele estava lá, Bill como um cão de guarda estava ao lado, o velho estava de costas para mim, eu só enxergava a sua careca povoada por parcos cabelos brancos penteados de lado para tentar diminuir a calvície, sua voz era cavernosa, ele nem se deu ao trabalho de se virar para mim e disse:

- Como anda a vida George? Espero que tenha sido bem tratado por Bill, você sabe, não é nada pessoal, são apenas negócios.

Eu só conseguia ver a careca dele e a fumaça de uma cigarrilha que subia pela sua cabeça que fazia sua figura parecer diabólica pronta para levar minha alma, mas respirei fundo e resolvi abraçar o diabo quando respondi de forma decidida e sem muita emoção:

- Bem Harry, você sabe que cordialidade não é uma especialidade de gorilas...

- Seu filho da puta! Retorquiu Bill já pronto para vir em minha direção com seus punhos fechados, quando foi impedido pelo velho que levantou a mão e fez um gesto para seu cão de guarda ficar quieto, e girou sua cadeira bem devagar para frente, olhou em minha direção com uma cara risonha e emendou.

- Mas você tem mesmo peito em seu filhote de ratazana?

- Só estou retribuindo a gentileza Harry.- Eu disse com um ar irônico.

- Bem uma das poucas coisas que eu admiro nas pessoas é valentia, no seu caso, posso interpretar isso como idiotice, mas vamos aos negócios pirralho, o que você tem ai para mim? Espero que sejam boas noticias que traga ai nessa mala, pois ao contrário, não serei tão cortês.

Joguei a mala de forma displicente na mesa, abri peguei um maço de notas verdadeiras que tinha colocado em cima e mostrei para Harry que viu e pareceu satisfeito quando pegou o volume e pediu para Bill recolher o resto dizendo:

- Pelo jeito você fez direitinho a lição de casa, não sei como você conseguiu isso, mas sua saúde aparentemente estará em melhor estado que de costume.

Fechei a mala em um estalo e disse:

- Devagar ai! Antes de entregar o dinheiro, gostaria de te fazer uma proposta. - Bill ficou bufando do meu lado impaciente, com um gesto Harry o fez voltar ao seu lugar no canto.



- Que proposta vinda de você poderia me interessar?

- Uma ótima proposta, que eu sei que você não recusará. Um ultimo jogo, afinal você tem que me dar uma chance de reaver todo meu dinheiro.

- Você me faz rir George, está fodido, por um triz para ficar sem andar e nem tocar punheta por muito tempo e está testando minha paciência é isso? Disse Harry brincalhão, mas com um subtom bastante assustador.

Engoli seco e disse

- Um tudo ou nada Harry, nessa mala tem exatamente o dobro do que lhe devo, quero apostar o que lhe devo mais a quantia que tenho aqui contra o mesmo montante de sua parte, se eu ganhar levo tudo, se você ganhar leva toda essa grana e eu te pago o equivalente de minha dívida hoje, em dois dias, senão você pode fazer o que quiser.

Harry gargalhou atrás de sua mesa como quem ouvia uma grande piada e disse quase de forma paternal para George:

- Como já te disse você não é valente, você deve ser um idiota, você esta pedindo para eu aceitar uma merda dessas? Você deveria estar internado seu filho de uma boa puta.

- Harry, nunca fui mais coerente com algo até hoje, eu acho que mereço essa chance, vim aqui para pagar tudo, eu quero só uma chance para recuperar a grana, eu sei que você é um grande jogador, e acho que não está com medo de perder para um pirralho, ou está?

O olhar de Harry tinha mudado para um profundo ódio, eu conhecia bem esse ponto fraco dele, ser desafiado, e o pior, ser questionado sobre sua coragem por um moleque. Harry como todo cara que tem muita grana e poder, tem junto com isso, um grande ego, e uma facilidade imensa de ter seu orgulho ferido, esse era seu calcanhar de Aquiles que eu estava contando para meu plano funcionar, Harry podia ser meticuloso e controlador, mas a vaidade o trairia e seria minha única chance de me safar dessa, dando um golpe no maior golpista da cidade, isso valeria como minha desforra pelos murros, chutes e pelo pirralho, se eu ganhasse logicamente.

- Seu filho da puta insolente, você entra em meu escritório e tem coragem de me peitar e de me chamar de covarde? Eu como pirralhos como você no almoço todo dia seu merda, não sei onde estou com a cabeça que não meto um tiro em sua carcaça imunda eu mesmo...

- Bem Harry se eu sou um pirralho, qual é o problema? Aceite minha proposta.

- Seu moleque, terei que te dar uma lição, mas será nos meus termos, uma mão apenas, sem corrida, sem apelos, se eu ganhar, você terá 24 horas para conseguir o dinheiro e o Bill te fará companhia durante esse tempo, ele não sairá de sua cola e você terá todos dedos de sua mão esquerda quebrados por mim antes de sair daqui para buscar o resto da grana. E se por acaso você não conseguir, seu corpo aparecerá boiando no esgoto um minuto após o prazo, quero ver se ainda é tão corajoso.

Eu já via meu corpo dividindo espaço com a merda da cidade bem antes disso se eu perdesse, eu tinha naquele momento a consciência da enrascada que tinha me metido, mas o inferno abriu as portas, seria de bom tom entrar e pedir uma bebida por conta da casa.



- Claro que aceito, afinal não é de momentos assim felizes que é feita a vida?

Os olhos do velho brilharam como faróis de neblina, atrás de deles eu podia ver uma fornalha de enxofre e napalm pronta para me torrar vivo como um churrasco de esquina.

Descemos para o andar debaixo, uma mesa de canto foi utilizada para nosso jogo, eu procurei acender um cigarro para diminuir minha ansiedade, não poderia demonstrar o quanto estava com medo, se eles desconfiassem que eu tivesse blefando desde o começo, os urubus não teriam grande coisa para disputar do que sobrasse de minha carcaça.

Bem era uma partida de tudo ou nada, naquela única jogada meu destino estava selado, o que eu estava apostando ali era a minha vida, se eu ganhasse eu sairia com ela e uma boa grana no bolso, o que seria muito justo, afinal, para mim minha vida valia bastante, o bastante para me aposentar definitivamente das mesas de pôquer.

Bem o crupiê era o próprio Bill, ele distribuiu as cartas, e abriu de cara as três cartas do flop, eu tinha com muita sorte um full house bem meia boca, mas isso já me animou, Harry estava com um sorriso largo, e disse

- Engula minhas cartas seu pirralho de merda!

E jogou na mesa um flush de espadas, já ia pegando a mala que estava em cima da mesa, eu respirei aliviado e já soltei agora confiante.

- Espera ai isso é um jogo que se apresente?

- O que você esta dizendo seu merda, mostre suas cartas...

- Bem vamos deixar isso mais interessante, dobro a aposta agora, tudo isso que está na mesa, sei que não foi o combinado, mas já que estou com muita coisa em jogo acho que tenho direito de te desafiar uma vez mais.

- Você só pode estar gozando de minha cara seu filho da puta, você acha que eu vou cair nessa? Você quer só ganhar tempo...

- Vamos lá Harry, se você acha que estou blefando, por que não paga? Veja bem se você disser não, eu consideraria que você está com medo de perder, e eu poderia simplesmente achar que tenho o direito de não mostrar minhas cartas, já que se recusou a compartilhar minha aposta, e eu já estaria ganhando, afinal você como jogador que é, nunca foge de uma boa aposta.

- Você está blefando seu desgraçado, eu poderia simplesmente te apontar uma arma ou pedir para o Bill mostrar suas cartas e você já estaria fodido de qualquer forma...

- Sim claro que sim, mas ai você estaria dando prova de sua incompetência nesse jogo, mostrando todo seu medo correndo de uma aposta, que tanto para mim quanto para você, é sagrada, afinal a mesa de pôquer é nossa única religião.

Harry ficou em silêncio, dava para ouvir os clics de seu cérebro funcionando, afinal a honra de um jogador é o respeito na mesa, ele foi desafiado, poderia sim, e estaria no seu direito de ver as cartas e recolher o dinheiro ou pagar ali, afinal tinha sido combinado, mas o mecanismo de quem joga é bem mais complexo que isso, o desafio, a curiosidade, e principalmente a ética que rege a etiqueta dos jogos, onde aquele que corre de uma aposta ou se nega faze-la, é considerado fraco, covarde, em um mundo onde força e a reputação são as principais qualidades de qualquer homem que se preze . Harry sabia que o que estava em jogo ali era o poder, mesmo que eu estivesse blefando, se ele forçasse eu mostrar as cartas sem ele aceitar meu desafio, seria o mesmo que jogar sua reputação no lixo ganhando ou perdendo aquela mão, ele cairia em um abismo que um jogador de sua estirpe não poderia suportar, foi ai que ele levantou a cabeça e disse:

- Vamos lá pirralho, eu aceito, mas se você estiver blefando, além dos dedos ainda quebrarei também o braço em vários pedaços.

- Eu aceito, mas se eu ganhar quero poder dar um murro e um chute no saco de seu brutamontes, só por cortesia.



- Que seja, mostre logo essas cartas, que não tenho o dia todo.

Quando baixei meu jogo, o full house de cartas baixas, ele espumava de raiva, deu um murro na mesa e viu que tinha caído em minha armadilha, que eu tinha apelado para sua ética de jogador para manipula-lo, um moleque o bateu em seu campo, literalmente lhe passou a perna.

Ele se levantou resmungando, foi até um cofre, pegou o equivalente de nossa aposta, me deu em um saco preto de lixo, e eu o peguei e e antes de sair dei meia volta e falei:

- Ainda não peguei tudo que eu apostei. - Desferi um murro bem no meio do nariz de Bill e emendei um chute no saco do desgraçado que se curvou e caiu de joelhos.

Tudo tinha dado muito certo, valeu cada momento que passei cagaço de tudo dar errado, mas existe uma coisa nessas ondas de sorte, elas vêm e vão, eu sabia que tava tudo perfeito demais, como disse lá no começo, devia ter ouvido o elevador. A ética dos jogadores só dura enquanto o campo sagrado, ou seja a mesa, está entre os jogadores, depois disso, bem , depois disso nada mais é sagrado.

Sai depressa com um sorriso equino, tão confiante que nem me dei conta que estava no olho do furacão, tinha sido fácil demais, e mais uma grande lição que deixo é: Nada é fácil demais, tudo geralmente tem seu preço e nunca é barato.

Quando entrei no meu carro, joguei o dinheiro no banco de trás e vi de súbito um vulto passar atrás do carro, é extremamente básico, eu devia ter previsto isso e não me deixar embebedar pela glória e ter baixado minha guarda. Se quem perdeu tem mais poder que você, não está acostumado ter prejuízo e deixar por isso mesmo. Eu me dei conta disso da pior forma e meio tarde demais.

Quando notei a sombra, a porta do carona foi aberta com violência e só tive tempo de ver duas mãos me puxando pra fora com força, era Bill, com o nariz ainda sangrando. Pelo menos eu tinha feito um bom estrago... Um pouco a frente estava Harry com uma arma na mão, era uma cena patética, pois ele era muito baixo, parecia um pinguim com aqueles poucos cabelos desarranjados que tinham desgrudado de sua careca, na lateral de sua cabeça. Mas, patética mesmo era a minha situação, estava seguro pelos braços por Bill, não adiantava tentar me debater, ele era um cara muito grande, estupido, mas tinha muita força.



Harry começou a falar com uma voz não muito calma, para dizer o mínimo:

- Você achou mesmo que iria sair assim dessa forma sem se despedir direito de seus amigos Georgie? Eu deveria ter lhe falado que sou um péssimo perdedor.

Eu já começava a suar, já estava pensando com carinho nos urubus que seriam meus companheiros logo mais.

- Bill solte esse verme e fique de olho nele, ele não é tão idiota de fazer alguma besteira.

Bill obedeceu, mas não antes de me dar um murro certeiro no baço, parecia que tinha sido golpeado com uma barra de ferro, me curvei de dor e cai quase desmaiado no capô do carro.

- Bill pegue a grana e vamos deixar esse merda ir embora, acho que a idade esta me deixando de coração mole, estou até respeitando a vida dos piores seres rastejantes.

Bill obedientemente foi até o banco traseiro pegou o saco com a grana trouxe para fora, Harry abriu e deu uma checada estava tudo lá. Bill foi de volta pegar a mala. Nesse momento, ainda me recompondo do golpe voltei à consciência de forma instantânea, meu sangue estava prestes a congelar nas veias. Eu teria muita sorte de sair dali vivo se eles demorassem em notar meu golpe, mas eu sabia que era questão de tempo até me caçarem como rato pelas ruas. Se eu fugisse da cidade teria escroques atrás de mim onde quer que eu fosse até Harry ter minha cabeça em uma bandeja de prata.

Bill pegou e colocou a mala próxima aos pés de Harry, que ainda apontava sua arma para minha direção. O velho passou a arma para Bill e veio em minha direção, olhou bem nos meus olhos e disse:

- Espero que tenha apreciado o tratamento vip Georgie, a vida é um pouco má, mas quem nasceu para perder tem que continuar perdendo, essa é a lei da selva... - Ele não chegou terminar a frase quando ouvi um disparo seco, seu corpo caiu em cima de mim com olhos arregalados, vi de relance Bill segurando a arma ainda fumegante olhando com cara de idiota para a cena, ele resolveu pensar por conta própria naquele momento, o que era inusitado, acho que tinha enjoado de ser o cão de guarda e resolveu evoluir para algum animal maior e mais faminto e a situação era propícia para se alimentar com muita gula, só tinha um pequeno problema, EU. Ele provavelmente não queria uma testemunha nem um parceiro para tomar um chá no final da tarde, e isso me fazia seu próximo alvo.



Mas Harry era um cara durão ele não morreria assim tão facil, só estava ferido, e me empurrando com força levantou-se e foi para direção de Bill como um coiote raivoso, se jogando com tudo em cima do agressor derrubando o brutamonte no chão que disparou um segundo tiro que ricocheteou nas paredes da garagem, indo bater em um vidro de um carro alemão, provavelmente de Harry. Me escondi atrás de meu carro, era mais uma vez tudo ou nada, sabia que aquilo iria feder muito mais. Ouvi mais um disparo e o barulho tinha cessado. Olhei por cima do capô e vi Bill tentando se levantar enquanto Harry jazia estendido de barriga para cima com uma grande mancha vermelha em sua lateral, ele ainda estava vivo mas muito mal. Bill conseguiu se levantar mas estava de costas para mim, em seu cérebro de ameba ele devia ter esquecido de minha existência naquele momento, mas não demoraria muito para se lembrar. Ele estava com a arma em punho e ia disparar mais uma vez no velho para terminar de vez com aquilo e depois iria encerrar seu turno comigo.

Enquanto ele ainda estava se ajeitando para dar o tiro eu pensei rápido, vi um vergalhão de ferro usado para baixar portas corrediças ao lado do carro alemão, rastejei até lá como um verme, peguei o pedaço de ferro e fui bem lentamente atrás do gorila raivoso. Harry resmungava algo como ter tratado Bill como um filho e essas baboseiras que sempre se fala quando Brutus trai Júlio Cesar. Impassível Bill ainda apontava a arma para a cabeça calva do velho pinguim.

Em um golpe rápido desferi um golpe certeiro na têmpora do desgraçado, que caiu como um saco de bosta, Harry só resmungava, não duraria muito mais.

Eu já estava na merda, então resolvi mergulhar de vez nela, peguei a arma, coloquei na cintura, procurei alguma coisa que pudesse utilizar para imobilizar Bill antes que acordasse. Achei uma corda de náilon usada para fechar caixas e alguns rolos de fita adesiva que deveriam ser usadas para a mesma coisa. Amarrei Bill com muitas voltas para ele não poder se soltar e o amordacei com varias tiras de fita adesiva, fiz o mesmo com o velho que ainda gemia e perdia muito sangue, peguei o saco de grana coloquei no banco de trás, agora precisaria dar um jeito naqueles dois, por o lixo pra fora, eu só tinha uma certeza, eles teriam que sumir, era meu rabo ou o deles, não poderia mais voltar atrás. Abri o porta-malas e vi que caberiam os dois ali se eu os apertasse um pouco. Harry foi fácil colocar lá atrás, mas Bill era muito mais pesado, quase tive uma torção nas costas, encaixei-os lá e dei mais umas voltas de corda por precaução, tranquei o porta malas entrei no carro e acelerei, no caminho roubei a pá sem pontas e a enxada pouco confiável de uma construção que tinha um vigia bêbado, que tinha dormido com um radio ligado sintonizado em uma estação religiosa com algum pastor insano gritando coisas sobre o inferno, esse pastor não sabia de nada.



Aí voltamos à cena que eu estava com Bill, ainda enrolado nas cordas e na mordaça, Harry já tinha ido visitar o diabo, agora não necessitaria mais pentear seus cabelos do lado para tapar sua careca, para onde iria não precisaria mais se preocupar com isso.

Encostei o corpo do velho em uma árvore qualquer e Bill, deixei ali jogado como um trapo velho. Comecei a cavar primeiro com a enxada, que era uma merda, ainda bem que a terra era relativamente macia, depois usei a pá para finalizar. Cavei por mais de duas horas, logo iria amanhecer e os primeiros corredores que madrugam iriam começar a aparecer, acelerei o máximo que pude. Sai do buraco, com certo orgulho de ter conseguido cavar tudo aquilo, puxei Harry pelos pés, peguei a carteira, seu relógio que parecia caro, o maço de cigarrilhas cubanas, e depois o joguei, ele estava mais patético que de costume, agora era a vez de Bill, ele já era um trambolho pesado e ainda se debatia, só dificultou minha vida, mas consegui o fazer rolar cova à dentro.

Eu dei uma ultima olhada antes de começar a cobri-los com terra, conseguia ver o terror estampado no rosto do símio gigante, cada pá de terra que caía em sua cara redonda ele gemia mais alto, até que depois de algum tempo seu corpo parou de lutar e ele não resmungou mais, parece cruel, eu poderia tê-lo matado com um tiro, mas não acho que ele valia uma bala, ainda mais ao preço que está custando a munição hoje em dia, a terra fez o mesmo efeito e com menos barulho.



Quando terminei acendi uma cigarrilha cubana encostado na porta de meu carro, os primeiros raios de sol estavam começando a brilhar no horizonte, com um sorriso no rosto me lembrei que eu era um cara com muita grana.

Depois disso tudo iria mudar de vida, tinha aprendido minha lição. Guardei as ferramentas, dei uma geral no local pra não deixar pistas, só pensava em ir para casa tomar um trago, nunca mais entraria em uma mesa de pôquer, daqui para frente só iria apostar em cavalos...

por Cleiner Micceno

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