quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

DVDs recuperam toda ira de Sergio Bianchi

Essa entrevista me chamou a atenção, resolvi publicar aqui para alguem q não tenha visto , vale a pena, Sérgio Bianchi é um de meus cineastas preferidos da atualidade.


Mais comentados do que vistos, os filmes de Sergio Bianchi são, enfim, lançados em DVD. A caixa reúne cinco discos, com curtas e longas-metragens, e antecede a chegada aos cinemas de "Os Inquilinos", seu mais sereno filme, com estreia marcada para o próximo dia 26.
João Sal/Folha Imagem
Sergio Bianchi em foto de 2006; filmes do diretor são relançados em caixa de DVDs
Sergio Bianchi em foto de 2006; filmes do diretor são relançados em caixa de DVDs

"Falam que sou tosco? Agora poderão ver os meus filmes e dizer se sou mesmo", afirma, sem disfarçar o ressentimento que leva consigo. "Todos foram muito mal distribuídos. Pode ser que, assistindo aos filmes, algumas pessoas revejam a fama desagradável que eu adquiri e que está me incomodando." Que fama? "De que sou um troglodita! Tudo bem, tenho rompantes, mas agressão física, nunca. Bom, só uma vez...", diz, rindo da contradição.

Bianchi recebeu a Folha em seu apartamento, no centro de São Paulo. À entrada, há uma bicicleta, que, avisa, nunca sai dali. Acima do sofá, um quadro de sua lavra. Jogou rasgos de tinta sobre uma fotografia de 1940 e mudou as feições de seis mulheres unidas por um traço: o estrabismo.

Apesar de a família ter sonhado, para ele, um futuro de engenheiro, logo cedo foi capturado pelas imagens: o avô e o pai eram fotógrafos. Nos anos 1970, quando batia as primeiras claquetes em sets, trabalhava também com fotografia e design. "Decorei apartamentos, fiz caixas para famílias ricas. Era metido a artista." Era? "Virei burocrata. É tanto carimbo para fazer um filme, tanto documento, que parece que só faço isso. Perdi o frescor."

É, de certo modo, esse frescor --ainda que torneado por cenas cruas e frases de efeito -- que se encontra em sua estreia, "Maldita Coincidência", um apanhado de esquetes que soam como preâmbulo aos filmes que se seguiriam. Havia ali, porém, uma ironia e uma ousadia estética que, com o passar do tempo, parecem ter se enrijecido. "Não sei muito bem o que fiz nesses 40 anos. É difícil falar dos meus filmes, são coisas que nunca revi", diz.

"Só sei falar que "Cronicamente Inviável" e [o documentário] "Mato Eles?" me deram muito prazer. Dos outros, me lembro de brigas, dificuldades e dos amigos mortos." Bianchi cita também alguns momentos que, tal e qual uma foto, ficaram fixados na sua lembrança.

De "Romance", congelou a cena de sexo que, pela dificuldade de transportar os equipamentos pelas escadarias do Masp, foi feita com uma equipe reduzida. "Criamos um clima ótimo e a cena funcionou como poucas."

De "Cronicamente Inviável", guardou a comida feita por uma mulher num casebre perdido numa estrada em Roraima. "Ela tinha quatro pratos. Como éramos uns 20, fizemos um revezamento."

Dos incômodos, guarda, sobretudo, a eterna cobrança de um cinema brasileiro que, a seu ver, é esquizofrênico. "Há um modelo imaginário de como deve ser o cinema brasileiro, do que é popular. Mas o erro de raciocínio começa na distribuição. Não há espaço real para o cinema nacional. No meio dessa indústria imaginária, tento entender a realidade. Pode até ser que eu entenda errado, mas por que edulcorar?"

FILMES DE SERGIO BIANCHI
Direção: Sergio Bianchi
Distribuidora: Versátil
Preço: R$ 160 a caixa; R$ 44,90 cada
Lançamento: hoje, às 19h, na Livraria Cultura (Shopping Bourbon, r. Turiassú, 2.100), com debate com o diretor


Arte Folha

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