quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Transgressão e subversão musical - Uma entrevista com Rai Mein


Rai Mein é um ser controverso do meio underground sorocabano e agora campineiro, sem papas na língua quando se trata de qualquer assunto polêmico.
Em seu estilo briguento e contestatório ele esta com o projeto " A Transgressão" que está causando um certo desassossego. Aproveitando-se das boas criticas e do crescente interesse pelo seu som sujo no mundo virtual, que é uma arma para aqueles que ainda respeitam o termo underground e liberdade no sentido mais amplo usado na música, ele fala sobre tudo e todos.
Com vocês Mr. Rai Mein, distorcendo seus sentidos no Stalker Shots


Cleiner Micceno - Gostaria que você falasse um pouco de você mesmo e como começou e quais foram suas principais influências?

Raí Mein - Sou Rái, J.Mauro, Junior, Tuco, Sabiá, dependendo da necessidade, local ou grupo de pessoas ou não. Sobre as influências, seria injusto citar apenas uma ou cinco, então faço uma pequena seleção: Lou Reed, The Cure, Bowie, Iggy & the Stooges, Vzyadoq Moe, The Cramps, Harry, Siouxie & the Banshees, Cocteau Twins, The Fall, Nine Inch Nails, Sisters of Mercy, the Neon Judgment, Link Wray e toda a garagêra suja e cheia de fuzz que existe pulsando por aí. Curto tudo que toca a alma, de Nelson Gonçalves à Clementina de Jesus. É aquela estória “musica boa não tem estilo”.


C M - Fale um pouco da sua trajetória na musica. Sei que vc tocou um tempo com a banda Fortunetellers de Sorocaba.

R M - Em 1998, eu estava numa merda desgraçada. Tinha quebrado um fêmur e estava fodidasso. Um amigo, o Inácio, começou a fazer umas aulas de guitarra e toda semana, ele me visitava e passava alguns acordes pra mim. Devo ter aprendido uns quatro, cinco no máximo, mas os bicordão eu aprendi, então, com todo o tempo do mundo que eu tinha pra me recuperar, pedi emprestado um teclado do Francisco (outro amigo), e mesa, microfone e pedal zoom do Inácio. E foi então que eu fiz uma demo-tape, com 5 faixas e distribuí para a galera. Fui criticado, pois era “muito dark e pesado, principalmente nas letras”, mas o Renato Bizar (wry) curtiu e me convidou a ensaiar no estúdio dos caras. Foi então que acreditei que, mesmo sem tocar bosta nenhuma, quem sabe um dia daria pra formar uma banda. Depois disso, fiz uma passagem turbulenta pelo Automatic Pilot, e após isso Marcio Bertasso me convidou pra formar uma banda rock’n roll sem imitar nada, então nasceu: The Fortunetellers. Toquei com eles de 2001 a 2006, e enchemos o saco um do outro (musicalmente falando) então, voltaremos em 2016 pra relembrar os velhos clássicos (haha), quem sabe gravar o que não foi gravado e mixar/masterizar direito aquela porra toda acelerada que está na Tramavirtual.

C M - Eu fiz uma parceria na direção de umas imagens do clipe “Downtown”, do Fortune , como foi a recepção da galera? Ouvi falar que a história da gravação é boa.

R M - Da época que foi lançado até agora, que eu saiba, todo mundo que viu, curtiu. Ninguém sabe como foi que o Rodrigo e o Japa conseguiram editar as paradas e fazer algo tão plausível - nem eles mesmos sabem! A gravação do clipe foi diversão pura. Catamos um Landau emprestado de Um amigo, gastei R$ 70 reais de gasolina, fizemos ótimas tomadas, o Emerson Punk* deu um rolezasso com o carrão e no final da história, o Rodrigo apagou 90% das gravações na volta, filmando a gente fumar. Eu queria matá-lo aquele dia. Outro fato curioso é que era para ser a Fernanda Sbraglia no lugar da Maritza, na personagem do clipe, mas acho que ela era menor de idade na época, e ficamos com medinho dos pais dela verem algo errado no vídeo. Nas filmagens de rua, saímos procurar uma traveca pra colocar no clipe. Demos 2 voltas e achamos uma loirinha bem rock’n roll, a Alexia, atual “Paris a vaca”. Ela arrasou, virou atriz na hora e posou para o nosso fotógrafo do making-off em belas poses.

C M - Depois dos Fortunetellers, o quê mais você fez na sequência?

R M - Final de 2007 foi uma época desoladora para os roqueiros de Sorocaba, o Zug Bar fechou, o Catraca fechou e até o Black Sheep fechou! Quem diria! Somente o Supersonic sobreviveu. O patrimônio histórico (que sobrou) de nossa cidade estava todo degradado, e a única coisa que a SECULT fazia, era trazer filarmônica européia e outros direcionamentos unilaterais da grana disponível para cultura, que ficou restrito (e à mercê) de projetos da Lei de Incentivo à Cultura. O então prefeito de Sorocaba, Renato Amary (PSDB), esmagou de vez a cultura, principalmente nos últimos 4 anos de seu governo, e foi baseado nisso que fiz “Constrói & Destrói”, me inspirando diretamente no Vzyadoq Moe e na história duvidosa da nossa cidade e das nossas raízes, e só depois percebi que ela faz sentido em quase qualquer cidade que eu possa cantar.
Carreguei a musica no site Fiberonline.com.br/transgressão e somente dias depois recebi recados em meu mail me parabenizando por estar entre os 10 downloads da semana. Era “Constrói e Destrói”. Pra mim foi uma surpresa. Então, pensei, se tem quem goste, vou tomar coragem e levar isso pro palco de vez. Sempre quis fazer esse tipo de som, mas nunca achei os caras certos pra somar.., E foi então que me mudei pra Campinas em Outubro de 2007 e toquei minha vida. Não faltaram convites pra tocar em bandas daqui, como Lunettes, Grease e o Rafael (ex.Astromato). Tranquei-me no apartamento e comecei a gravar uma porrada de bases com beats programados. Com o mesmo medo de mostrar para os amigos de 1998, achei que não era plausível e nem possível um formato de banda em 2 pessoas com um computador, teclado e pedal de guita pra tudo quanto é lado.,

C M - Fale do zine “ A corda”. Era um zine nos moldes antigos e bem feito, O que aconteceu com a ideia, existe alguma possibilidade de sair novas edições?

R M - Definitivamente, Cleiner, é muito difícil reunir pessoas que tem algo a dizer ao invés de apenas preencher o espaço. Se você torna democrática a produção, não pode censurar nenhuma contribuição ou discordar de coisas que, quem sabe, nada tenham a ver com a idéia concebida. É difícil explicar isso às vezes pras pessoas não é? E se você abraçar tudo, banca tudo e assume tudo pra si, então, não há prazer algum em fazer a parada. Muito trabalho e pouca (ou nenhuma) reflexão sobre nada. Ter um fanzine na city é muito legal, mas é uma responsabilidade a mais. Não sei se a nova geração quer ouvir o que eu tenho a falar, ou qualquer um que tenha vivido nessa cidade tenha a dizer algo pra eles. Me parece que não. Então, vamos pro salve-se quem puder de novo.


C M – O Vzyadoq Moe sempre foi uma presença constante na sua vida, como é o seu contato com os caras e sobre projetos com eles?

R M - Meu contato com os caras é o mesmo de sempre, desde 89: Um privilegioso acidente.
Se eu estou em Sorocaba e sei que eles estão lá reunidos, fico doido pra rastreá-los. Tenho mais contato com o Edgard, e com o Peroba (Marcos Stefani) que foi quem fez os Beats pra gente na versão de “Spreaded”- uma ótima experiência. Se continuar sendo da vontade deles, é só eles me chamarem que eu vou correndo, senão, eu mesmo corro atrás deles. Tenho muito respeito por esses caras, eles nem imaginam como as músicas mexeram com a minha cabeça.

C M –Como você vê essas bandas que foram ícones underground nos anos 80, vinte, vinte e cinco anos depois, como o Harry, como você processa isso em sua musica?

R M - Não processo nada, é bem automático. Faço o som do jeito que eu quero, para muitas pessoas essa sonoridade é de gosto duvidoso. E se era há 25 anos atrás, não vai mudar hoje. Se reinventar é uma piada nos dias de hoje, tem que experimentar. Enquanto eu sentir prazer em fazer músicas, seja lá como elas forem, eu vou continuar fazendo o que me der na telha.

C M - A Transgressão é um projeto antigo? Explique o processo de gravação e execução que você faz do trabalho e porquê optou pela sonoridade mais “old school”, por assim dizer?

R M - A Transgressão é um projeto antigo e desacreditado. O processo de gravação que usei em 1998, passo uma receita pra quem quiser voltar no tempo, ou simplesmente quem não tem equipamento certo pra fazer esse tipo de música:
- Um 3x1 com duplo deck
- 2 fitas k-7
- 1 pedaleira Zoom
- 1 distorção “T-Bone” Danelectro
- 1 teclado Casio toskão
- 1 microfone do Paraguai
- 1 mesa wattsom 4 canais
Daí equilibrava guitarra e beat, gravava um take de guita bem grave (parecendo um baixo) + beat do tecladão. Colocava o k-7, gravava e conforme mais takes, invertia as fitas, e assim subsequentemente (não podia gravar sobre montando mais de 4 takes, que ficava abafadasso) Depois metia modulação da pedaleira zoom infernal na guita, e por último, os vocais (mic ligado na pedaleira zoom). Agora gravo tudo no computador com uma mesinha Xenix, pedais de efeito, baixo e a “novidade”: Pedal de phaser e delay no tecladão Yamaha toscasso de feira (meu atual).

C M - Fale sobre o recém-lançado “Expo Dirty v2”. Por que “Spreaded” ficou fora do disco?

R M - Quatro dessas músicas perduraram em minha mente 10 anos: ‘Sickman’, ‘Down Screams”, “Hey You” e “I Told You”, e é um alívio tê-las gravado. Menos 4 fantasmas na minha vida. “Spreaded” ficou de fora, pois me comprometi a fazer nossa versão para o Ghost do selo virtual Phantasma13. Quem quiser é só ir lá no phantasma13.com e baixar no Tributo ao o Harry and the Addicts.


C M – Das bandas novas, quais você gosta?

R M - Das nacionais: We Have Some, Escarlatina Obcessiva, Plastik Noir, The Name, Zarbosa, Os Pontas, L.A.B., Modus Operandi, Lunettes e o reformulado H.A.R.R.Y. and The addict. Das gringas: The Warlocks, The Tamborines, TV on the Radio, The Black Angels, Parabólica…

C M - Como a mídia digital auxilia as bandas independentes na sua opinião? As majors estão fadadas ao fracasso?

R M - A indústria fonográfica é um tiro no pé atrás do outro. Só agora que estão começando a olhar para o underground. Saturou. Não tem mais pra onde correr. Prova disso é o milésimo ano que NxZero, Fresno e essas bostas ganham todos os prêmios na MTV, por exemplo. Tá pago, tem que dar o prêmio pros meninos ué. A mentalidade, quem sabe, está mudando agora. Desde cedo mamãe dizia que tinha que trabalhar se quisesse ganhar uma grana. Agora, você acha que eu, que enfiava 600 pau no bolso e ia pra SP na galeira da 24 de maio, fazia orçamento do que dava pra levar mais (não exatamente os itens que eu queria levar) segundo o custo-benefício, vou defender gravadora major? Por mim, que o mp3 seja um vírus incontrolável, mutante, selvagem e sem controle.




C M - Como você vê a relação do público que ouve musica hoje, comparado à época dos k7 e vinis?

R M - Ah cara, isso é a carne de vaca mais falada da praça, pense, antigamente a gente riscava uma música do disco, se não conseguisse tirar a porra do risco, fodia a musica, fodia o disco. Não é que nem hoje em dia, que se riscar o disco, vai lá no computer e baixa outra... Hoje, na questão de curtir um som, ninguém mais que tem um computador tem desculpas, é clicar e conhecer coisas novas sem medo! Antigamente dependia da loja trazer os discos, do preço, da disponibilidade... o album chegava 10 meses atrasado em Sorocaba, na Farao’s, e aquela lojinha com uma portinha com uma escada pra subir, na dr. Braguinha, depois veio o paraíso: A Transa-Som, alugando CD’s e vendendo só o fino da arte! Gastava todo o meu pagamento lá. Hoje? Galera vai ali baixar o Radiohead “à quanto eu quiser”, 2 minuto, tá no pente.

wry


C M - Você é amigo dos caras do Wry, como você vê o retorno deles pro Brasil , o que muda com eles no comando do bar Asteroid em Sorocaba ?

O Wry é uma banda louca. Todo tipo de coisa acontece com esses caras, e quem sou eu pra falar o que aconteceu em Londres? Eu nunca fui pra lá, e sei o que todo mundo sabe. Pra quem nunca viu ao vivo, os vídeos dos caras tocando por lá falam por si. Só não curte quem é do contra, porque o clima “Wry” prevalesse nas musicas, nos shows e soam exatamente como aqueles gloriosos shows do passado do Dr.N, do Sorocaba Club, com Pin Ups... só que agora um pouco mais alto com o pequenino equipamentinho que trouxeram. Eles são uma banda diferentíssima aqui no Brasil. O bar Asteróid está em boas mãos. O Mario é o cara dos contatos e vai trazer tudo que for de melhor, com certeza. Não vai mudar, já mudou o conceito na noite sorocabana.

C M - Agora fale-me dos projetos futuros, o que mais você tem nas mangas?

R M - Estamos incorporando um novo elemento na banda, o Gal. Ele me ajudará a controlar os beats, e intercala guitarra e teclado comigo, além de tocar maracas e meia-lua em algumas musicas, mas isso só no próximos shows, pois o cara toca muito... 2 anos de musica na UNICAMP e tal, mas ainda não conseguiu tirar as guitarras do primata-master da guitarra aqui.

C M – Deixe um recado para a galera que acessa o blog.

R M - Próximo sábado, vão ao show e se divirtam na pista dark do Tequillas Bar - dia 23 de janeiro. A Transgressão toca o set completo, luzes e fumacêra além da Jam com a convidada de São Paulo: MODEM. 22hs $7 Pista ao som dos bolachões de vinil da mais alta classe 80’s!


links :

transgressão music - http://fiberonline.com.br/transgressao
trama virtual - my space



fortunetellers - trama virtual
my space

tributo virtual ao harry - phantasma 13

constói & destroi video



show na estação de sorocaba projeto gerador - spreaded



Clipe Downtown da banda fortunetellers

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