Karl Marx já dizia que a religião é o ópio do povo. Hoje, é o cientista Richard Dawkins, que esteve recentemente na Flip, quem ostenta a bandeira do ateísmo. Autor do polêmico "Deus: um Delírio" -- bem como de outros best-sellers como "O Gene Egoísta"--, ele tenta provar, em seus estudos e em sua peregrinação pelo mundo, o quanto nutrir uma crença é absurdo e nocivo.
Richard Dawkins mostra documentários no GNT
Um dos resultados de seu trabalho é o documentário "Deus: um Delírio", e também "O Vírus da Fé", igualmente conduzido por Dawkins.
Nos vídeos, o estudioso viaja a diferentes partes do mundo, sempre questionando a fé religiosa. Em Lourdes, na França, centro de peregrinação católica, presencia pessoas doentes em macas e cadeiras-de-roda que enfrentam longas distâncias em busca de cura. Ao conversar com um padre do local, constata um número intrigante: dos 8 mil peregrinos com problemas de saúde que passam pelo santuário anualmente, apenas 66, em toda a história, mostraram recuperação. Para o cientista, mais uma prova de que a fé em nada auxilia.
Dawkins ainda discute crenças cristãs, como a que diz que Maria, mãe de Jesus, não teria morrido em corpo, mas teria sido carregada por anjos até o céu. Durante seu discurso, o estudioso ressalta que, a partir da religião, derivam guerras e atos violentos. E questiona: ainda que alguns religiosos não prejudiquem ninguém, não é melhor encarar a verdade do que abraçar uma falsa esperança?
A insistência de Dawkins -- ele tem um canal oficial no Youtube, além de protagonizar dezenas de palestras, entrevistas e vídeos pró-ateísmo -- no que ele chama de "defesa da verdade" é admirável. É interessante conhecer um ponto de vista corajoso em um mundo tão dominado pela fé.
Como não comemoro natal, desejo a todos um HAPPY FESTIVUS for the rest of us.
Festivus é um feriado anual inventado na Roma antiga e adaptada aos tempos modernos pelo o escritor e editor da Reader's Digest, Dan O'Keefe. Foi introduzido na cultura popular pelo o filho de O'Keefe, um roteirista da série “Seinfeld”, em 18 de dezembro de 1997, no episódio "The Strike" (Temporada 9, Episódio 10).
O feriado é celebrado todos os anos em 23 de dezembro, mas muitas pessoas celebram-no em outras épocas, muitas vezes, para evitar a correria do Natal.
Inclui práticas como o "Airing de Grievances", em que cada pessoa informa todos os outros todas as maneiras que elas o decepcionaram durante o ano passado, e após um jantar de Festivus, o "Feats of Strength" é realizado, o chefe de família põe sua força a prova contra uma pessoa de sua escolha. Os participantes podem recusar o desafio sempre e quando tenham algo melhor para fazer.
Muitas pessoas, influenciadas ou inspiradas por "Seinfeld", agora comemoram o feriado, em diferentes graus de gravidade. Alguns cuidadosamente, seguindo as regras da série ou livros, outros divertidamente inventam suas próprias versões.
Ai vai uma letra do Peter Murphy e Tom Waits sobre natal que acho fantástica
Christmas Sucks
Oh, give me a noose I can hang from the tree I need no excuse to end my misery This holiday season is all the more reason to die Oh, pull up a stool and an ear to a fool Once found some solace in the season of yule This holiday season is all the more reason to cry I put on my mittens, one green and one red And I walk alone where they bury the dead The snow falls as I breathe It's a Gothic, death-rock Christmas eve The bottle is empty The sleigh has a flat The stripper in my bed is ugly and fat Her tassels are tangled and what's worse My jingle won't jangle This time of the year makes me sick to my guts All this good cheer is a pain in the nuts When it's your career to be down in the dumps Tidings of comfort and joy really suck I feel like St. Nicholas is pulling my leg This thing we call "Christmas" is a sorry black plague This holiday season is All the more reason to die
Ele nunca tinha gostado de natal, isso remetia á época que era criança, ele e seu pai, sempre tiveram uma vida ruim, com muitas dividas e nenhum dinheiro. Alcoólatra inveterado, o pai, tinha muitos outros vícios alem do álcool , e um deles era jogatina. Sua maior lembrança de uma noite natalina, era a de seu pai chegando bêbado e nu em casa escoltado pela polícia; ele tinha , em uma única rodada, conseguido perder de uma vez, todo salário do mês e as respectivas bonificações de natal, assim como suas roupas, seu carro velho e logicamente tudo que restava de sua dignidade. Chegou em casa tiritando de frio e ressaca, com as mãos algemadas e um lençol, que envolvia seu corpo mirrado, seus olhos roxos e seus pés machucados de ter andado pelas ruas sujas da capital descalço. A mãe de Bert havia partido nessa época, mesmo ela sendo uma pessoa paciente e compreensiva, não conseguia mais agüentar os murros, os palavrões e a vida miserável que levava com o marido beberrão. Ela simplesmente pegou as poucas roupas e alguns objetos de família que ainda sobraram, objetos esses, que o pai não havia dilapidado, por ela os guardar em um buraco debaixo da cama. Ela saiu porta a fora deixando Bert, com 12 anos, que ficou para trás dormindo em seu colchão. Ela saiu sem acordá-lo, e quando ele ouviu a porta bater, despertou assustado e correu até a rua, onde viu sua mãe ir rua a baixo, entrar em um carro e sumir no horizonte gélido e cinzento da cidade, sem olhar para trás. Sentiu o choro bater á porta dos olhos, já rasos d’água, mas segurou-se firme, sua mãe deveria voltar para buscá-lo, foi o que ele havia imaginado enquanto o carro sumia na imensidão das ruas negras.
Bert se tornou um adulto muito cedo, não tendo muitas lembranças de brincadeiras e coisas infantis, mas apenas da responsabilidade de pedinchar nas ruas, que cabia a ele, que tinha uma saúde muito frágil, devido aos maus tratos e vida desregrada das ruas para ter algum dinheiro para comer.
Sabia que seu pai chegaria do trabalho que havia conseguido a alguns dias de porteiro de uma espelunca, do qual logo seria chutado, como sempre ocorria, assim que começasse a arrumar problemas por causa de suas bebedeiras constantes. E quando chegasse, bêbado e sem dinheiro, descontaria nele, uma coisa corriqueira.
Teve de aprender a ser forte para poder proteger a mãe da fúria do velho. Por sua cabeça passava um turbilhão de idéias , inclusive de ir atrás de sua mãe e trazê-la de volta ou sumir no mundo de vez, afinal seu pai não era exatamente um exemplo de pessoa de bem, mas ele nem imaginava onde a mãe estava, ou com quem ela havia fugido, apenas se resignou em suavida medíocre e miserável.
o velho estava doente e abatido, e provavelmente logo pereceria, afogado em alguma garrafa ou poça de vômito. O Pai era o que sobrara de sua família, e ele se sentia obrigado a ficar com o velhote, até sua mãe aparecer de volta e levá-lo dali.
Ia à igreja todos os fins de semana, para poder conseguir alguma comida, com a única condição que ouvisse os ensinamentos do padre, que sempre dizia coisas como: – Honrarás pai e mãe. A família é nosso bem mais sagrado, mesmo nas dificuldades, devemos manter sempre a retidão e o amor aos pais e a família... – Essas palavras do pároco pareciam uma piada de mau gosto, principalmente quando ele era surrado com um pedaço de madeira que seu pai deixava atrás da cama quando ele voltava sem dinheiro, principalmente quando ele estava desempregado sem ter possibilidades de beber. Mas, mesmo estando mais maduro do que se esperaria em sua idade, muitas coisas soavam a seus ouvidos como verdades absolutas, que sua dor daria redenção no além túmulo, que ele teria que, por fim, cuidar do pai. Saia às ruas , perambulando, para conseguir algo para comer, se sentiu ainda mais solitário, as pessoas pareciam mais assustadoras que antes, ele se sentia um cão à procura de uma lata para remexer, iria passar mais uma noite entre as marquises e os becos enfurnados na escuridão, em contraste com as ruas cheias de luzes, não queria voltar para casa, não precisava de mais surras, mas sempre acabava voltando e aceitando suas punições.
Em um dia de agosto, viu seu pai deitado na cozinha com um litro de gim nas mãos estava desacordado, assim que ele adentrou o pequeno aposento, escuro esujo viu seu pai começar adespertar, e em vez de violência, ele começou a chorar como um bebê e abraçou o filho e disse: - Sua mãe nos deixou sozinhos para apodrecer aqui filho, e desde que ela se foi, é o que estamos fazendo, sente-se aqui e beba com seu pai, vai aliviar nossas dores. -Essa foi uma das maiores lembranças de sua juventude, o primeiro trago com o pai, que naquele momento, mostrou um lampejo de humanidade, pela primeira vez se sentiu próximo à aquele que era seu algoz. O gim desceu quente em sua garganta, entorpeceu seu corpo, o pai acendeu um cigarro mofado, soltou umas tragadas e compartilhou daquela garrafa com o filho pelas horas seguintes, naquela noite fria, Bert, se sentiu confortável, com menos dores em seu corpo pequeno e esquálido. E os devaneios com sua mãe em campos verdejantes vieram aos seus sonhos e ele sentiu-se bem.
30 anos depois ele estava estático, frente a uma garrafa de gim, igual aquela que ele e seu pai beberam naquela noite de agosto, e ali ele entendeu seu pai, e como amigo de copo eles se entenderam com o passar dos anos o amor paternal residia em uma garrafa. Os anos ao lado do pai foram difíceis, sua mãe nunca mais voltou a vê-lo; ficou sabendo uns anos depois, que ela estivera dançando em uma boate no subúrbio e havia morrido de tuberculose em um porão que dividia com algumas putas casuais.
Os anos passaram, seu pai veio a falecer em um outono qualquer, sem glórias nem honra, apenas um par de bêbados e ele aos pés da tumba, bebendo a sua saúde. Sempre se sentira muito sozinho, mas naquele dia sua solidão se tornara amarga. Saiu pelo mundo com sua solidão, seus pensamentos e sua falta de perspectiva.
Mas a herança paterna do vício pela bebida tinha frutificado em sua personalidade, Bert tinha conseguido varias prisões por bebedeira e desordem e inúmeras internações em instituições que o faziam ficar ocupado o dia todo, recortando coisas como uma criança imbecil, e o entupindo de remédios em buracos solitários, quando ele se comportava mal. Tinha se cansado da vida no fio da navalha, queria se emendar, arrumar uma boa mulher, ter uma vida estável ou algo assim, quem sabe um filho, uma casa no subúrbio e simplesmente ter paz, e acalmar os demônios internos que o chamuscavam todos os dias, com suas línguas de labaredas ferventes que queimavam seu corpo.
Já estava sóbrio há três meses, estava prestes a entrar em seu novo emprego, a garrafa de gim brilhava em sua frente, mas ele não podia abrir, tinha que ser resistente só dessa vez, para se redimir consigo mesmo. Era quase natal, faltavam poucos dias para a festa, talvez essa fosse a primeira vez que conseguiria festejar a data sem nenhum problema, sem nenhum fiasco ou decepção.
Tinha conseguido um emprego de final de ano muito bom com boa grana, ele seria o Papai Noel , vestiria a barba, usaria um pouco de enchimento, já que ele conseguira engordar uns 10 quilos nos últimos meses, a garrafa de gim estava lá, intocada, desde o dia que ele a comprara, como uma arvore de frutos proibidos; naquele minuto se sentia Adão domando a serpente iconoclasta, que o chamava e tentava ludibriá-lo com um gole apenas, mas um gole apenas, o faria perder o paraíso, e ele não queria pagar esse preço.
Foi para o quarto vestiu as botas, o cinto preto a barba falsa, o enchimento. Estava perfeito, iria no bairro rico da cidade, distribuir balas e doces, fora contratado por uma agência de gente rica, que prestava serviços de recreação para grandes empresas.
O primeiro bairro foi um choque para Bret, as luzes cintilavam na frente das casas, construídas de forma sólida e altiva, ele sentiu sua insignificância naquele mundo cão do qual viera, em cada quadra que passava, crianças bem nutridas e bem formadas, estavam por toda parte, na inocência tola de todas elas, chegavam com suas ladainhas de presentes caros, viagens e coisas fúteis, ele apenas tinha de sorrir e falar que traria tudo se eles fossem boas crianças. Alguns eram agressivos, ameaçavam o pobre Bret, que estava fantasiado de papai Noel e tinha que responder sempre com sorrisos gélidos, como a neve falsa que era colocada em frente de algumas casas, eles seriam os futuros patrões de alguns Brets desvalidos como ele, e viu a insignificância de tudo aquilo, e como se lembrava de sua infância, sem presentes nem desejos, apenas raiva e vergonha, nas vitrines coloridas que estavam tão distantes de sua realidade, dos pés descalços chafurdando na lamapútrida do subúrbio onde morava, em contraste com aqueles pestinhas mimados, qual era o significado daquilo? Não sabia responder. Nunca fora político, nunca tinha encarado suas próprias insignificâncias, sua vida azarada e disforme, longe daquele tecido social cheio de brilho, ele se sentia um lixo humano, a garrafa de gim brilhava em sua cabeça, ele só pensava em como seria bom ter um gole para poder afastararealidade sombria daquele momento, pensava nas palavras ridículas do padre de sua juventude, que devia comer frangos assados e tortas de maçã, e depois arrotava as vicissitudes da pobreza e da fome, isso era uma boa hipocrisia.
Finalmente ele pode ir embora no final da tarde, já tinha agüentado muitos desaforos por um dia, mas tinha que pensar que, talvez, esse seria o primeiro passo para ser alguém socialmente aceitável, talvez tivesse que passar por essa provação, para se tornar mais forte. Pensando dessa forma idílica , foi para casa onde encontrou a garrafa ainda intacta naquela noite fria, resistiu, foi mais a fundo em seus pensamentos deitado na cama revirando-se dos lados sem conseguir dormir.
No outro dia mais uma maratona, mais sorrisos metálicos, mais sons de algazarra, mais crianças mimadas e bonitas, ele estava cada vez mais depressivo, só conseguia pensar no horário de ir embora, era como desancorar de um rio infernal e as tormentas o levarem para o centro de seus demônios, das bestas que habitavam seu ser, refletia cada minuto nas desigualdades da vida, como pessoas vivem tão felizes em suas casas, enquanto alguns perambulam sem rumo pelas ruas, com o único companheiro sendo uma garrafa de álcool, que atenuava a dor e esquentava a alma combalida e gélida daqueles que já perderam qualquer esperança.
A semana foi seguindo e o natal estava próximo, a garrafa de gim ainda estava la, pousada sobre a mesa da cozinha, o rotulo já estava derretendo de tantas vezes que fora manuseada sem ser aberta, os espíritos que viviam dentro dela o chamavam pelo nome, às vezes ele via a cara de seu pai afogando-se na garrafa, olhando para ele com a cara infeccionada, com olhos mortiços e um sorriso magro, sem dentes, ele via nisso, o seu próprio futuro se ele se rendesse.
Dia 24 de dezembro a véspera de natal ele teria um turno mais puxado, porem seria o dia de receber seu salário, foi menos angustiado, sabendo que logo tudo aquilo terminaria ele poderia voltar a sua vida e quem sabe começar o ano com algo melhor, um emprego de verdade, e talvez conseguir trazer a tona um pouco da dignidade que ele perdera ainda jovem. Ele estava feliz consigo mesmo tinha conseguido resistir aos apelos da garrafa que gritava seu nome durante as noites insones que se seguiram inexoráveis nos últimos dias, ele estava bem, ainda aturdido, cansado, mas se sentindo fortalecido, queria se tornar alguém, queria pelo menos considerado um ser humano e não mais um lixo urbano, que era sempre deixado de lado, pelas pessoas que passavam com olhar de repulsa; lembrou-se dos dentes brancos e bem alinhados de uma senhora, que lhe deu alguma esperança, naquela época que ele ainda era jovem, tinha 13 anos, a senhora parou em sua frente e ficou com pena, pois estava descalço e com fome, ela o levou a uma padaria e disse para ele que comesse o que quisesse, depois comprou uma blusa e calçados para seus pés sujos, e aquilo apesar de um gesto isolado e momentâneo, foi o bastante,para ele se sentir bem, ele sentia o calor e o carinho que não experimentava desde que sua mãe o havia abandonado.
Nesse momento em um estalo se decidiu, que faria o natal de crianças pobres como ele era, uma data especial, assim que recebesse ia pedir ao dono da loja que trabalhou a roupa emprestada, para fazer uma boa ação e refazer um gesto que ele havia recebido.
O dia chegara ao fim, foi na fila do pagamento recebeu seu dinheiro, conversou com o seu chefe que falou que tudo bem, quanto ao traje de Papai Noel, desde que a roupa estivesse limpa e passada logo após o dia de natal.
Saiu às carreiras, passou em algumas lojas que ainda estavam abertas, comprou vários presentes baratos, mas que fariam diferença entre as crianças muito pobres, ia aos cortiços ao redor da cidade, que estavam apinhados de gente faminta e crianças a um passo da indigência e criminalidade.
Saiu com algumas sacolas, vestiu mais uma vez a roupa agora seria para algo que ele achava correto, algo que salvaria sua alma atormentada.
Saiu com sua caminhonete caindo aos pedaços, com os presentes na carroceria. Foi na parte sul da cidade, iria para onde as crianças, em sua maioria, nunca tinham visto um Papai Noel que não fosse pela vitrine de alguma loja, que eles não poderiam entrar, foi se afastando das ruas asfaltadas, das luzes natalinas e dos néons brilhantes, chegou nos charcos das beiras mais sujas da cidade, o lixo o recebia em todas as direções, ele estava indo no mais distanterecôndito, onde as pessoas eram tratadas por “ratos” pelas pessoas que viviam na cidade. No caminho que seguia, visualizava-se a distancia o clarão da cidade, colorida pelas luzes natalinas, foi subindo umas estradas ruins e muito escuras até a beira do cortiço imundo, no alto de um lugar estéril, via-se de fundo a cidade estendendo seu tapete de luzes e sonhos.
Bret desce de sua caminhonete, sobe em sua carroceria e toca um sino, para chamar as pessoas. Seu traje encarnado atraiu olhares, que brilhavam no meio das casas feitas de madeira em sua maioria, olhosque se aproximavam, primeiro as dezenas depois as centenas, indo de encontro a luz e ao som do sino, os olhos famintos na escuridão agora ganhavam formas, pequenas formas humanas esquálidas, com uma fome ancestral em seus corpos, iam chegando e ficando em torno da caminhonete, Bret gritou e começou a distribuir presentes, que mãozinhas pequeninas pegavam sem saber o quefazer com aquilo, até que vários vultos cercaram toda a caminhonete e começaram a subirna carroceria, as sacolas foram destroçadas, Bret, já não tinha mais um sorriso nos lábios, as mãozinhas abandonaram os presentes de plástico barato e começaram a atacá-lo. Ele não conseguia sedesvencilhar dos vários pares de mãos que o agarravam ao mesmo tempo, tentava gritar, mas foi sufocado pela enxurrada de braços ao seu redor, sentia mordidas em seu corpo, Bret estava prestes a ser sufocado por todos os corpos que o envolviam, nesse momento ele apenas viu o clarão dos olhos mortiços do pai, levantando um brinde para a própria morte, sentado em sua lápide fria; o velho ergueu a taça, bebeu e caiu de costas em sua cova, foi o ultimo momento de consciência de Bret antes de fechar os olhos para sempre.
O corpo de Bret foi despido das vestes natalinas, sua barba fora jogada de lado; seu corpo foi colocado sobre um braseiro, para se tornar um grande festim atávico, carne era mais importante para a felicidade dos “meninos ratos”, que bugigangas de plástico barato. A sociedade os tinha transformado em canibais famintos, haviam desenvolvido seus mais selvagens anseios, retornado aos valores ancestrais dos seus antepassados, o ato de devorar os inimigos e trazer para si a força daqueles que eram tragados, como uma vingança, um presságio da revolução que se avizinhava, os “ratos” já estavam programando um levante faminto, que tomaria a sociedade civilizada de assalto, Bret seria apenas o primeiro a ser devorado pelos dentes pequenos e rápidos da massa faminta, o natal seria tingido de sangue e de carne de primeira da uptown.
E no momento que começaram os fogos de artifício, anunciando o natal, o corpo crepitava na fogueira antropofágica das crianças, que em círculo, esperavam sua porção.
Ao fundo, a cidade brilhava com as luzes vermelhas e brancas em um carpete que se estendia até o infinito; e enquanto a fogueira aquecia as almas famintas, prontas para seu aperitivo, milhares de olhos brilhantes iam ao encontro doa brilhos e das luzes, onde iria começar a verdadeira ceia natalina...
Por Cleiner Micceno
todos direitos reservado pelo autor, poderão ser utilizados mediante autorização.
Em fevereiro de 2010 realizaremos o 26º Dia do Quadrinho Nacional, com a entrega do Prêmio Angelo Agostini. Podem participar todo quadrinhista (profissional ou amador), estudioso, colecionador ou aficionado pelo quadrinho nacional, basta preencher a cédula e enviar para a caixa postal da AQC-ESP, para os endereços eletrônicos: votacao@aqc-esp.com.br e angeloagostini@bigorna.net, até 05 de janeiro de 2010 (se não quiser ou não souber, não há a necessidade de votar em todos os itens). Feita a apuração, os vitoriosos serão homenageados, com direito a uma exposição, troféu e muita badalação. O resultado final e o local da festa serão divulgados no final de janeiro em revistas, em jornais de circulação nacional, no site da AQC-ESP, no siteBigorna.net e no QI.
OS CRITÉRIOS Existem seis categorias no prêmio Angelo Agostini. Na categoria MESTRES DO QUADRINHO NACIONAL devesse votar em TRÊS artistas que tenham se dedicado aos Quadrinhos, pelo menos nos últimos vinte e cinco anos. A lista de grandes profissionais que podem ser lembrados e votados para o prêmio de MESTRE DO QUADRINHO NACIONAL é a seguinte: DÉCADA de 50: Fernando Lisboa. DÉCADA de 60: José Meneses, Mario Jaci, Luiz Meri, Kazuhiro, Wilson Fernandes, Dag Lemos, Manoel Ferreira, Maria das Graças Maldonado, Marcos Maldonado, Francisco de Assis, Nilzon Azevedo, Lucaz, Edmo Rodrigues, Fernando Almeida, Josmar Fevereiro, Edgard de Sousa, Antonio Martins, Manuel Nunes, Joseval e Clip Pop. DÉCADA de 70 e 80: Osvaldo Sequetin, Nelson Padrella, Wanderley Felipe, Ailton Elias, Eduardo Vetillo, Bira Câmara, Altair Gelattti, Gustavo Machado, Antonio Cocolete, Rodval Mathias, Itamar Borges, Alain Voss, Henrique Magalhães, Julio Emílio Braz, Franco de Rosa, Novaes, Toninho Lima, Elmano, E. C. Nickel, Cesar Lobo, Francisco Vilachã, e Pedro Mauro Moreno. FANZINES: José Agenor Ferreira, Aimar Aguiar e Gutemberg. ESTUDIOSOS: Dagomir Marquezi e Sérgio Augusto. Evidente que podemos não ter lembrado de algum artista, mas que você considerá-lo para a votação incluindo-o na lista.
Nas categorias de MELHOR DESENHISTA, MELHOR ROTEIRISTA e MELHOR CARTUNISTA deve-se apontar qualquer profissional ou amador que esteve em atividade durante o ano de 2009. Procure folhear revistas, consultar coleções e se informar. Não esqueça dos profissionais que desenvolvem seu trabalho nos grandes estúdios, como o de Mauricio de Sousa, que têm seus nomes poucos divulgados. No MELHOR FANZINE é considerado o título publicado durante o ano de 2008 (mesmo que exemplar único), que seja caracterizado como fanzine, ou seja, com informações, notícias, resenhas ou notas sobre Quadrinhos. Não confundir com revistas em Quadrinhos independentes, que podem ser votadas na categoria de MELHOR LANÇAMENTO. Já no MELHOR LANÇAMENTO valem todas as publicações com produção de artistas nacionais que tiveram seu número 1, exemplar especial ou número único lançado em 2009, para o mercado brasileiro. Para ajudar a escolha publicamos uma lista de revistas que saíram neste ano. Evidente que podem surgir novos lançamentos e publicações que não estão na lista, nada impede que você vote numa outro exemplar, indicando a editora ou o editor. Finalmente, o prêmio JAYME CORTEZ vai para quem tenha incentivado nossa arte através da divulgação, edição, promoção ou qualquer ação que tenha aberto espaço para o Quadrinho nacional, também durante o ano de 2009.
LISTA DE LANÇAMENTOS DE 2009 Nessa lista você encontrará o nome do lançamento e entre parênteses o nome da editora ou do editor independente. A lista está colocada de maneira aleatória, sem preferência ou favorecimento. Caso você conheça algum outro lançamento que não esteja relacionado, vote nele, indicando a editora ou o autor.
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Participe e prestigie o Quadrinho nacional e seus artistas!
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Bem, demorei mas não faltei com a segunda parte dos fumantes famosos, aqui vai a ala feminina: atrizes, artistas plásticas, escritoras, politicas, poetisas, musicistas uma boa variedade. E como sempre, sintam-se sempre bem vindos fumantes e não fumantes: vou acender um cigarro em honra dos meus 35 anos completados ontem. \m/
Começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, a mostra "Cinema da Geórgia - Um Século de Filmes", que traz 12 longas da república do Cáucaso, que integrava a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A curadoria do evento é de Nágila Guimarães, uma brasileira que há muito tempo mora no exterior e descobriu a Geórgia acompanhando o marido arquiteto, que foi lá desenvolver um projeto.
Ela descobriu um cinema sobre o qual pouco se falava no Brasil, embora seus grandes autores não sejam estranhos ao cinéfilo brasileiro - Mikhail Kalatozov, Otar Iosseliani. Nágila já participou de um debate no Rio, onde a mostra desembarcou na semana passada.
Nágila é acompanhada pelo ator Irakli Gioshvilli, de 24 anos, que reside recentemente em Nova York e integra um grupo de teatro. Gioshvilli sabe muito sobre o Brasil e sobre novela brasileira. Ele aprendeu a falar português por amor às novelas do País - as da Globo -, das quais se tornou o tradutor oficial na Geórgia. Gioshvilli serve de tradutor para o cineasta que o acompanha, o veterano Merab Kokochasvilli, que assina o filme que abre hoje a programação - "O Grande Vale Verde". Longa trata do conflito entre a tradição da vida do campo e a modernidade que a exploração do petróleo trouxe para a Geórgia.
Selecionar 12 filmes para traçar o retrato de uma cinematografia inteira não é coisa fácil, diz Nágila. E nem foi uma escolha ideal. Quando havia a URSS, Moscou centralizava tudo. Hoje, as matrizes de importantes filmes georgianos ainda estão em Moscou. A escolha se fez com base em filmes possíveis.
Mikhail Kalatozov é autor de títulos como "Quando Voam as Cegonhas", que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, e "Sou Cuba", que ele realizou na ilha de Fidel. Mas o filme de Kalatozov que integra a mostra do cinema georgiano é o pouco conhecido "Sal para Svanetia". De Otar Iosseliani, Nágila programou "Novembro", também conhecido como "A Queda das Folhas", e "Era Uma Vez Um Pássaro Negro", ou "Era Uma Vez Um Melro", que conta a história de um caçador preguiçoso.
Um terceiro autor conhecido dos brasileiros integra a seleção e é Sergei Paradjanov, revelado no País pela Mostra de São Paulo. Paradjanov, que chegou a ser chamado de ‘Pasolini soviético’, fazia filmes de grande beleza visual, como "A Lenda da Fortaleza Suram". Todos são filmes importantes, mas a raridade do programa é "Minha Avó", de Kote Miqaberidze. O filme mudo de 1929 tem apenas 67 minutos e ficou proibido durante 40 anos, por sua sátira ao dirigismo estatal. A mostra georgiana de Rio e São Paulo vai oferecer a contrapartida de um evento de filmes brasileiros em Tbilisi, a capital da Geórgia, no ano que vem. Cinema da Geórgia: Um Século de Filmes. Hoje, 17 h, "Pirosmani", de Giorgi Shengelaya; 19 h, "O Grande Vale Verde", de Merab Kokochashvili. Amanhã, 17 h, "Minha Avó", de Kote Miqaberidze; 19 h, "Uma Exposição Extraordinária", de Eldar Shengelaya. CCBB (69 lug.). R. Álvares Penteado, 112, centro. Tel. (011) 3113-3651/ 3113-3652. 4.ª a dom. R$ 4. Até 27/12.
Mostra de David Lynch exibe filme inédito e revelador do diretor
Da Redação
Foto: Divulgação
A mostra David Lynch – O Lado Sombrio da Alma, que acontece no Rio de Janeiro até o dia 20 de dezembro, ganha exibição de filme inédito do diretor nesta quinta-feira (17/12), às 19h.
David Lynch in Conversation é resultado de uma palestra capturada em vídeo, na qual o diretor fala sobre seus filmes e como compreendê-los, entre outros assuntos. O cineasta também revela, inclusive, sobre sua recusa em dirigir um dos filmes da série Star Wars, de George Lucas. O filme tem duração de 59 minutos e a classificação é de 14 anos.
Outra novidade na mostra é a mesa-redonda, marcada para esta terça-feira (15) às19h, que conta com um convidado supresa, além de José Wilker, Fernando Ceylão e Mario Abbade.
MOSTRA DAVID LYNCH – O LADO SOMBRIO DA ALMA De 8 a 20 de dezembro de 2009. Caixa Cultural Avenida Almirante Barroso, 25 - Centro - Rio de Janeiro Tel.: (21) 2544-1019 (próximo a Estação Carioca do Metrô) Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada)
Tom Waits – Howlin´ Rain Dog - Discografia comentada de Tom Waits por Cleiner Micceno
É muito difícil falar de Tom Waits, um cão abandonado que uiva a dor do mundo, dos amores perdidos e corações partidos, das bebedeiras, da boêmia, da vida e da morte,com uma forma magistral e única em sua voz soturna e sua poesia subversiva, que remete os melhores momentos da Beat Generation de Jack Kerouac ou os escritos bêbados de Charles Bukowski . Suas musicas / poemas, ganham cores e texturas, não encontradas em nenhum outro cantor ou artista, ele sim pode se dizer um artista único que viaja por musicas extremamente complexas e experimentais assim como por blues rasgados, jazz, rock´n´roll e até pela musica urbana dos bares enfumaçados e das putas nas esquinas, ninguém consegue destilar esse submundo de forma tão tenaz e crua com Mr Waits. Hoje já com 60 anos ainda esbanja vitalidade, no seu ultimo disco Glitter and Doom ao vivo esbanja energia, revisitando várias fases do artista, mas muito além disso, ele já havia lançado um disco triplo em 2006 Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, onde já havia esse resgate, uma carreira passada a limpo, com algumas composições novas, declamações de várias poesias e muitas músicas antigas com novas roupagens, porém extremamente atuais, como só uma alma versátil como Tom é capaz de fazê-lo. Voltando no tempo nos idos de 1973 quando ele lança seu primeiro disco Closing Time, um disco essencialmente Jazz/Blues e por que não Country/Folk , noturno, com sua voz ainda atingindo o timbre que o tornaria famoso, ali já estava germinando uma semente musical. Tom era um boêmio, e em cada musica isso se faz presente, é dessa época uma de suas musicas mais geniais, I Hope That I Don't Fall In Love With You, e que se tornaria sua marca em toda sua carreira, o pé na lama dos bluesers, com o amor sendo tratado de forma adulta e realista, com a dualidade humana estando sempre colocada em xeque, junto com musicas como a própria faixa titulo, Closing Time e as lindas Midnight Lullaby e Old Shoes (& Picture Postcards), e até uma musica que poderia ser um Rockabilly feito pelos Stray Cats, Ice Cream Man ou o jazz sofisticado de, Little Trip To Heaven (On The Wings Of Your Love).
Em 1974 ele lança The Heart Of Saturday Night, um disco mais refinado, com a veia do jazz ainda mais intensa que no Closing Time, com musicas como, New Coat Of Paint, Semi Suít, Drunk On The Moon e Diamonds On My Windshield (Looking For), e nas lindas canções folk, The Heart Of Saturday Night e San Diego Serenade e o blues, Fumblin' With The Blues. Nessa fase Tom já estava refinando seu estilo construindo os alicerces do que ele lançaria nos anos subseqüentes. Na sua gravadora dessa fase Asylum Records , é considerada a fase mais boêmia do cantor, que suas musicas bem que poderiam fazer parte das histórias de Raymond Chandler. Em 1975 ele lança Nighthawks At The Diner, um disco ao vivo, gravado em duas apresentações em bares pequenos, com material inédito, acho que um dos discos mais Jazz de toda sua carreira, com influência clara de Stephen Foster, mas é um disco vivo, visceral, perfeito com uma classe que permeia o disco, e até nos comentários divertidos e as piadas no meios de musicas como em, Better Off Without a Wife, ou nas sacadas espertas de Warm Beer And Cold Women, que é um vaudeville de cabaré. Nos discos que seguem o Nighthawks, estão Small Changes (1976), Foreign Affairs (1977) e Blue Valantine(1978), eu divido esses discos como uma seqüência de discos que bem que poderiam ser um único álbum triplo, as musicas se complementam, é uma fase onde os jazz e o blues e o folk se entremeiam, fundem-se, se tornam agora aquilo que seria a persona de waits pelo resto de sua carreira. Acho que essa trilogia, marca a maturidade e o processo que só veio a ser lapidado durante os anos, musicas como, A Sight For Sore Eyes, do Foreign Affairs, são tão atuais que parecem ter sido gravadas no ultimo disco, fora as participações como Bette Midler, em I Never Talk To Strangers, e dessa fase desses discos músicas como Cinny's Waltz, Barber Shop, Burma-Shave, Somewhere (from "West Side Story"), Romeo Is Bleeding, A Sweet Little Bullet From A Pretty Blue Gun, "The Piano Has Been Drinking (Not Me) (an Evening with Pete King) e aquela que é uma de minhas musicas preferidas, Waltzing Matilda – Tom Traubert's Blues (Four Sheets to the Wind in Copenhagen).No disco Heart attack and Vines, o ultimo disco de Waits na Asylum Recs, é um disco ja mais folk, com baladas e vários rythm and blues , é desse disco, Jersey Girl , que viria a ficar famosa com a regravação de Bruce Springsteen alguns anos depois, e as lindas, Saving all My Love for You e Downtown. Em 80 ele assina com a Island Records e em agosto de 1980 ele casa com a escritora Kathleen Brennan,que trabalhava com Francis Ford Coppola que havia encomendado as músicas para o filme One from the Heart, Kathleen o conhece durante os trabalhos no filme, onde começam um namoro e logo depois se casam.
Nessa fase Tom grava a trilha sonora com um duo vocal com Chrystal Gale, Bette Midler havia sido cogitada, mas como ela estava em outro trabalho, Gale, foi chamada, confesso que considero esse o pior disco do Tom, a voz de Gale não convence, mass mesmo assim o pior disco do Waits é melhor que o melhor disco da vários artistas por ai. Em 1983 ele lança Swordfishtrombones, aqui começa a carreira mais sólida de Waits no experimentalismo inclusive é uma marca que ele burilou durante os trabalhos que vieram depois, mas nunca na intensidade desse disco, onde ele flerta com o Industrial, com a complexidade do jazz menos tradicional e com musicas de tempos quebrados com ecos de Frank Zappa, é um disco mais difícil para quem não está acostumado com as peripécias do Waits, esse não é o disco para se conhecer ou se recomendar como primeiro contato com o cantor, o disco em si é um dos trabalhos mais instigantes do músico, com músicas como, Frank´s Wild Years, Town With No Cheer,Underground, e as belíssimas, Johnsburg, Illinois , In The Neighbourhood e Soldier's Things as musicas mais formais, Rythm and blues de primeiríssima qualidade Down, Down, Down, e Gin Soaked Boy (que remete até Iggy Pop)
Em 1985 ele lança aquele que é um dos principais discos de sua carreira Rain Dogs, nesse disco ele conta com uma parceria que renderia mais musicas no futuro com Keith Richards dos Rolling Stones, esse disco é de mais uma trilogia por assim dizer, Tom Waits gosta de ciclos, e Rain Dogs faz parte desses ciclos que começa com Swordfishtrombones e termina em Frank’s Wild Years, que veio após Rain Dogs, nesse disco é um amontoado de músicas perfeitas, que vão desde Polkas, como Cemetery Polka, musicas experimentais como Singapore e Diamonds & Gold, Rain Dogs e musicas folk com pitadas de baladas como Downtown Train, e blues pé na lama como, Anywhere I Lay My Head e Blind Love, e até rumba em Jockey Full Of Bourbon é uma salada que se completa, Rain Dogs são mais um pouco dos encontros poéticos com o cotidiano que ele faz tão bem, o termo designa aqueles cães que perdem seus donos, e ficam na rua, perdidos tomando chuva, mais uma pequena fagulha de Mr Waits. Ele fecha essa fase, com Frank´s Wild Years, um disco enigmático e cheio de nuances, com musicas belíssimas como Innocent When You Dream (Barroom) (que tem duas versões no disco, uma mais recente e uma gravada em 1978 que parece um coral de piratas bêbados, não consigo achar melhor definição) musica que veio a ser parte da trilha sonora do filme Cortina de Fumaça de Wayne Wang, mais musicas que merecem ser ouvidas muitas vezes no repeat como Blow Wind Blow, Temptation, I’ll Be Gone e Telephone Call from Istanbul (musica essa que vi uma versão ótima com os caras do Canastra e o B Negão nos vocais) fora isso o disco em si é uma pequena obra prima, que tem que ser apreciada com calma, é o disco que você tem que sentar e fazer o ritual para apreciar uma boa obra é quase como degustar um bom vinho por assim dizer. Big Time é gravado em 1988, o primeiro ao vivo feita na Island Recs, um disco bastante introspectivo, com musicas de diversas épocas e destaque para a gravação de Time, uma música que eu colocaria com uma das dez mais bonitas já feitas, com sentimento em cada frase, quer uma noite perfeita com alguém? Coloca Time pra tocar e o serviço já ta pelo menos com 50% pronto, e tem a belíssima Cold, Cold Ground, um Soul bastante envolvente e falando em soul, Way Down In The Hole, entre musicas experimentais,baladas você tem o blues/jazz, Yesterday Is Here, perfeito pra fechar uma noite.
Em 1992 ele lança dois discos a trilha sonora do filme Night On Earth de Jim Jarmusch (que é amigo pessoal do cantor e que já fez mais de um filme com ele, a titulo de explicação Down By Law e mais recentemente Coffee and Cigarettes, que ele divide a cena com Iggy Pop) e um dos melhores discos de Waits, Bone Machine, esse disco transcende os parâmetros da musica, ele é táctil, as musicas tem cores, texturas, difícil de descrever, musicas como Earth Died Screaming, Such a Scream, All Stripped Down, In the Collosseum são experimentais, mas são belíssimas, como um quebra cabeças que se monta e forma um mosaico de diversas cores e tons, Jesus Gonna Be Here é um gospel secular e profano, e na seqüência, música que você deveria ouvir antes de morrer, Who Are You, Little Rain (For Clyde), e That Feel ( que ele fez com Keith Richards) e dos clássicos nesse disco aparece I Don't Wanna Grow Up ( que ficou famosa quando regravada pelos Ramones) aqui abro um parêntese para postar uns trechos das musicas desse disco em especial um trecho de That Feel e de Little Rain:
De That Feel
Well there's one thing you can't lose It's that feel Your pants, your shirt, your shoes But not that feel You can throw it out in the rain You can whip it like a dog You can chop it down like an old dead tree You can always see it When you're coming into town Once you hang it on the wall You can never take it down
De Little Rain
The Ice Man's mule is parked Outside the bar Where a man with missing fingers Plays a strange guitar And the German dwarf Dances with the buthcer's son And a little rain never hurt no one And a little rain never hurt no one
She was 15 years old And never seen the ocean She climbed into a van With a vagabond And the last theing she said Was, "I love you mom."
And a little rain Never hurt no one
A poesia de Waits, consegue ser surreal e vívida com um filme de Buñuel ou um quadro de Dali, e mesmo assim tocante. Em 1993 ele faz mais uma trilha sonora para Black Rider, um filme de Robert Wilson e com Roteiro em parceria com William S. Burroughs, mas uma vez o espírito Beat de Tom é revisitado, com canções que vão do Cabaré e o experimental. Em 1999 Tom faz um de meus discos preferidos, posso dizer sem duvida que Mule Variations, foi um dos discos que mais ouvi em minha vida, é um disco perfeito que casa o sombrio, experimental, soul, folk, jazz e blues em uma fusão única e perfeita, você vai ouvir pitadas de tudo isso em cada música desse disco, que já abre com um musica demolidora, Big In Japan, e emenda Lowside of the Road, uma musica que poderia ser facilmente enquadrada como doom country ao estilo do Those Poor Bastards, uma banda que faz esse estilo, Hold On é a musica pé na lama que serve para qualquer momento, os blues House Where Nobody Lives, Cold Water, Chocolate Jesus e Come on up to the House são matadores, e nesse disco tem as musicas deprê até o osso, como: Pony e Georgia Lee, onde ele questiona onde estava Deus quando uma menina, Geórgia Lee, foi morta:
Cold was the night, hard was the ground They found her in a small grove of trees Lonesome was the place where Georgia was found She's too young to be out On the street.
Why wasn't God watching? Why wasn't God listening? Why wasn't God there for Georgia Lee?
No disco Blood Money de 2002 se trata de mais uma trilha para uma peça teatral Woyzeck de Georg Büchner dirigido por Robert Wilson que já havia trabalhado com ele em Black Rider e na trilha de Alice outro filme que ele também fez a parte musical. Em 2004 Tom lança um disco de protesto contra a guerra do Iraque, Real Gone, pelo selo Epitaph – Anti – que é um selo basicamente punk, que já havia lançado seus discos anteriores, ele teve liberdade de fazer mais um disco totalmente experimental, mais industrial e mais rock, acho que o único trabalho dele que não tem piano, é um disco visceral, que você nunca esperaria de um senhor já com quase sessenta anos na época, mas ele esbanja um vigor que daria vergonha em bandas de rock tristonho, tanto em ousadia como em coragem. Destaque para, Metropolitan Glide, e um mood Dead And Lovely, e as totalmente industriais, Top Of The Hill, Hoist That Rag e Sins Of My Father.
Ai chegamos ao triplo que já citei no começo da matéria, o Orphans: Bawlers, Brawlers & Bastards, um disco que passa em revista toda a carreira do Rain Dog, um disco que pode ser dividido em disco 1- mais folk, mais intimista, o segundo, um mais variado com varias fases, e um terceiro experimental com musicas e declamação de poesias e textos beat, é um isco imperdível para qualquer fã, ou para ter uma introdução a Tom Waits junto com o mais novo lançamento ao vivo que complementa essa passagem por toda carreira.
Nesse texto procurei apenas passar minhas impressões sobre cada época e fase de Tom Waits, disco à disco, não quero ter pretensões de ter feito nenhum grande texto é apenas um apanhado de comentários de um fã incondicional, que quer compartilhar com os amigos e com pessoas que porventura passem pelo blog, e quem sabe conseguir que alguns se interessem em conhecer um pouco mais desse universo obscuro de Vaudeville que permeia o cabaré da obra de Tom Waits Por Cleiner Micceno ao som de Bone Machine e Rain Dogs