domingo, 25 de abril de 2010

“Twin Peaks”: 20 anos de um clássico

Série criada por David Lynch fez história na televisão e abriu caminho para uma nova geração de programas nos Estados Unidos

Foto: Divulgação

Kyle MacLachlan e o diretor David Lynch no set de filmagem de "Twin Peaks"

Há 20 anos, no domingo de Páscoa de 1990, a televisão mudou para sempre. Um mundo de mistério, fascínio e estranhamento passou a fazer parte da vida dos telespectadores norte-americanos, pelas mãos do diretor mais improvável. David Lynch, a mente genial e doentia por trás da vanguarda de Eraserhead e do excêntrico Veludo Azul, conseguiu, talvez por um milagre, convencer os executivos da emissora ABC a aprovarem o piloto da série “Twin Peaks” e, mais do que isso, engatar não uma, mas duas temporadas. Os efeitos desse experimento em rede nacional repercutem até hoje, tanto que, sem ele, programas como Arquivo X, Lost e True Blood provavelmente não existiriam.

Foto: Divulgação Ampliar

A atriz Sheryl Lee no episódio piloto da série: quem matou Laura Palmer?

O roteirista Mark Frost, que criou a série ao lado de Lynch, partiu de uma história contada por sua avó, sobre como o assassinato de uma garota do interior abala a vida da comunidade local, para chegar a Laura Palmer. Rainha da escola, namorada do capitão do time e filha modelo, Laura (Sheryl Lee) é encontrada morta às margens de um lago, enrolada em sacos plásticos. O caso traz à cidade, incrustada nas montanhas perto da fronteira com o Canadá, o agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan, que vinha de dois trabalhos com o diretor, Duna e Veludo Azul). Detetive clássico, esotérico e engraçado, tudo ao mesmo tempo, Cooper coordena a investigação e traz à tona o submundo da pacata Twin Peaks, com drogas, sexo e prostituição.

Ninguém é o que parece e se o suspense já não era suficiente, ainda há espaço – e como – para o bizarro e sobrenatural, o que realmente dá sabor à trama. Tapa-olhos, membros decepados, anões, gigantes, a Senhora do Tronco, cenas filmadas ao contrário, demônios... Lynch forneceu todos os ingredientes para os episódios deslizarem por uma atmosfera de sonhos, característica essencial de sua filmografia. Nunca algo assim havia garantido lugar em horário nobre. O curioso é que uma série tão estranha virou fenômeno nacional. A estreia teve audiência de uma final do Superbowl e nas semanas seguintes, o cenário não mudou muito.

A pergunta que rondava os Estados Unidos era “Quem matou Laura Palmer?”. Festas temáticas, camisetas, capas de revista, uma por febre da torta de cereja (favorita do agente Cooper), paródias na Vila Sésamo e no Saturday Night Live, não se falava de outra coisa. As propagandas se aproveitavam da ansiedade do público: “Se você perder hoje à noite, não vai saber o que todo mundo vai estar falando amanhã”. O elenco – afiadíssimo, com destaque para Ray Wise e para beldades como Sherilyn Fenn e Lara Flynn Boyle – só recebia cenas picotadas e descobria o andamento da série junto com os espectadores.

Tanta atenção acabou sendo a própria desgraça da série. A emissora e os fãs pressionavam para que o assassino fosse revelado. Lynch e Frost cederam e o enigma foi resolvido logo no início da segunda temporada. A partir daí, nada foi como antes. O público perdeu interesse, assim como Lynch, envolvido nas filmagens de um novo longa-metragem, Coração Selvagem. Quando o diretor resolveu retomar as rédeas do programa, nos últimos episódios, já era tarde demais para garantir um terceiro ano. Coube à equipe dar um final digno – sem respostas, mas com ganchos e reviravoltas excepcionais, que garantiram a paixão pela atração acesa até hoje.

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