segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entrevista com Cleiner Micceno (Reverend Stalker)

Entrevista com Cleiner Micceno (Reverend Stalker)

Cleiner Micceno ou Reverend Stalker como é mais conhecido, é diretor de vídeo clipes, tem uma banda de Psychobilly chamada The Reservoir Dogs, documentarista e escritor, tem um blog chamado stalker shots (stalkershots.blogspot.com). Um outsider que tem no underground sua principal referência. Independentemente do estilo, acha que o rock´n´roll no Brasil não é valorizado da forma que deveria ser, mas que existem formas de conseguir espaço mesmo nas adversidades com as ferramentas de internet, e mostra que vídeo clipes podem ser feitos com qualidade e com custo reduzido, só ter criatividade e boas idéias. Com vocês Cleiner Micceno

Rock Now – Fale sobre a valorização das bandas e sobre o underground.


Cleiner Micceno - Eu acredito no valor das pessoas que fazem a cena underground em nosso país, cara, aqui é um lugar onde as bandas têm pouco ou nenhum espaço para tocar, os bares nem sempre vêem as bandas de som próprio com bons olhos, e geralmente os caras não pagam um cachê decente, nem bilheteria os caras querem dar para as bandas, o que é ridículo, o cara ganha todo lance do bar, a banda atrai público e nem isso os caras valorizam, ainda mais no interior, para eles a desculpa de sempre é “vocês estão mostrando o trabalho da banda”, pô mas até quando vamos ficar só mostrando o trabalho ahahahaha. Essa não é uma realidade de todas as bandas, mas garanto que de uma boa parcela delas é, infelizmente esse é o nosso país, que tem tradição de samba, pagode, sertanejo, funk e sei lá mais o quê, mas rock é um estilo que nunca foi totalmente assimilado por aqui, e principalmente nunca foi respeitado, já enjoei de ouvir pessoas falando: “-você toca em banda de rock? Ih cara você ta perdendo tempo, isso não dá grana!”. O que essas pessoas que dizem isso não sabem, é que você ta tocando rock porque isso é sua vida e isso que você gosta de fazer e ta pouco se lixando, porque para você isso não é perda de tempo e é o que te move a vida toda, rock´n´roll é um estilo de vida, quem tem banda sabe o que eu to dizendo.

E mesmo com todas essas adversidades dando murro em ponta de faca, as bandas tão ai, acreditando na força da própria música e da própria cena, e essa força é que move a galera, e que os faz não se conformarem e continuar a lutar pelo espaço que lhes é devido, afinal os músicos de rock só querem respeito o resto eles mesmos fazem, como sempre fizeram e com o lance de Internet, Myspace, YouTube, etc as coisas estão melhores hoje que a dez, quinze anos atrás, as Majors já não são mais necessárias, a indústria fonográfica formal está praticamente definhando e isso é irreversível; as bandas hoje podem se auto gerir e conseguir divulgar sua musica, só ter iniciativa e correr atrás, sem intermediários para encher o saco e lucrar com seu trabalho, o lance hoje é saber utilizar as ferramentas que tem a disposição e usar a criatividade. Felizmente o mundo perdeu as fronteiras e você ter uma banda em qualquer parte do país não impede de mostrar seu trabalho.

3 copy

R N – Como você trata cada clipe, considerando os diferentes estilos e referências de cada banda?

C M – Bem ai é um caso interessante, eu venho da cena Psychobilly, que é um estilo pouco conhecido, mas antes de tudo eu gosto de diversas vertentes do rock, gosto de Punk Rock, Metal (geralmente as linhas mais pesadas como thrash, death, grind, splatter, Power, crossover, etc), Hardcore(old school), Rockabilly, Garage Rock, Alternativo e por aí vai, sou bem eclético nos estilos, e como sempre ouvi muita coisa, já escrevi muito sobre música também, então conheço geralmente algumas referências das bandas, pelo menos um básico quando é um estilo muito diferente do que eu gosto, e também sentando e conversando com a banda vemos várias bandas e clipes que são usados como ponto de partida para fazermos o roteiro e eu observo principalmente a estética, que tem que ter a ver com a estética e proposta da banda, procuro sempre que cada vídeo clipe tenha a cara da banda, que ela complemente a música, pois eu acho que o clipe tem que passar verdade sobre a banda, não da para fazer um clipe que fique muito longe do que a banda é, não quero que a proposta pareça fake ou fabricada, gosto de mostrar a atitude das bandas nos vídeos e isso sempre tem dado certo.

clipe banda instinto

R N – Fale um pouco sobre a produção de um clipe?


C M – A produção de um clipe sempre passa por algumas fases, o primeiro passo é o desenvolvimento da idéia e concepção de roteiro básico. Eu sempre faço essa fase junto com a banda, muitos produtores excluem a banda nessa parte, já chegando com idéias próprias, com um roteiro fechado, ou quando falam com a banda eles pegam algumas coisasa apenas, mas procuram sempre que prevaleçam as sua própria concepção; já no meu caso eu gosto de direcionar as idéias que a banda já tem para o clipe, viabilizar o máximo dentro da proposta. Muitas bandas nunca participaram da produção de um vídeo e não tem muita idéia de como é o processo, mas eles já sabem mais ou menos o que querem como resultado, pelas referências de clipes das bandas que gostam, a minha função é chegar a um resultado que agrade a banda no final.

Aí entra a fase mais importante da viabilidade de idéias, ver aquilo que é possível executar dentro do orçamento, ver tudo aquilo que será necessário para a execução, escolher a locação para ser feito o clipe, se será necessário contratar atores para alguma cena, ou seja o clipe antes de tudo tem q ser resolvido uma boa parte no papel, para quando começar a gravar já estar tudo certinho e bem direcionado para não se perder tempo nem grana.

Após tudo certo, aí vem a gravação, cada local tem características que podem ajudar a gravação ou dificultá-la, e com isso a gravação pode se estender por mais dias levando mais tempo para execução, mas é raro na maioria das vezes um clipe básico consegue ser gravado em um ou dois dias, na maioria das vezes.
Acho importante ressaltar que para o primeiro clipe da banda acho sempre importante mostrar a banda e os integrantes, pode-se ter mais cenas, contar uma história e tals, mas é bem importante marcar bem os integrantes, afinal essa é sua apresentação para todos que não te conhecem.

gravação documentario eddy teddy

R N – Além de clipes, no que mais você trabalha relacionado com audiovisual?


C M – Eu sou documentarista, já lancei um documentário longo sobre o PSYCHO CARNIVAL em Curitiba, sobre a história do festival, e estou com material para lançar mais um ano que vem como um complemento. E atualmente estou fazendo um documentário em conjunto com dois amigos (Luiz Teddy E Vebis Jr) sobre a cena Rockabilly Brasileira e sobre o musico Eddy Teddy da banda Cokeluxe, vamos falar sobre o Eddy que foi um músico fantástico dos anos 80 que fomentou muita coisa legal na época, e disseminou o estilo Rockabilly pelo Brasil, é um documentário que já está em andamento com muitos entrevistados legais, como Kid Vinil, Clemente e Ronaldo dos Inocentes, Fábio da banda Olho Seco, os guitarristas André Christovan e Nuno Mindelis, o cartunista Angeli, o critico musical Ayrton Mugnaini Jr, Albert Pavão, Tony Campelo, os Incriveis, The Jordans, e o radialista que trouxe o rock´n´roll para o Brasil nos anos 50 Sossego, ou seja é um material legal que estamos ainda em fase de captação de imagens. Mas o lançamento fica previsto para o próximo ano.
E na área eu faço qualquer trabalho ligado a vídeo, como gravação de shows, produção de show para DVD de bandas. Registros e making of de gravações de CDs, e vídeo de apresentação para fechar shows, gravação de ensaios , o que for preciso.


R N – O fato de você também ser músico deve ajudar a entender as necessidades e dificuldades das bandas independentes ao buscar um material de qualidade, como você procura oferecer uma solução viável aos loucos como nós que ainda insistem nessa correria do Rock Undeground Independente?


C M – Esse acho que é um dos meus maiores diferenciais, porque eu sei das dificuldades que uma banda independente tem para conseguir fazer qualquer coisa, e por isso eu sempre procuro fazer clipes com qualidade com as possibilidade das bandas, sempre conseguimos chegar a um acordo legal, um preço que seja possível pagar, pois videoclipe é um investimento, quando você ouve uma banda que gosta a primeira coisa que faz é ir no YOUTUBE e ver se tem algum registro dela lá, ou seja, vídeo clipe passa uma seriedade e profissionalismo quando bem executado.
Eu sempre procuro adequar o orçamento para fazer o melhor trabalho possível, eu tenho um bom diálogo com a banda quanto a isso, e por também ser músico então acho que estamos todos no mesmo barco, e que só com um ajudando o outro que a cena cresce e prospera e todos saem ganhando, minha mentalidade sempre foi essa, eu prefiro fazer um lance legal, que a banda fique feliz e tenha próximos clipes, que simplesmente cobrar um absurdo e ai não ter nenhum, que é a mentalidade da maioria das produtoras, que para eles é indiferente se você é de uma banda independente ou uma banda contratada da Sony, eles não tem noção da realidade, e nessas condições as bandas independentes ficam sem muitas opções, a não ser caras que trabalham com vídeo amador que cobram muito barato, mas, o vídeo sai horrível e você joga dinheiro fora.

Ai eu entro nesse meio termo, porque o trabalho sai profissional, mas com um preço que é acessível,e eu ainda divido o pagamento em duas três vezes , coisas que facilitam muito a vida das bandas, que nem sempre tem a grana toda na mão, ou seja é um diálogo aberto que sempre mantenho com as bandas, que visa sempre que todos saiam ganhando e mais material legal seja colocado no ar.

R N – Qual é a maior dificuldade que as bandas enfrentam ao produzir o clipe?


C M – Bem para ser sincero é o primeiro passo, ver que é necessário ter um clipe, colocar o clipe nas prioridades da banda assim como gravar as músicas. M

uitas bandas ainda não sabem como isso é uma ferramenta importante na divulgação, no diferencial do trabalho, na valorização de sua imagem e o retorno que ele dá algumas pessoas o encaram como um gasto desnecessário, quando é exatamente o contrário é um investimento importante.

Para produzir o lance, é simples, tem que por a idéia a diante, se todos da banda estiverem empenhados, as dificuldades são pequenas, o que é necessário é criatividade, se todo mundo se comprometer e por mãos à obra nada impede de fazer um clipe semana que vem, por exemplo, basta ter o som gravado com qualidade que o clipe é um passo, só sentar e conversar, ver as possibilidades e começar a fazer. A maioria das bandas que eu produzi os clipes por exemplo colocam o clipe de bônus no cd que lançam, que é um valor agregado ao produto, e o retorno sempre é bem legal com certeza.

fuck off

R N – Qual é o estilo que você curte produzir?


C M – Cara se o gênero for rock´n´roll de verdade, eu me divirto fazendo, já dirigi clipe de bandas punk, metal, glam rock, psychobilly, guitar bands, e com todas sempre foi muito bacana, cada estilo acrescenta novas coisas para mim, novas referências, cada trabalho sempre me traz muita satisfação, eu respeito muito o esforço e o trabalho de cada banda, e poder fazer parte da história dos caras de alguma forma já me deixa muito feliz. Cada banda que trabalho, quando já não são meus amigos, ficam sendo depois do clipe e isso é o que importa na vida, fazer amizades, e cada pessoa tem seu estilo e é a diversidade que torna tudo mais interessante, preconceitos e divisões por que o cara curte isso ou aquilo é besteira.

R N – Deve rolar muitas histórias cômicas ao longo de todas essas produções, tem alguma que poderia citar?


C M –Vixe com certeza, cada clipe tem uma história, já gravei em uma locação que era um prédio de uma empresa que estava totalmente ferrado, que só tinha um ponto de luz que uma parte da iluminação foi feita com luzes de farol de um carro, e ainda fomos brindados com uma tempestade torrencial que literalmente desencadeou verdadeiras quedas d’água e poças em todo lugar, mas no final foi um resultado muito bom, mas no dia foi caótico.
Em outro clipe precisávamos de uma cena em um motel bem barato, depois de muito rodar, conseguimos a locação, mas não podia falar que iríamos gravar as cenas pois ai eles iriam cobrar o triplo do preço, foi uma empreitada levar todo equipamento sem ninguém ver, mas o motel era muito fuleiro mesmo, nem tomada para ligar as luzes tinha, tivemos q arrancar a proteção da TV que tem geralmente em hotel e puxamos de lá a luz, a cena era uma cena de assassinato para o final do clipe a mina tinha que esfaquear o cara, mas pra fazer a cena retiramos lençóis e eu fiz um ângulo que a garota esfaqueava próximo a lente, só que nessa ela perfurou todo colchão, o travesseiro e depois o sangue falso melecou o todo o quarto, ahahaha, aí recolocamos todos os lençóis e fronhas no lugar ara parecer que nada havia acontecido, fomos embora rápido antes que alguém descobrisse.
Em outro estávamos em um mosteiro abandonado (a galera adora fazer clipe em lugar fdp ahauahaua) e fomos invadindo o local quando já tínhamos montado tudo, aparece um cara do nada, com uma arma na cintura, era um policial civil que fazia um trabalho para um condomínio que ficava ao redor do mosteiro, o cara olha pra todo mundo e a primeira coisa que fala: “vocês ai, que gostam de rock, como é que tão as drogas ai?”, o batera da banda que tava arrumando uns lances da bateria no chão falou assim: “olha droga não tem não, mas se quiser uns lanches tem ali no canto vai fundo pega lá!” Ainda bem que ele não se invocou com a gente que estáva lá sem autorização de ninguém, no final levou na esportiva eu enrolei ele na conversa e o clipe saiu. Ahahaah
Fora esses casos ai, todo clipe tem pelo menos uma história engraçada, às vezes mais de uma, mas sempre é divertido.

capa barbershop

R N – E o lance da sua banda de Psychobilly conte-nos um pouco sobre ela


C M – Bem eu toco desde 1989, minha primeira banda foi uma das bandas punks pioneiras de Sorocaba chamava Estado de Putrefação, era bem agressiva, e tals mas eu já gostava de Psychobilly, vivia ouvindo Cramps, Demented are Go, Meteors, e do Brasil Kães Vadius, S.A.R , A Grande Trepada e os Kbillys, e isso me levou a formar o Joe Coyote que foi a primeira banda do estilo do interior junto com outra banda que é da mesma época o Mongolords que era de Sta Isabel, e o estilo psycho é algo que sempre esteve em minhas principais referências, ai em 2002, o Joe Coyote termina e eu fico quase dois anos sem tocar, mas não agüentava mais subia no palco em toda banda de amigos que ei só pra cantar uma ou duas músicas até que formei o The Reservoir Dogs(nome retirado do filme Cães de Aluguel do Tarantino) e dei continuação a saga psicótica.

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A banda tocou nos principais festivais brasileiros do estilo, gravamos dois CDs, o segundo “ Barbeshop” foi produzido pelo Vlad, da banda Catalépticos e Sick Sick Sinners, esse ano a banda deu uma parada por falta de baterista que goste do esquema, mas logo voltaremos a ativa de novo, ressuscitando dos mortos , como em um filme do George A Romero. O importante é nunca parar. Quem quiser conhecer o som da banda entra no my space: www.myspace.com/thereservoirdogspsycho

R N – Deixe suas considerações finais para os leitores do Rock Now!


C M – Bem o que posso dizer é, mantenham a garra, o pique e acreditem no potencial da cena independente e lembrem-se sempre, nós somos a cena é isso aí.

Contatos:

cleiner.mambo@gmail.com

www.stalkershots.blogspot.com


Myspace

www.myspace.com/thereservoirdogspyscho

canal do youtube


http://www.youtube.com/reverendstalker

vídeos

hunger

lipstick explicit


bad luck gamblers em conjunto com vebis jr

Making of gravaçâo cd The Reservoir Dogs

Instinto

Ateróides trio

Pugna

plot de chamada do psycho carnival 2010

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