terça-feira, 28 de julho de 2009

Uivo de um Kão Vadiu – entrevista com HulkaBilly


Hulkabilly, ou Fraile como é conhecido no meio do universo das HQs é uma das figuras mais conhecidas da cena Psycho brasileira, esta à frente dos Kães Vadius, a primeira banda Psychobilly Tupiniquim, onde completa quase 25 anos de uivos e rosnados raivosos. Desenhista por profissão e músico como sina, Hulk depois de tantos anos de estrada, esta afiado como nunca, e do seu Kovil no ABC ele conta um pouco da trajetória da banda e de seus projetos gráficos para o Stalkershots.



Cleiner Micceno - Sobre sua trajetória,e sobre os Kães Vadius, me lembro de você uma vez, ter me dito, que não sabia o que era Psychobilly no começo dos Kães, só depois de algum tempo saberiam que se tratava de uma cena musical específica, e que vocês, eram então, a primeira banda brasileira PSYCHO . Fale sobre essa época e o que te influenciou diretamente?

Hulk - Bem, tudo começou por volta de 83/84, eu e o Paulo Bide Pow, montamos uma banda chamada DEMODÊ, com a intenção de resgatar o Rockabilly com temáticas atuais, de preferência que tivesse a ver com a nossa realidade. Descobrimos depois de muito pesquisar, que nos E.U.A e EUROPA, varias bandas estavam surgindo com a mesma proposta e termos como, PUNKABILLY, TRASHABILLY, HORRORBILLY definiam os novos estilos que emergiam. Foi quando caiu em nossas mãos, através de um amigo em comum, uma fita cassete com gravações dos STRAY-CATS, METEORS E THE CRAMPS, foi a primeira vez que ouvi o termo PSYCHOBILLY, e de cara decidimos, é isso que estamos fazendo, vamos trilhar por esse caminho que é a nossa cara.
Adaptamos o nome da banda ao oposto dos STRAY CATS, estavamos mais para KÃES de boteco, do que gatos de rua, uma amiga sugeriu VADIUS, pois tinha mais a ver conosco, como ninguém trabalhava na época, e os bares eram nosso segundo lar, surge daí os KÃES VADIUS entre 1984 / 85.Kães Vadius - Sandro , Hulk, Felipe, Arroz , Fábio

C M - E sobre sua carreira de desenhista, as revistas que contribuiu e contribui atualmente e complementando fale sobre o disco PSYCHODEMIA que era uma HQ em forma de disco e um disco em forma de HQ, como foi a idéia, você começou a fazer as musicas, e viu que daria pra uni-las em uma única história ou a história veio primeiro e depois fizeram as músicas?

H - Quando comecei com os KV, teve em paralelo um BOOM de revistas em quadrinhos underground, e de vários estilos, heróis, terror etc, eu já desenhava desde pequeno e o George também, na época, tinha um disco nacional chamado “TUBARÕES VOADORES”, não lembro quem lançou isso, no encarte, uma das musicas foi transformada em HQ, ai eu e o George decidimos: Porque não o disco inteiro ser uma HQ! E fomos por ai, o George adaptou as musicas para um roteiro, criando a seqüência do álbum, e dando um sentido para as letras, criando digamos assim, o universo de PSYCHODEMIA.
Encarte do disco Psychodemia

Eu já desenhava tiras e cartoons para jornais como o Diário do Grande ABC, Rocker Jornal e vários zines que não lembro o nome agora, ai me dediquei exclusivamente a ilustração da HQ do disco, eu e o George formamos uma parceria legal naquela época, muita criatividade, nenhuma grana e nenhuma tecnologia pra ajudar, foi um feito.
A capa e o encarte foram produzidos dentro do lugar em que trabalhávamos, na hora do almoço, com material do próprio lugar, tivemos que pedir autorização para nossos superiores para sair com os originais.
Nessa época, criei também o GATO RADICAL, que foi publicado na MIL PERIGOS (Ele foi a capa da revista numero 01) e periodicamente na Rock Brigade.C M - Os Kães Vadius influenciaram varias bandas no Brasil , são quantos anos de banda? Vocês ficaram um tempo sem tocar mas agora estão na ativa com uma galera mais nova, fale um pouco da história da banda?

H - Bem, no Brasil fomos a primeira banda de PSYCHOBILLY, dávamos entrevistas nas rádios e tínhamos que levar material gringo, importado, para tocar nas pick ups dos DJs e explicar incansavelmente o que era PSYCHOBILLY, ninguém sabia direito o que era, nós éramos os arautos desse estilo em terras tupiniquins, os KV na verdade não ficaram parados, tocávamos em lugares pequenos e com pouca divulgação, alguns momentos fomos obrigados a dar uma breve pausa, devido a morte de pessoas envolvidas na banda, caso do guitarra BETINHO MORAIS (Gravou o AQUI-AGORA) e o baterista VICTOR LEITE (ex-MARIA ANGELICA NÃO MORA MAIS AQUI,) que não chegou a tocar ao vivo com a banda.
Neste ano, 2009, a banda comemora no dia 13 de agosto, 24 ANOS DE ESTRADA.

C M
- Como você vê a cena psychobilly em Sampa hoje comparada com a época que você começou a tocar?

H - Tudo mudou, o PSYCHOBILLY hoje tem varias vertentes, varias tendências e até novos nomes, uma coisa que eu particularmente não gosto, e que a maioria vem fazendo é deixar de lado a língua mãe, e fazer letras e nomes de banda em Inglês, sei lá, acho meio estranho isso, e muitos nem sabem o Inglês tão bem assim e poeticamente falando, nossa língua é muito mais rica, sei la isso acho que é modismo, ou ilusão de ganhar muito dinheiro la fora, não é Rock and Roll de verdade.

C M - Fale sobre o DVD AO VIVO EM CASA, como nasceu a idéia?

H - O DVD era um sonho da banda, foi feito com pouca verba, pela própria banda e muitos amigos envolvidos dando uma força.
Armamos dois shows de pequeno porte, três câmeras digitais e uma equipe de gravação e edição, todos camaradas, dando uma força mesmo. O retorno não foi o esperado, digamos que ficou no zero a zero, o advento INTERNET e o avanço da tecnologia ajudam a divulgar, mas também permite cópias perfeitas de qualquer material, então, para cada DVD vendido, pelo menos DEZ cópias caseiras foram feitas dele, mas segundo ZAPPA, se é pirateado, é por que é bom. Mas valeu o sacrifício, ta registrado uma fase importante da banda.

C M
– Agora e suas inspirações nos quadrinhos, quem você le atualmente e quem te influenciou diretamente quando você começou a desenhar?

H - ROBERT CRUMB, JACK KIRBY, SAL BUSCEMA, MOEBIUS, FRAZETA, STEVE DITKO, WILL WEISNER, WALT DISNEY, DALI, PICASSO, pintura e HQ sempre caminharam junto para mim, esses monstros me ensinaram muita coisa e ajudaram a definir meu estilo e traço, hoje é tudo MANGÀ, tudo muito igual, padronizado, acho que ta faltando aquela pitada particular, pessoal, tanto na arte do desenho, como na musica, quem sai dos padrões tem mais chances de se destacar, ou ser apedrejado, huahuahua!
Acho que DAVE GIBBONS e ALAN MOORE (WATCHMEN) e FRANK MILLER (CAVALEIRO DAS TREVAS) são os últimos materiais que realmente causaram impacto e influenciaram os atuais profissionais da área, até hoje releio essas obras e fico pasmo com a visão que seus autores conseguiram passar ao leitor, vai ser difícil outros materiais com essa magnitude.



Virgem Louca mais uma personagem do universo bizarro de Hulk






C M -
Hoje em dia quais são as bandas nacionais e internacionais que você ouve?

H - Cara, eu sou meio clássico, ainda ouço o bom e velho ALICE COOPER, esse sempre foi minha fonte de inspiração, IGGY POP, METEORS E CRAMPS ainda são os melhores ingredientes para um bom PSYCHO. Tenho escutado muito CHICO SCIENCE, a maneira com que ele escrevia as letras e a forma de poesia me atrai muito.
SEX-PISTOLS E RAMONES, também escuto muito, procuro buscar inspiração nas coisas mais antigas, descobrir a novidade no velho, já que nem sempre a novidade é realmente nova, JOELHO DE PORCO , está no meu repertório também, ouço muito Rock nacional dos anos 70, CASA DAS MAQUINAS, SECOS & MOLHADOS, ERASMO CARLOS (ANTIGÃO), MUTANTES, tem coisas ai que só no Brasil rolou, uma sonoridade bruta e crua, muito boa.

C M - E nos KÃES? quais as novidades, algum novo CD na manga?

H - Por enquanto, esta para sair por uma ONG de São Caetano (CIDADÂO DO MUNDO) uma coletânea (PROJETO ABC DO SOM) com 13 bandas do ABC, e os KÃES gravaram um som novo chamado LUCIKREYDE, um Som que tem bem a cara da banda, ficou muito boa a gravação, tudo em LINUX e programas open source, a coletânea será distribuída em 32 pontos do Brasil, onde outras ONGS tem sua sede. Um lance bem legal, com a cara do ABC de hoje, acho que esse projeto (PROJETO ABC DO SOM) vai ser um ponto de partida para outras Bandas e ONGs.

C M - fale sobre seus projetos atuais como artista gráfico?

H -
Atualmente estou envolvido com uma empresa que desenvolve Jogos de Tabuleiro, eu ilustro os tabuleiros e crio os personagens do jogo, acho que até o final do ano dois projetos que eu ilustrei vão estar no mercado, estou também digitalizando as histórias do GATO RADICAL publicadas e pretendo lançar um GIBI com esse material, estou também desenvolvendo uma nova fase do GATO, mas esta no começo ainda, e estou ilustrando o livro VOCÊ QUER SER JOHNNY? do meu amigo Michel (SUKATA) dos GAROTOS PODRES, a idéia é transformá-lo em uma HQ.

C M - Manda um recado pra galera ai.

H - UM PASSO A FRENTE E VOCÊ NÃO ESTA MAIS NO MESMO LUGAR! (CHICO SCIENCE) - Não é fácil transformar sonhos em realidade, mas alguém tem que tentar.
Não desistam nunca, nadem contra a maré, vão pela contra-mão, afinal, arte é isso, 50% a favor, 50% contra.
Valeu galera.


Acessem o site dos Kães Vadius http://www.kaesvadius.com.br/




Um comentário:

  1. Olá! Primeiramente gostaria de agradecer muito pela matéria muito informativa, mas ainda resta uma questão para mim... Onde raios eu posso encontrar o Gato Radica??? To cansado de procurar, muitas saudades do Hq, se estiver ao alcance de vocês agradeço muito! Meu e-mail é : kurtshdownkiller@yahoo.com.br
    Obrigado e eséro resposta!

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allefuckinglluiah