Uma nota rápida sobre Asas do Desejo (Wings of Desire, Les Ailes du Desir, Der Himmel über Berlin) de 1987.
Simplesmente um dos melhores filmes já feitos, dirigido por Wim Wenders no seu ponto máximo da carreira. Carreira essa, que se tornou irregular com o passar dos anos, onde ele começou a fazer filmes bem duvidosos como "O Fim Da Violência" e " O Hotel De Um Milhão de Dólares" só pra citar dois filmes.
Mas nesse trabalho que é um clássico dos anos 80, retrata um vazio existencial de uma geração, com anjos sobrevoando Berlin. Anjos filosóficos e não religiosos, que entram na essência de um povo.
O Muro de Berlin, um Totem monolítico plantado no centro da cidade, uma lembrança dos anos do pós guerra. O muro em questão, foi derrubado dois anos depois, mas as marcas dele e o que ele significava, marcou a ferro e fogo várias gerações e o filme Propõe uma análise existencial sobre uma década hermética, no auge do pós modernismo niilista e hedônico envolto nas cinzas da filosofia de Heidegger.
Nesse ambiente de feridas ainda abertas com a cidade ainda dividida, o ranço da separação de famílias pelo muro plantado ali e as lembranças de uma cidade com uma nação sitiada pelo nazismo que reduziu Berlin a destroços poucas décadas antes, a geração pós guerra cresceu sobre os restos de uma cidade, que se reergueu, mas com as máculas na lembrança e tendo o peso de uma herança maldita dos despojos que restaram. O Muro, lembrava á todos o passado nada glorioso, uma obra gigantesca das falhas humanas
No filme, as citações da guerra são sutis, mostradas de forma quase metalinguística, por um intruso e americano Peter Falk ,fazendo papel de si mesmo, angustiado e se sentindo solitário, em uma fita sobre a segunda guerra, um filme dentro do filme. Observação de fora e critica, como a geração de Wenders, que vive sob a sombra do muro como resultado de um mau passo da geração anterior.
Enquanto isso o anjo Damiel (Bruno Ganz), questiona sua própria identidade, sua essência, o ser superior, que tem todas as respostas não se satisfaz mais e mergulha em seu questionamento. O quê vale a pena? Saber de tudo?E partindo disso inicia sua procura de algo novo e inédito para seus padrões. As únicas coisas intangíveis para ele: Os sentimentos e as sensações básicas dos humanos.
Essa busca o arremessa em um jogo platônico com uma equilibrista de circo, (Solveig Dommartin), que usa asas de penas de galinha. As asas, o símbolo da dualidade entre ela humana e tangível e ela voando nos aros do picadeiro como um serafim, agrupa nela, de alguma forma, algo da essência dele junto com o que ele não tem, nasce dai seu desejo e inveja da mortalidade, de ter uma essência simples e a busca de pequenos prazeres como as paixões, o cansaço, sentir os sabores e cheiros, ver o mundo através de olhos diferentes, ter uma outra vida. A visão da mulher-anjo flutuando o desperta, faz ele ter desejos mais prementes, sobre sua situação que não mais lhe satisfaz.
Ter incertezas as vezes, é um remédio ativo para nos liberar do fardo da responsabilidade e somente, tão somente a simplicidade e inocência - representadas pelas crianças (as únicas que vêem os anjos) é a saída, a unica forma de suportar o fardo da vida e torna-la mais interessante com cores mais vívidas. Ousar e conseguir dar o passo adiante para livrar-se das correntes, conseguir transpor as barreiras que a vida tediosa e monótona coloca nos tornozelos e pulsos dos que se sujeitam as regras, é um lembrete para que nos rebelemos, e deixemos as armaduras como Damiel quando se liberta do mundo insípido. Sem a armaduras, não tendo mais grilhões e estar a própria sorte, mas com um sentimento de liberdade, com as rédeas da vida nas mãos, o dia ganha novas formas e cores e ele sai do mundo hermético e cinzento, que despedaça os sonhos e chega ao prêmio valioso, que só se da conta da sua magnitude, quando começa a enxergar o mundo em technicolor.
Essa busca o arremessa em um jogo platônico com uma equilibrista de circo, (Solveig Dommartin), que usa asas de penas de galinha. As asas, o símbolo da dualidade entre ela humana e tangível e ela voando nos aros do picadeiro como um serafim, agrupa nela, de alguma forma, algo da essência dele junto com o que ele não tem, nasce dai seu desejo e inveja da mortalidade, de ter uma essência simples e a busca de pequenos prazeres como as paixões, o cansaço, sentir os sabores e cheiros, ver o mundo através de olhos diferentes, ter uma outra vida. A visão da mulher-anjo flutuando o desperta, faz ele ter desejos mais prementes, sobre sua situação que não mais lhe satisfaz.
Ter incertezas as vezes, é um remédio ativo para nos liberar do fardo da responsabilidade e somente, tão somente a simplicidade e inocência - representadas pelas crianças (as únicas que vêem os anjos) é a saída, a unica forma de suportar o fardo da vida e torna-la mais interessante com cores mais vívidas. Ousar e conseguir dar o passo adiante para livrar-se das correntes, conseguir transpor as barreiras que a vida tediosa e monótona coloca nos tornozelos e pulsos dos que se sujeitam as regras, é um lembrete para que nos rebelemos, e deixemos as armaduras como Damiel quando se liberta do mundo insípido. Sem a armaduras, não tendo mais grilhões e estar a própria sorte, mas com um sentimento de liberdade, com as rédeas da vida nas mãos, o dia ganha novas formas e cores e ele sai do mundo hermético e cinzento, que despedaça os sonhos e chega ao prêmio valioso, que só se da conta da sua magnitude, quando começa a enxergar o mundo em technicolor.
p.s. 1 - O filme conta com a atuação primorosa de Bruno Ganz (A queda, os Ultimos Dias de Hitler), e com a ajuda dos textos de Peter Handke, que ajudou Wenders no roteiro original, o filme é essencial em qualquer videoteca.
p. s.2 - Corram da refilmagem, "Cidade dos Anjos", de Brad Silberling com um inexpressivo Nicolas Cage e uma atuação terrível (pra variar) de Meg Ryan. Além de desnecessária, a refilmagem destruiu toda argumentação original do filme, o resultado simplesmente sofrível, eu coloco entre as cinco piores refilmagens de todos os tempos.
p. s.2 - Corram da refilmagem, "Cidade dos Anjos", de Brad Silberling com um inexpressivo Nicolas Cage e uma atuação terrível (pra variar) de Meg Ryan. Além de desnecessária, a refilmagem destruiu toda argumentação original do filme, o resultado simplesmente sofrível, eu coloco entre as cinco piores refilmagens de todos os tempos.
p.s.3 - O título original "Der Himmel über Berlin", que traduzindo seria algo como "O Céu Sobre Berlin", exibido com esse tilulo somente na Alemanha, foi mudado para o equivalente a "Asas do Desejo" para o resto do mundo, o motivo, segundo Wenders , o título, se tornaria muito específico, e dificultaria seu entendimento fora da alemanha .Em minha opinião, com qualquer título, ele conseguiu fazer sua Masterpiece.
p.s. 4 - O filme teve uma continuação totalmente desnecessária e raquítica dirigida pelo prório Wenders, chamada, "Tão Longe Tão Perto" ( Faraway, So Close!), mais um pra lista dos desnecessários do WW.
por Cleiner Miccceno
esse é o poema de peter handke "lied vom kindsein"
Quando a criança era criança,
andava balançando os braços,
desejava que riacho fosse rio e
que rio fosse torrente e
a poça d'agua, o mar!
Quando a criança era criança,
não sabia que era criança,
tudo era cheio de vida e
a vida era uma só!
Quando a criança era criança,
não tinha opinião,
não tinha hábitos,
sentava de pernas cruzadas,
saia correndo,
usava um topetinho e
não fazia caretas pra fotografias!
Quando a criança era criança,
era o tempo destas perguntas:
Porque eu sou eu e não você?
Porque estou aqui e por que não lá?
Quando começou o tempo, e
onde termina o espaço?
Será que a vida sob o sol
nada mais é que um sonho?
Será que o que vejo, escuto e cheiro
não é que é uma miragem do mundo
anterior ao mundo?
Será que o mal existe mesmo e
pessoas realmente más?
Como pode? Eu que sou eu,
não existia antes de existir e
que alguma vez eu,
aquele que sou não serei mais quem sou?
Quando a criança era criança,
refugava espinafre, ervilhas,
pudim de arroz e couve-flor.
Agora come tudo e
não só porque precisa.
Quando a criança era criança,
acordou numa cama estranha, e
hoje em dia sempre
muitas pessoas pareciam bonitas outrora.
Hoje muito raramente.
Só com sorte.
Tinha uma visão precisa do paraíso,
agora só pode adivinhar.
Não conseguia imaginar o nada,
hoje treme ao pensar.
Quando a criança era criança,
jogava com entusiasmo.
Agora só se entusiasma
quando seu trabalho está envolvido.
vivia de maçãs e pão
era suficiente e ainda é assim.
Quando a criança era criança
as framboesas caíam em suas mãos e
ainda é assim.
Nozes deixaram sua língua áspera, e
ainda o fazem.
Chegando ao topo de cada montanha,
queria outra mais alta.
Em cada cidade
procurava outra maior.
E ainda o faz.
Subia nas árvores para colher cerejas.
Era tímido diante de estranhos, e
ainda o é.
Aguardava a primeira neve e
ainda a aguarda da mesma forma.
Quando a criança era criança,
arremessou uma lança de madeira contra uma árvore.
Ainda balança na árvore até hoje.
Peter Handke
Ficha Técnica
Título Original: Der Himmel ünder Berlin
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 130 minutos
Ano de Lançamento (Alemanha): 1987
Estúdio: Argos Films / Road Movies Filmproduktion / Westdeutscher Rundfunk
Distribuição: Orion Classics
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Peter Handke e Wim Wenders
Produção: Anatole Dauman e Wim Wenders
Música: Jürgen Knieper
Fotografia: Henri Alekan
Desenho de Produção: Heidi Lüdi
Figurino: Monika Jacobs
Edição: Peter Przygodda
Elenco
Bruno Ganz (Damiel)
Solveig Dommartin (Marion)
Otto Sander (Cassiel)
Curt Bois (Homer)
Peter Falk (Peter Falk)
Hans Martin Stier (Homem à beira da morte)
Sigurd Rachman (Suicida)
Beatrice Manowski (Prostituta)
Lajos Kovács (Técnico de Marion)
Bruno Rosaz (Palhaço)
Título Original: Der Himmel ünder Berlin
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 130 minutos
Ano de Lançamento (Alemanha): 1987
Estúdio: Argos Films / Road Movies Filmproduktion / Westdeutscher Rundfunk
Distribuição: Orion Classics
Direção: Wim Wenders
Roteiro: Peter Handke e Wim Wenders
Produção: Anatole Dauman e Wim Wenders
Música: Jürgen Knieper
Fotografia: Henri Alekan
Desenho de Produção: Heidi Lüdi
Figurino: Monika Jacobs
Edição: Peter Przygodda
Elenco
Bruno Ganz (Damiel)
Solveig Dommartin (Marion)
Otto Sander (Cassiel)
Curt Bois (Homer)
Peter Falk (Peter Falk)
Hans Martin Stier (Homem à beira da morte)
Sigurd Rachman (Suicida)
Beatrice Manowski (Prostituta)
Lajos Kovács (Técnico de Marion)
Bruno Rosaz (Palhaço)
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