Parte 01 – Trilhos
Quando era jovem apenas pensava em fugir de minha vida, sair
aos largos passos no mundo, correr seus horizontes, suas fronteiras, conhecer
tudo aquilo que se esconde no outro lado da imensidão. Presenciar o raiar do
sol em um dia de montanha, outro no prumo da maré, quiçá de montanha e maré no
mesmo momento, porque não?
Na juventude brincava... Desenhava com os dedos os cumes das montanhas
que queria saltar com minha imaginação ainda perene.
Desse desejo juvenil tornei-me maquinista; maquinista desses que apertava a sirene para
as crianças sonhadoras que passavam
rápido gritando ao redor da locomotiva veloz. Trazia um pouco de som e fúria,
para aqueles, que como eu, um dia correram atrás das vagas de ar deixadas pela
maquinaria de som infernal.
Nesses trilhos fluiu a vida e também a morte
Amigos, amores, anseios, lágrimas e sorrisos...
Continuava cobiçando chegar mais longe,
cruzando cada ponte, poste, morro e
rio... Tudo aquilo que transpusesse meu caminho entre as estrelas que brilhavam
noite adentro, ou o sol brilhante que cegava meus olhos nos dias de verão, ou ainda
a brisa fresca das manhãs invernais... Eu que cortava de levinho a névoa
espessa, passando como faca, sem pedir licença...
Eu tinha muita pressa...