Anno Zero - Desassossego
Sentimentos confusos flutuam em suspensão, vagando pelo
espaço aberto entre o céu e todo abismo de meus pensamentos. Serpentes
rasteiras esgueiram entre meus pés com sua peçonha guardada para momentos como
esse. Indizível como a dor é fugaz e massacrante. Um sonho assustador tão ruim
quanto a vida. Pequenas doses de esquecimento são trotadas goela a baixo, as
veias estufam como cães raivosos, as dores matam mais um pouco de mim.
A atroz arte de se manter vivo poderia ser seguida da
emancipação da consciência, do embrutecimento constante e da ignorância para tudo
que nos cerca, talvez um pouco desse doce alento não seja tão ruim, seria feliz
se tivesse a percepção dos tacanhos.
Café, cigarro, fumaça, pulmões negros, latidos ao longe,
frio, impaciência, anestesia passageira, não estou morto, mas estou sem vida, o
pulso falha, a voz morre na garganta, espasmos musculares, não peço clemência
nem redenção, a dor aguda já se tornou tão constante como um fiel amigo. Na
lama acostuma-se com a imundície e torna-se parte dela.
Sinto uma tempestade que embrutece dentro do quarto frio,
nuvens negras escalam meu leito e empesteiam o ar com uma lembrança fugaz de minha
fraqueza, de meu despreparo , de minha covardia. Como uma doença terminal, os
olhos marejam, expiro o ar gélido com um resmungo abafado.
Lembro-me dos dias melhores, da inocência perdida, dos meus
desamparos pueris, de quando tudo era mais fácil; ou menos complicado. Agora
sobrou só a noite, grave, sem lua, no coração de uma tempestade...
Porque será que as pessoas que têm tudo* para viver contentes "disparam" aquilo que eu resumo assim: Tudo que começa e acaba em mim agrada-me menos a VIDA.
ResponderExcluirTudo= ser proprietário dum cérebro a funcionar como deve.
é o grande paradoxo da vida , infelizmente
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