quinta-feira, 28 de maio de 2009
Encarnação do Demônio
Pasolini? Buñuel? Jodorowsky? Não José Mojica Marins!
Estava eu aguardando o lançamento desse filme desde que começou a circular na Internet o trailer da mais nova obra do sr Mojica, onde ele retorna a seu personagem que o consagrou, Zé do Caixão.
Essa é a terceira parte de uma saga que começou nos anos 60 que devido a problemas com censura. Nos anos de chumbo o filme nunca conseguiu apoio na época e mesmo se tivesse conseguido teria sido mutilado, afinal a tesoura da censura tinha fome de José Mojica Marins, que foi um dos cineastas que mais sofreram com a repressão política e cultural que assolava o Brasil e os mentecaptos que eram colocados na cadeira de controle das Diversões Públicas, sempre viam em Mojica um degenerado, uma pessoa que era perigosa com seus filmes recheados de sangue.. Com essas atitudes quase jogaram Mojica no ostracismo, mas ele insolente a todas as adversidades que se interpunham entre ele e seu trabalho, nunca parou, se sujeitou quase a fome e a miséria por sua arte.
Sempre teve a seu lado cineastas que viam nele um gênio, um cineasta visceral, maldito, as vezes grosseiro mas dono de uma estética impressionantemente forte, de deixar os cabelos arrepiados dos que achavam que faziam um cinema engajado, seminal e agressivo as imagens fortes impressionaram cineastas como Rogério Sganzerla, Carlos Reichenbach, e Luis Sérgio Person assim como Glauber Rocha que conseguiram entender que Mojica era uma força que não se via nem nas mais aterradoras obras de Luis Buñuel . Sua visceralidade fluía naturalmente , mesmo sem a instrução formal de cinema , mojica nos grandes filmes "à meia noite levarei sua alma " e " esta noite encarnarei em teu cadáver" conseguiu levar as telas seus piores pesadelos, cenas impressionantes perturbadoras e nunca antes tentadas por ninguém .
Mas mesmo com essas qualidades e com sua criatividade de conseguir fazer filmes impressionantes com baixíssimos orçamentos, Mojica só conseguiu mesmo perseguição ao seu trabalho, e depois de muitos anos trabalhando em obras alheias, fazendo esporadicamente seus filmes com orçamentos cada vez mais apertados e com a censura cada vez mais recrudescida quando se tratava de seu nome, seu sonho de fazer o seu filme mais desejado ficava cada vez mais distante.
Muito tempo depois quase 40 anos se passam, quando Mojica consegue finalmente fazer aquele que é seu filme mais caro e mais bem produzido, mesmo assim mantendo sua marca calcada na visceralidade, seu empenho em ir alem de onde qualquer outro já foi, ousar sem pudores, ir onde os anêmicos diretores de cinema de terror atuais nunca sonharam, acabando com a pasmaceira, com imagens aterradoras de pessoas crucificadas sendo comidas vivas, bocas sendo costuradas, suspensões por ganchos (sempre reais), uma ode ao mau gosto mas poético como um filme de jodorowsky, com uma menina saindo e dentro de um porco ou outra sendo mergulhada em um tonel de vísceras, escatologia a moda de Pasolini? Não de José mojica Marins que faz os olhos desviarem de cenas fortes, mas seduzem pela riqueza de cores de texturas, um poeta das vísceras, uma fotografia primorosa, como nunca, a força das imagens brotam em cada plano atravessam a tela, Mojica consegue atingir, consegue incomodar, não deixa ninguém passivo e isso sim é um feito. A saga de Zé do caixão a procura de seu filho perfeito e sua mulher superior faz o filme ser difícil de classificar não é só um filme de terror, é um filme niilista, cáustico, surrealista, feito nas entranhas de são Paulo, por um cineasta que mostra que como seu personagem, esta vivo e voltou triunfante.
O vigor com que Mojica capta suas imagens são de dar inveja aos cineastas que se dizem modernos, uma orgia aos olhos e digo mais, Mojica mereceu esse filme que esta a sua altura é o mínimo que o Brasil deve a esse grande cineasta marginalizado que agora mostra uma obra forte, digna dos grandes mestres e a história esta se redimindo com esse homem, que por ser incompreendido quase foi relegado ao esquecimento, mas agora ele volta com força e pronto pra incomodar os olhos os estômagos e os moralismos dos incautos.
No final o filme é dedicado a Rogério Sganzerla, morto em 2004, que foi um grande apoiador de mojica desde o começo, que também teve problemas pra lançar seu ultimo filme "o signo do caos".
Mojica se Sganzerla estivesse vivo estaria aplaudindo na primeira fila e gritando quem tiver de sapato não sobra.
Cleiner micceno AKA reverend stalker.
PS: Jairo Ferreira fez um documentario chamado "Horror Palace Hotel" que é sobre o Mojica e também é homenageado no final do filme.
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allefuckinglluiah