quarta-feira, 7 de junho de 2017

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As ruas estão em chamas
Gasolina e querosene queimando
A fumaça levita seu fumo negro
Para os arranha-céus oblíquos
Grandes bocas soturnas
Devoram as pessoas, os passos e as passagens
Becos, lixo, escuridão
Dentes afiados, espectros medonhos
Brilham nas sombras , auscultam as almas
Poças negras, sangue velho
Jornais com más noticias
Uma mulher sem dentes vestida com uma bandeira
Um desfile junto às chamas
Uma dança ao redor da fumaça
Carros, prédios, escapamentos, fome
Movimento indiferente ao fogo e a fumaça
Lamaçal de piche
Cães latem na rua central
Os uivos são prenúncios da morte
Os ganidos prenunciam o embate das almas
Crianças seguram armas
Os esgotos transbordam
Merda e sangue se misturam a fumaça
A imundície sobe aos prédios
As grandes bocas vomitam sujeira
Asas cobrem a cidade
Gritos são encobertos pelo som das engrenagens
Moem-se corpos, ossos e palavras
Está na hora da colheita
Cabeças empilhadas, imagens de néon piscam incessantes.
Anúncios de promoções derretem nas vitrines
A insânia toma conta das ruas
Em gradativa dissolução
O mundo está em colapso
Os relógios param à zero hora
O mundo está atrasado
Um silvo alto e profundo toca na escuridão
Orelhas sangram, olhos sangram, as almas morrem uma vez mais
O fulgor da combustão não esmaece
O poder das chamas e da fumaça encobre o ar com putrefação e fuligem
Gargantas são destroçadas
Tudo é inútil
A polícia, a politica, as religiões, os pregadores de esquina
Todos são inúteis pesos mortos
Corrosão é a palavra de ordem
Vozes roucas regurgitam fumaça
Os dentes estalam nas bocas
Crânios chocam-se no concreto
Ossos estalam, quebram, dissolvem
O caos é apenas uma palavra
Papéis voam
Em chamas
Neles apenas palavras sem sentido
E entre as cinzas
Escorrem os últimos lapsos de sanidade
A hecatombe toda será fantástica
E dos escombros nascerá
Uma flor
Radiativa

Cleiner Micceno 8/06/2017 as 00:00

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