sexta-feira, 11 de maio de 2012

Anno Zero - Desassossego


Anno Zero - Desassossego

Sentimentos confusos flutuam em suspensão, vagando pelo espaço aberto entre o céu e todo abismo de meus pensamentos. Serpentes rasteiras esgueiram entre meus pés com sua peçonha guardada para momentos como esse. Indizível como a dor é fugaz e massacrante. Um sonho assustador tão ruim quanto a vida. Pequenas doses de esquecimento são trotadas goela a baixo, as veias estufam como cães raivosos, as dores matam mais um pouco de mim.
A atroz arte de se manter vivo poderia ser seguida da emancipação da consciência, do embrutecimento constante e da ignorância para tudo que nos cerca, talvez um pouco desse doce alento não seja tão ruim, seria feliz se tivesse a percepção dos tacanhos.
Café, cigarro, fumaça, pulmões negros, latidos ao longe, frio, impaciência, anestesia passageira, não estou morto, mas estou sem vida, o pulso falha, a voz morre na garganta, espasmos musculares, não peço clemência nem redenção, a dor aguda já se tornou tão constante como um fiel amigo. Na lama acostuma-se com a imundície e torna-se parte dela.
Sinto uma tempestade que embrutece dentro do quarto frio, nuvens negras escalam meu leito e empesteiam o ar com uma lembrança fugaz de minha fraqueza, de meu despreparo , de minha covardia. Como uma doença terminal, os olhos marejam, expiro o ar gélido com um resmungo abafado.
Lembro-me dos dias melhores, da inocência perdida, dos meus desamparos pueris, de quando tudo era mais fácil; ou menos complicado. Agora sobrou só a noite, grave, sem lua, no coração de uma tempestade...