segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Urros de um cão


Parte 1 - Litígio – excomunhão do pó de uma vida
Agradeço a todos meus inimigos por suas palavras vis
Agradeço a todas as pessoas que em um clamor me fizeram odiá-las
Agradeço todos os crentes por suas mentiras, e sua hipocrisia.
Agradeço aos idiotas por ter-me feito me sentir menos fútil e imbecil.
Agradeço a Deus pelo jugo social e dogmático da escória que o cerca
Agradeço a todas as bestas  por seu urro e persistência em estar vivos, com toda selvageria que os abraçam e o deitam nessa terra miserável .
Agradeço aos farrapos que circulam pela urbe suja, latindo seus infortúnios noite adentro.

Parte 2 – anátema - balanço da natureza
 A batalha lá fora urge em um brado doentio.
O sangue regurgita do esgoto, o fumo sobe negro pela garganta da cidade.
Desprezo os que me foram indiferentes e rio dos que se esforçaram para não sê-lo... Em vão...
Em cada contraponto de meus passos sorrio vertiginosamente para o abismo de minha alma.
Contabilizo minhas obras insatisfatórias. Multiplico minhas más ações e perfídias, divido por minha ignorância e somo minha vileza e subtraio minha mesquinhez.  Chego ao cálculo de uma vida desperdiçada.
Uma gargalhada escarnada, uma caveira mostra seus dentes forjados com ferro e sangue.
Carcaças, lixo e sujeira, um corpo indolente é o que me resta, ao nada voltarei assim como sempre o fui.

 Parte 3 – farsa – o resumo de uma alma combalida
Sinto-me cansado, dormente, a morte traz sua sombra nefasta.
O peso da vida é insustentável, as palavras são precárias e a voz é rouca e cansada.
O cabelo cai na testa, é agora ralo e educado, a pele seca cobre os ossos, que estalam.
Revolto está meu coração, blindado com aço e enxofre.
O aspecto enfermo, como lume doente, extinguindo-se.

Parte 4 – final - a morte cansada
Devoro restos de palavras, digiro textos rudes, engulo blasfêmias, vomito poemas sujos.
Minha herança maldita em palavras imundas,
Corrosão, pequenas gotas ácidas, alma em pedaços, estilhaços imprestáveis.
Galope soturno, um espectro vestido em cetim negro traz um vento gelado.
Um sorriso inocente flui em meu rosto, o tempo é breve a eternidade muito longa.
O precipício se aproxima...  Eu vejo a escuridão... E ela devora meus passos. 

por cleiner micceno


Um comentário:

allefuckinglluiah