sábado, 11 de setembro de 2010

moscas de bar e cães de rua - um conto etílico

Dedicado a Charles Bukowski



Me vê mais uma dose ai Henry – eu disse em voz alta –

Você já bebeu demais George, vou te servir mais e uma e você vai para casa.

Maldito seja Chinaski, eu que sei quando bebi demais.

Não encha o saco George, senão te enfio um murro nessa cara inchada e te jogo fora mais rápido que de costume... se você quiser beber mais vá a outro bar que esse aqui já está fechando. Tome aqui a última dose, depois disso rua. E aproveite que estou contente hoje e isso é raro...

 Tudo bem boneca, você esta ficando muito chato depois que entrou naquela merda de AA, nem parece o velho Henry Chinaski que fechava o bar quando o sol já estava batendo na janela do corredor.

Cala a boca George, já falou demais para um cara de seu tamanho.

Resolvi fechar minha boca, afinal ele era maior que eu , fui importunar Jim cara de toupeira, que estava na mesma situação.

Como vai Jim – disse em tom de festa para o velho Jim, ele estava com uma camisa vermelha desbotada e um chapéu branco que ficava ajeitando na cabeça magra incessantemente, que aumentava ainda mais seu nariz pontudo de fuinha, ele já estava com a cara derretida de tanta bebida
Como vai Georgie boy, importunando o velho Chinaski? Cuidado que ele tem uma direita bem dolorida. – Chinaski olhou para nós dois e mostrou os punhos com uma cara engraçada, em posição de boxeador, catou um limão na pia, próximo aos copos e jogou com força na cabeça de Jim arrancando seu chapéu branco ridículo que dançava em sua cabeça.

Maldito seja Henry, esse chapéu me custou três pratas e uma garrafa de vinho...

Chinaski olhou com cara de pastel e disse – Vá se foder Jim, todo mundo sabe que você roubou isso do velho Turkey John, quando ele dormia na frente da praça, e depois ficou com remorso e deu meia dose de vinho para o pobre diabo – Disse isso e se curvou para lavar os copos sujos de bebida e com tocos de cigarro dentro.



Jim só resmungou algo e baixou pegar o maldito chapéu, parecia um dos cafetões da Rua 8. Cheguei de seu lado e sentei no banco junto a sua mesa.

Hey Jim como você consegue usar essa merda ai na cabeça sem espantar as velhinhas na rua?

Você também Georgie boy? Esse chapéu me dá um certo estilo, veja como fica bem em mim. E fez uma pose que o deixava ainda mais patético que de costume.

Claro Jim, te deixa com estilo bem peculiar, parece uma toupeira entrando na toca... Eu disse imitando uma toupeira chafurdando um buraco.

Cala a boca Georgie boy.

Odeio quando você me chama de Georgie , nem minha Mãe me chama assim

E você lá tem Mãe Georgie, você como eu é filho de chocadeira.

Eu tenho mãe sim seu puto, só não a vejo há alguns anos, ela já deve ter desistido de mim, só a via para pedir grana, eu parei de vê-la assim que ela parou de me dar as verdinhas.



Você é um grande filho Georgie, um grande filho da puta ...

Bem falemos menos de mães, quem era aquela loira de bunda grande que você estava esses dias ai Jim? Parecia ter um belo traseiro que rebolava para todo lado.

Era minha prima seu escroto, veio me visitar ver se eu ainda estava vivo.

Bem ela encontrou um cadáver com um chapéu bonito pelo menos – falei com um sorriso sacana nos lábios e completei – E prima não é irmã Jim, eu teria aproveitado. Mas se você é filho de chocadeira como é que tem primas? Nasceram todas da mesma ninhada? Fiz uma careta e entornei meu copo em uma virada.

Não, ela é do tipo religioso, adora bíblia, esses lances do cara pendurado na cruz, essas coisas, não faz meu tipo.

E você lá tem tipo Jim, saiu até com a Jane, aquela vadia que não toma banho há anos...

Eu era jovem precisava do dinheiro...

Faz menos de uma semana porra!

Eu e ele caímos na gargalhada, quando o puto do Chinaski já começou a berrar lá do balcão.

Vamos lá seus inúteis já estou fechando isso aqui, terminem suas bebidas que preciso ir embora, não aguento mais ouvir essas merdas de vocês dois, se ambos são vagabundos eu não sou; e tenho que dormir...

Eu olhei com cara de tédio e disse para o idiota

Henry pare de falar merda, até um mês atrás você bebia mais que nós dois juntos, era um traste, e ainda por cima enchia de porrada a Mary que te aturou até morrer, foi preciso ela bater com as dez para você ficar com essa merda ai de vigia do álcool alheio... Não consegui terminar minha frase e vi aquele monstrengo pular o balcão. Eu estava bêbado demais para reagir, o ódio estava estampado nos seus olhos. Ele me pegou pelo pescoço e com uma mão de britadeira desferiu um soco bem no meio de meu nariz, maldito era valente e tinha força.
Seu filho da puta, da próxima vez que você falar o nome da Mary aqui de novo te mando para o necrotério. Lave essa boca de dentes podres para falar dela, ela não era dessas vagabundas que andam com gente de sua laia...

Eu estava bêbado demais e anestesiado demais para calar a boca e já emendei.

Ela era do tipo que andava com caras finos como você né Henry?

Senti um murro no estômago e mais um no meu queixo, cai umas duas fileiras longe de onde ele estava, senti gosto de sangue e vômito. Jim pulou na frente de Henry e tentou colocar panos quentes na situação.

Henry ele está muito bêbado não sabe o que fala, nós já vamos embora, eu o levo embora, senão você vai acabar matando esse puto, ele não aguenta nem um sopro...

Tudo bem Jim, leva ele embora. – Ele saiu já ia chegando no balcão quando se virou e disse com a voz mais calma do mundo

George, se você pisar aqui de novo juro que te mato.

Jim estava me ajudando levantar, depois do atropelamento que tinha acontecido, eu nem olhei para o lado de Henry, só queria sair dali enquanto ainda estava inteiro.

Eu ia apoiado em Jim, ganhamos a rua, sentamos na beira da calçada, já era muito tarde, olhei para sua cara de fuinha amassada e disse

É esse puto do Chinaski me pegou de jeito, sempre esqueço que ele foi peso pena antes de começar a beber.

Você não tinha que ter falado nada da Mary, Georgie...

Não me chama de Georgie porra, é humilhação demais por um dia

Ah esqueça isso será que achamos mais algum bar aberto? Perguntou Jim.

Sei lá, mas preciso de uma merda de uma dose, ou uma dúzia delas, já nem sei mais, tá tudo doendo.

Enquanto eu reclamava da vida Jim ajeitava pela milésima vez aquele chapéu ridículo.

Bem que hoje eu poderia encontrar a Jane, ela sempre tem uma garrafa na casa dela...

Bem vamos atrás dela, você fica com ela e eu com a garrafa...

Cala a boca Georgie, por que eu tenho que ficar com a pior parte?

Nem esquenta Jim, você ainda é jovem, e eu estou sem possibilidades de qualquer coisa que não seja uma garrafa, vamos me ajude a levantar.

Enquanto me levantava comecei a sentir todo meu corpo doendo, como aquele filho da puta batia forte, acho que tinha amolecido meus dentes.

Vamos Jim, a Jane nos espera.

Será que ela vai gostar de meu chapéu Georgie?

Ela deve gostar, te dá um certo estilo, mas para de me chamar de Georgie.

Apoiei-me em Jim e fomos em direção à rua da Jane, Jim me perguntou:

E ai onde você vai beber agora ?

Ah logo passa a raiva do velho Henry, e ele não vai ligar em me servir algumas doses.

E se ele envenenar sua bebida?

Ah, eu morreria feliz com uma dose mais forte que eu.

Descemos a rua, a luz da casa da Jane estava acesa e uma janela displicentemente aberta, pelo cheiro que emanava de dentro da casa, ela ainda não havia tomado banho. Era um ótimo final de noite para mim, mas não muito para Jim e seu chapéu ridículo.

Escrito por Cleiner Micceno

2 comentários:

  1. Muito bom, apesar da estrutura precária e confusa.

    Me senti realmente lendo um conto do Velho Safado.

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  2. hauahaau valeu, pra ser sincero esse conto a estrutura foi propositalmente feita assim, extamente para evocar alguns contos do buko, que ele fazia isso algumas vezes em alguns contos esparsos e eu quis fazer uma espécie de homenagem desde os personagens , algumas ciytações e a estrutura, foi um lance no minimo divertido hehe abrss

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allefuckinglluiah